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Destaque do cartaz do documentário “O Legado do Pirata Zulmiro”.
Destaque do cartaz do documentário “O Legado do Pirata Zulmiro”.| Foto: Reprodução

O lançamento do documentário “O Legado do Pirata Zulmiro”, feito na Cinemateca de Curitiba na última semana, é mais um passo dado pelo pesquisador Marcos Juliano Ofenbock no sentido de fazer com que a maior das lendas urbanas da capital passe finalmente para o campo da realidade. Baseado no livro “A Verdadeira Ilha do Tesouro: As Crônicas do Pirata Zulmiro”, de autoria de Ofenbock, o filme dirigido pelo curitibano Estevan Silveira traz registros históricos da época em que o último dos grandes piratas do mundo escondeu seu tesouro em uma ilha deserta e veio parar no Pilarzinho, onde morou até seus últimos dias.

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A história do Pirata Zulmiro já foi contada pela Gazeta do Povo em reportagem de 2018. Um ano depois, o trabalho do escritor foi reconhecido pela Prefeitura de Curitiba, que fez com que as lendas do velho do mar passassem a fazer parte da história da cidade.

Com a alegria e a empolgação de um menino que ajudou a tornar uma de suas histórias preferidas da infância em realidade, Ofenbock contou à reportagem, em entrevista por telefone, quais os planos que o futuro reserva para o Pirata Zulmiro.

O primeiro deles é levar o velho inglês de volta à sua terra natal. O documentário, de 53 minutos de duração, será exibido em maio no Consulado Geral do Reino Unido, em São Paulo, e deve virar objeto de uma grande reportagem da BBC, a rede estatal de mídia britânica.

O segundo, revela o autor, é tentar, mais uma vez, desenterrar o tesouro das entranhas da Ilha da Trindade, uma formação rochosa vulcânica distante cerca de 1,2 mil quilômetros da costa do Espírito Santo. No local hoje há uma base da Marinha Brasileira e um centro de pesquisas. Em troca do direito de explorar a ilha, Ofenbock pretende revitalizar as instalações na Trindade.

“São cerca de 40 marinheiros e uma base de pesquisa, mas a estrutura lá é um tanto rudimentar. Nosso objetivo é oferecer uma estação de pesquisa completa para a Marinha, com acesso rápido à internet e painéis solares. Todos esses equipamentos terão que ser levados de navios e helicópteros. A contrapartida que nós vamos pedir é fazer um trabalho de escaneamento de toda a ilha e, ao encontrar os tesouros, levar todas as descobertas para museus”, contou o pesquisador.

A tarefa de encontrar o tesouro é árdua, e foram muitos aqueles a tentar e desistir desta empreitada. Mesmo assim, o pesquisador não desanima. “A última expedição brasileira ao local foi feita em 1911, e a tecnologia da época era muito diferente da que temos agora. Eles tinham pás e picaretas, e agora é possível fazer como um raio-x da ilha toda, ter imagens detalhadas do interior das grutas e cavernas que foram cobertas por um deslizamento de milhares de toneladas de pedras que apagaram as marcações que havia nos mapas”, disse.

Tesouro enterrado pode valer bilhões

Em suas anotações, o Pirata Zulmiro deixou um roteiro completo sobre como chegar aos dois locais onde há pedras preciosas, ouro em pó e esculpido em obras de arte, barras de prata e outras riquezas de valor incalculável. Bem, incalculável em termos, porque nos escritos de Zulmiro há a referência de que o total de bens enterrados na Ilha da Trindade chegaria a 8 milhões de libras, em valores da época.

“Isso em 14 de maio em 1880. Se nós pegarmos a calculadora do Banco da Inglaterra e atualizarmos o valor, dá mais de um bilhão de libras em valores de 2021. Isso dá US$ 1,350 bilhão. Convertendo, temos lá enterrado um tesouro estimado em cerca de R$ 6,8 bilhões. Isso fora o valor artístico dessas obras. Este pode ser o maior dos tesouros piratas do mundo, de um bando cujo líder veio morar aqui em Curitiba”, ressaltou o pesquisador, que garantiu que assim como seu ídolo nos filmes, o arqueólogo e aventureiro Indiana Jones, vai direcionar cada uma das peças do tesouro para os museus.

Videogame promete levar jogadores para a verdadeira ilha do tesouro

Falando em cifras, a futura expedição para a Ilha da Trindade tem uma meta: arrecadar algumas centenas de milhões de reais para viabilizar tanto a atualização nas instalações da Marinha como para levar todo o aparato da escavação até o local. Uma das iniciativas, contou o pesquisador, será por meio de um videogame.

A sócia de Ofenbock na empresa dona da marca “Pirata Zulmiro” no Brasil viajou até o Vale do Silício em 2021 para apresentar a ideia do jogo, que vai contar toda a história do pirata inglês que morou em Curitiba. O jogo, revelou o pesquisador, será – assim como o documentário – baseado nas pesquisas sobre Zulmiro, e deverá contar com fases ambientadas na Curitiba dos anos 1880.

“Foi nessa época que o inglês Edward Young conhece o Pirata Zulmiro. Young veio ao Paraná para trabalhar nas lavouras de erva-mate, então vamos ter desde a Estrada da Graciosa até o Porto de Paranaguá, que é por onde era escoada na época a produção de erva-mate do Paraná, até o centro histórico de Curitiba. Vamos conseguir mapear e renderizar as ruas como elas eram, os casarões, tudo. Será possível andar virtualmente pela cidade até encontrar o Zulmiro no Pilarzinho”, contou.

Como recompensa final, o jogo também vai permitir que alguns jogadores de muita sorte participem da expedição à Ilha da Trindade. A solução para escolher os vencedores faz referência a outro filme que fez parte da infância de Ofenbock: “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.

“Ao final, quem ‘zerar’ o jogo vai destravar o modo ‘Caça ao Tesouro’. Nós vamos esconder cinco bilhetes dourados no jogo, como os ‘Golden Tickets’ de Willy Wonka. Quem encontrar esses bilhetes vai poder embarcar com a gente na expedição para a Ilha da Trindade em 2026. É um projeto audacioso, mas o retorno que nós tivemos da produtora para essa ideia foi fantástico”, comemorou.

Pirata Zulmiro teria inspirado outras histórias ao longo do tempo

O pesquisador contou que recebe mensagens de leitores de várias idades encantados com a história do Pirata Zulmiro. E, para Ofenbock, a lenda do pirata de Curitiba pode – “sem medo de parecer algo de um realismo fantástico”, aponta o autor – ter sido a “história-mãe” de alguns dos mais famosos contos de corsários e bucaneiros.

Em sua pesquisa, Ofencobk encontrou referências que apontavam para o fato de que uma das maiores partes do tesouro de Zulmiro foi saqueado de um navio de espanhóis expulsos de Lima após a libertação dos peruanos pelo general argentino José de San Martín. Em sua velhice, o general teria se mudado para Paris ficado amigo de amigos de Alexandre Dumas.

Ao escritor, teria então contado a história de um navio pirata que havia saqueado muito ouro e escondido o butim em uma ilha deserta no meio do oceano. A lenda, explica o autor, teria sido o ponto de partida para uma das obras mais famosas de Dumas, “O Conde de Monte Cristo”, um clássico das histórias de piratas na literatura ocidental.

Ofenbock listou ainda dois outros exemplos da suposta influência de Zulmiro sobre os escritores de contos do mar. “O livro ‘A Ilha do Tesouro’, de Robert Louis Stevenson, é a primeira obra a fazer menção a um mapa de piratas com um X marcando o tesouro em 1883. Esse mapa estava sob a guarda de um pirata com uma grande cicatriz no olho, à beira da morte. É exatamente o que aconteceu na Índia, onde morreu o pirata Zarolho, o pirata russo com uma cicatriz no olho que fazia parte do bando de Zulmiro junto com José Sancho. O Capitão Gancho, criado por Sir James Matthew Barrie no início dos anos 1900 e imortalizado como personagem da Disney nas histórias de Peter Pan, tinha uma origem nobre e segundo o autor havia estudado em Eton College, na Inglaterra. O lugar é o mesmo onde estudaram os príncipes Harry e William, herdeiros da família real britânica, além de John Francis Hodder, o nome inglês do Pirata Zulmiro”, citou.

Curitiba pode ser reconhecida como a cidade do último pirata

Por fim, o autor compara a cidade de Curitiba com a alemã Hamelin, onde, segundo o antigo conto dos Irmãos Grimm, um flautista encantado teria livrado a cidade de uma infestação de ratos. Ao não ser pago pelo rei pela tarefa cumprida, o flautista teria então tirado as crianças da cidade com o som de sua flauta mágica.

“Hoje o flautista faz parte do coração de Hamelin, e muitas pessoas que viajam à Alemanha vão até a cidade só para fazer passeios guiados e ter contato com essa história. Eu ouso dizer que se o Zulmiro crescer como a história do flautista de Hamelin foi para a cidade alemã, Curitiba pode passar a ser mundialmente conhecida pela história desse que é o último grande pirata do mundo. O maior tesouro, o que é mais valioso disso tudo, é esse resgate histórico que está sendo feito dessa que era a maior lenda urbana de Curitiba e que agora avança para o campo da realidade”, concluiu.

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