Trinta anos depois, material genético de menino desaparecido no Paraná é identificado

O secretário estadual de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, anunciou na tarde desta sexta-feira (10) que foi identificado o corpo do menino Leandro Bossi, desaparecido em Guaratuba em fevereiro de 1992, quando tinha 7 anos. O anúncio foi feito em uma entrevista coletiva na sede da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SESP).

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Leandro Bossi sumiu dois meses antes de Evandro Ramos Caetano, cujo desaparecimento levou às investigações que ficaram conhecidas como o “Caso Evandro”. O paradeiro do menino era considerado desconhecido até o anúncio feito por Mesquita, e o Serviço de Pessoas Desaparecidas da SESP tinha até feito uma reconstituição sobre como estaria o rosto do menino atualmente.

De acordo com o secretário, programas implementados pelos governos federal e estadual permitiram a coleta de material genético de familiares de pessoas desaparecidas. O cruzamento desses dados possibilitou a identificação de uma ossada como sendo a de Leandro Bossi. A SESP foi procurada pela reportagem, mas não informou quando foram concluídos os trabalhos de identificação das amostras.

“É um trabalho que tem avançado com mais celeridade nos últimos anos. A integração das forças de segurança e o trabalho em parceria com a União, além dos avanços tecnológicos, estão ajudando o Estado a responder casos complexos e que demandavam resposta”, afirmou o secretário.

Local de coleta das amostras de Leandro consta em inquérito arquivado

Questionado, Mesquita não soube precisar onde foram coletados os materiais genéticos identificados como sendo de Leandro Bossi. “A Polícia Civil está, neste momento, solicitando uma cópia do inquérito de 30 anos atrás. A informação que nós temos é que ele está arquivado pelo Ministério Público de Guaratuba. Onde ela [a amostra] foi coletada é um Auto de Arrecadação feito naquele inquérito. Essa arrecadação foi feita dentro do inquérito do homicídio, há 30 anos atrás. Eu não tenho como adiantar uma informação que consta em um inquérito de 30 anos atrás. Essas informações vão estar naquele inquérito, arquivado pelo Ministério Público”, apontou o secretário.

Apesar de o menino agora não ser mais tratado como desaparecido, Mesquita confirmou que as investigações sobre o crime continuam. “Nosso objetivo é pela verdade real. Com certeza, esse resultado de hoje trará algum impacto nas investigações do homicídio. Por certo, a gente vai ter que analisar o inquérito e ver de que forma essa experiência positiva de hoje impacta na investigação da morte”, completou.

Relação entre os crimes de Leandro e Evandro nunca foi evidenciada pela Polícia

Leandro Bossi morava em Guaratuba quando foi visto pela última vez. De acordo com o Sistema de Pessoas Desaparecidas da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Paraná, ele tinha 7 anos quando desapareceu, em 15 de fevereiro de 1992. Leandro, assim como Evandro Ramos Caetano, era loiro e tinha olhos claros. As idades deles eram próximas, assim como a data de desaparecimento – Evandro foi levado em 6 de abril daquele ano.

Os pais de Leandro haviam se separado à época do desaparecimento do filho. A mãe, Paulina Bossi, trabalhava como camareira em um hotel da cidade, junto com outro filho do casal, Ademir Bossi, irmão de Leandro, à época com 15 anos. O pai, João Bossi, era pescador.

No dia do desaparecimento, crianças relataram terem visto Leandro em uma apresentação musical que ocorria em Guaratuba. O pai dele estava pescando em alto-mar naquele dia. O caso passou praticamente despercebido pela imprensa do estado. O sumiço do menino só veio à tona quando os acusados no caso Evandro foram presos, e apesar de as semelhanças entre as vítimas terem sido evidenciadas, nunca houve a comprovação de que ambos os casos tivessem alguma ligação.

Menino de Manaus chegou a ser identificado como Leandro Bossi

Quatro anos depois do desaparecimento, o pai de Leandro esteve em Manaus onde teria identificado uma criança que poderia ser seu filho. O garoto, então com 10 anos, foi levado por João Bossi para Curitiba em 16 de agosto de 1996 acompanhado da Polícia Militar do Paraná e sob autorização da Vara da Infância e Juventude de Manaus.

Exames de sangue realizados com amostras dos pais de Leandro e do menino, que na verdade se chamava Diogo Rodrigo Moreira, comprovaram não haver traços de paternidade entre eles. A mãe de Diogo, Ângela Regina Moreira, disse à Folha de S. Paulo que ficou sabendo que o filho tinha vindo para o Paraná com a ajuda de um detetive que naquele ano era presidente do Interbureau (Bureau Internacional de Buscas a Crianças Desaparecidas). “A polícia e a Justiça de Manaus foram muito precipitadas. Não tenho TV e moro no meio da selva. Fiquei chocada quando soube, porque havia deixado o menino com o pai”, revelou a cozinheira, à época.