Em 27 de novembro de 2021 as cancelas de pedágio das rodovias do Anel de Integração do Paraná foram erguidas e, desde então, ninguém mais paga pedágio para viajar pelo estado. A nova licitação segue sem previsão de realização pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e, neste período de mais de um ano, as rodovias ficaram sem a administração das concessionárias privadas, tendo todo o trabalho de conservação, manutenção, recuperação, sinalização e socorro médico e mecânico absorvido pelo poder público.
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A reportagem da Gazeta do Povo percorreu um dos principais corredores dos trechos rodoviários em questão: entre Foz do Iguaçu, no oeste do Estado, e Paranaguá, no litoral, onde está localizado o segundo maior porto do Brasil, para levantar as condições das rodovias após o fim dos contratos de concessão.
A expedição verificou como estão as estruturas das antigas praças, os SAUs (Serviços de Atendimento aos Usuários), que antes funcionavam como apoio aos viajantes, como está a prestação de serviço para o socorro em casos de problemas mecânicos, acidentes ou incidentes nas rodovias e como as rodovias vêm sendo administradas pelo Governo do Estado, a partir do DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem), e do governo federal, pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
Segundo o governo estadual, ao longo do ano foram investidos R$ 922 milhões (R$ 300 milhões a mais do que o valor total para o setor nos 12 meses anteriores) em conservação e serviços de tráfego, o que inclui serviços rotineiros na malha rodoviária estadual para segurança, conforto e trafegabilidade. O governo Ratinho Junior destaca ainda, em publicação no órgão oficial de divulgações do Executivo estadual, que mantém contratos firmados de dois anos para todas as rodovias que antes eram pedagiadas, o que garante a manutenção das mesmas pelo menos até dezembro de 2023.
Abaixo, o relato de como está um dos principais trechos rodoviários agora não pedagiados, feito por quem percorreu o trajeto.
Primeiro impacto
Mais de um ano após o fim dos contratos de concessão e com cancelas erguidas, há o reconhecimento, tanto de quem trabalha e vive do trecho indo e vindo quanto de quem passa por ele vez ou outra, que a BR-277 está menos degradada do que se imaginava.
De cara foi possível fazer uma importante constatação: não há grandes deformidades nem buracos em todo o percurso, apesar do tráfego constante de veículos de carga. O problema mais latente continua sendo o das obras não realizadas durante a concessão, como duplicações, a falta de viadutos, de trincheiras, de terceiras faixas e de vias marginais.
A sinalização vertical e horizontal no trecho entre Foz do Iguaçu a Curitiba se mostra eficiente e em diversos pontos a reportagem encontrou veículos do Dnit e do DER-PR circulando ou prestando atendimentos. Nos dias de viagem a reportagem não se deparou com acidentes.
As margens da rodovia em todo o trajeto estão roçadas. Em muitos locais há sinais na pista indicando que o asfalto passou por reparos recentes. Esse serviço vem sendo feito pelo Estado, que realizou uma licitação para um programa de obras, conservação, segurança e prestação de socorro. Segundo o governo estadual, são R$ 222,4 milhões para esses serviços especificamente para a malha viária que foi pedagiada no Paraná. Esses recursos são para ações até o fim de 2023 – os novos contratos de concessão ainda não foram licitados – e até o mês passado cerca de 40% deste montante já haviam sido aplicados.
Trafegabilidade e deficiências
O ponto de partida da expedição foi o km 732, em Foz do Iguaçu, em cima da Ponte Internacional da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai e é considerada a fronteira mais movimentada do país, com a passagem diária de 41 mil veículos e 81 mil pessoas.
Apesar do trecho duplicado da rodovia no perímetro urbano de Foz do Iguaçu, desde a chegada ao município até a cabeceira da ponte, a rodovia não comporta mais o fluxo diário. Por volta do meio-dia de 4 de dezembro de 2022, a fila para chegar à Ponte da Amizade e entrar no Paraguai era de três quilômetros. Na ponte onde a BR-277 acaba, não há duplicação. Conforme o fluxo é mais intenso, abrem-se duas pistas para ir e vir. Enquanto isso, o sentido contrário com menor movimento é mantido em apenas uma faixa de rolamento.
Em Foz, a expedição encontrou o primeiro canteiro de obras da rodovia, mas ele não é herança da antiga concessionária, a Ecocataratas, que que administrava a rodovia de Foz do Iguaçu a Candói. As obras na marginal são custeadas pelo município, em 7,6 quilômetros de recape e pavimentação a serem concluídas no ano que vem, ao custo de R$ 8,6 milhões.
No trecho de Foz do Iguaçu a São Miguel do Iguaçu vigorava um dos pedágios mais caros do Paraná: quando a concessão encerrou, o custo estava em R$ 12,62 para veículos de passeio. A rodovia continua em boas condições para tráfego.
De Foz do Iguaçu a Matelândia, a BR-277 está duplicada em 71,7 quilômetros: os últimos 14, no sentido Medianeira a Matelândia, só foram entregues pela concessionária em 2016.
Praça de pedágio São Miguel do Iguaçu
A primeira parada foi na praça de pedágio em São Miguel do Iguaçu. Não há bases ou pontos de apoio instaladas nela. A sinalização para canalização e desvio do tráfego está em condições bem visíveis com placas e cones.
Já a estrutura física das quatro cabines sofreu danos. A maior parte dos vidros foi quebrada e eles foram substituídos por tapumes. O mesmo se repete na estrutura da sede da praça que fica ao lado das cabines. A fiação de energia e telefonia foi arrancada e furtada em todas as cabines e da base lateral.
No km 581 da rodovia, no município de Medianeira, há a estrutura do SAU (Serviço de Atendimento ao Usuário) da rodovia. Ali a reportagem encontrou uma base de apoio – contratada via licitação pelo governo do Estado – com guinchos para veículo leve, veículo de combate a incêndio e carros de apoio para atendimento a ocorrências registradas na rodovia.
Os veículos têm identificação do DER e os usuários que precisarem deles receberão atendimento de forma gratuita em uma resposta que gira em torno de 30 minutos a partir do acionamento – a depender do local onde houve a ocorrência.
Para esse serviço ser acionado, os usuários da via precisam contatar o telefone 0800-400-0404, um canal de atendimento do DER que direciona o chamado de acordo com a região da ocorrência. Em todo o percurso da rodovia (636 quilômetros, ao total), a reportagem não encontrou placas informando o número do telefone a ser acionado. O número está estampado nos veículos oficiais de apoio.
A estrutura física da antiga sede do SAU de Medianeira não esconde os sinais do vandalismo, que cessaram após a chegada das equipes de trabalho que ficam ali 24 horas por dia, desde março de 2022. Antes, marginais aproveitaram para danificar banheiros que ficaram sem torneiras e um deles sem porta de acesso. Vidraças foram quebradas e fios da iluminação e telefonia foram furtados. Em todas as estruturas visitadas pela reportagem, o furto de fios se repetiu.
O SAU tem bloqueio com cones que impedem o acesso de veículos. Ele não opera mais no atendimento ao usuário. O único espaço para passagem é o que permite o entra e sai dos veículos de apoio. Poucos quilômetros dali acaba a duplicação neste trecho da rodovia.
De Matelândia até Cascavel são 62 quilômetros de pista simples, sem terceiras faixas, acessos em nível que tornam a rodovia ainda mais perigosa e letal e poucos pontos de ultrapassagem. O trânsito é pesado com muitos caminhões.
Do lado esquerdo da rodovia para quem trafega no sentido Foz/Curitiba, no km 653 está a planta industrial da Cooperativa Lar. Com cerca de 10 mil trabalhadores, é comum encontrar comboio de ônibus indo e vindo com trabalhadores de municípios próximos. A travessia em nível para acessar a cooperativa se mostra uma bomba-relógio. Em duas oportunidades, a reportagem flagrou irregularidades, perigo iminente e por pouco não presenciou um acidente. No local há um radar, mas ele é ignorado por muitos condutores que passam em alta velocidade, inclusive fazendo ultrapassagens no trecho que é de faixa contínua.
Radares inoperantes
E por falar em radares, parte dos que tornam visível a velocidade aos condutores não estava funcionando no trecho entre Foz do Iguaçu e Cascavel. Alguns poucos que aparentemente estavam em operação registravam a velocidade em apenas uma das faixas. Condutores que trafegam com frequência pelo percurso dão demonstrações de estarem cientes do não funcionamento, passando pelos equipamentos em altíssima velocidade.
Base de apoio para atendimentos em Céu Azul
A parada seguinte foi no antigo posto de pedágio em Céu Azul. Profissionais estavam ali, aguardando algum chamado. Havia guincho para veículos leves, pesados e carros de apoio. Eles relataram que antes da chegada das equipes, de novembro de 2021 a março de 2022, vândalos aproveitaram para levar fios, quebraram vidros e depredaram parte da estrutura.
No trecho seguinte, até a chegada do SAU em Cascavel, no km 581, as condições da rodovia para tráfego são consideradas boas. Há um trecho de 7,5 quilômetros duplicados desde o viaduto com a BR-163 até o trevo do bairro Guarujá, em Cascavel, onde o trânsito flui com agilidade. Dali até o Trevo Cataratas, em um percurso de 13 quilômetros, motoristas passam por um verdadeiro teste de paciência. Foram quase 30 minutos para percorrer o trecho que diariamente tem um fluxo intenso. É nesse percurso, na altura do km 586, onde está uma travessia em nível de altíssimo risco. A qualquer hora do dia, há filas gigantescas para a travessia da estrada sentido bairros. Acidentes são frequentes no local. Pouco adiante, no km 585, há um viaduto liberado para tráfego neste ano, construído com recursos do acordo de leniência firmado entre a concessionária que administrava a rodovia, a Ecocataratas, com o Ministério Público Federal, na Operação Lava Jato. A reclamação no local é com a falta de sinalização, sobretudo para quem acessa o município de Cascavel vindo de Foz do Iguaçu.
Trevo Cataratas: importante entroncamento rodoviário do país
O Trevo Cataratas, que fica no km 583 da rodovia BR-277 em Cascavel, é um dos maiores entroncamentos rodoviários do Brasil ligando as BRs 369, 467 e 277. Antes o trânsito no local dava um verdadeiro nó, com filas gigantescas e congestionamentos intermináveis. Agora o tráfego segue com fluidez. Isso porque o trevo foi reestruturado e a obra foi realizada também com recursos do acordo de leniência da concessionária e o MPF na Lava Jato. Ele foi liberado em agosto de 2022.
Do trevo até o posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal), em 3,2 quilômetros a BR-277 está duplicada, em trecho entregue em 2020 pela Ecocataratas. Outros 6 quilômetros que deveriam ter sido edificados pela concessionária estão em obras. A duplicação vai do posto da PRF até o acesso ao Porto Seco na Ferroeste, mas estão sendo bancados pelo governo do Estado em parceria com a Itaipu Binacional ao custo de R$ 48 milhões. A expectativa é para que esse trecho esteja liberado até o Show Rural, em fevereiro de 2023. Este foi o principal canteiro de obras registrado em todo o oeste do Paraná, na BR-277.
SAU e praça de pedágio em Cascavel
No SAU em Cascavel há uma base onde ficam profissionais para atendimento às ocorrências na rodovia. São guinchos, caminhão de combate a incêndio e veículos de apoio para sinalização, por exemplo.
O socorro médico, antes realizado por médico, socorristas e ambulâncias das concessionárias que administravam as rodovias, agora é atribuído ao Siate e/ou Samu do município onde a ocorrência for registrada. Isso se repete em todo o Paraná. Em caso de ocorrências com múltiplas vítimas ou vários feridos graves, o socorro é acionado de bases maiores, próximos às ocorrências. Um helicóptero do Consamu, consórcio intermunicipal de saúde na região oeste, é acionado com frequência para prestar socorro a feridos graves em todo o perímetro.
No posto de pedágio localizado no município de Cascavel, no km 558 da rodovia, não há estrutura operacional ativa. O antigo pedágio está vazio e o acesso está impedido por cones. A canalização do tráfego está bem visível com placas e cones, mas a estrutura sofreu depredações. São diversos vidros quebrados, cabines invadidas e vandalizadas. A sede está com vidraças estilhaçadas e a porta principal foi completamente destruída.
Falta de terceiras faixas
Do km 585 até o município de Ibema, a rodovia segue em pista simples e sem terceiras faixas em um trajeto de 61,5 quilômetros. Neste percurso, próximo ao perímetro urbano de Ibema, a reportagem testemunhou uma ocorrência que poderia ter resultado em um acidente grave. Travaram os freios de uma carreta que trafegava no sentido Cascavel-Curitiba. Por sorte, bem próximo ao local havia uma parada de ônibus onde o caminhoneiro pode estacionar. Neste trajeto, com uma série de curvas acentuadas, há vários pontos sem acostamento.
Novas terceiras faixas em Guaraniaçu
Há pouco mais de fluidez no tráfego no trecho entre Ibema e Guaraniaçu, ainda no oeste do Paraná. O trecho que não contava com terceiras faixas agora tem várias delas. Foram 13 pontos de implantação de faixa adicional, perfazendo pouco mais de 14 quilômetros de extensão, entregues pela concessionária que administrava a rodovia em 2021.
SAU de Guaraniaçu
A antiga sede do Serviço de Atendimento ao Usuário de Guaraniaçu fica ao lado esquerdo da rodovia (no sentido Guaraniaçu-Curitiba) e não há bases de apoio trabalhando nela. Na região, essa foi a estrutura mais depredada que a expedição encontrou.
Os banheiros estão completamente destruídos, há acúmulo de lixo na área externa, com dezenas de pneus depositados. Na estrutura interna de banheiros e sala de descanso os vidros, as portas e as janelas foram destruídos. Nos banheiros há muito lixo e o que antes eram pias, agora servem como depósito de dejetos. O mau cheiro toma conta do lugar. Toda fiação foi furtada e uma sala de descanso que chegou a ser lacrada com tapumes foi arrombada e há sinais de que pessoas têm dormido ali.
Homens trabalhando
Em Nova Laranjeiras, já na região central do Estado, na altura do km 480, a reportagem encontrou máquinas na pista fazendo reparos no asfalto. Em todo a viagem esse foi o único ponto em que trabalhadores estavam na pista. Os serviços fazem parte do programa Integra Paraná, do governo do Estado, coordenado pelo DER. O trânsito no local estava operando no modelo pare e siga.
Em praticamente todo o percurso, as pistas de rolamento, sinalizações verticais e horizontais e limpeza no entorno da rodovia estavam em boas condições. Ainda em Nova Laranjeiras, o que se se viu também foram novas terceiras faixas entregues aos condutores em 2021 pela concessionária. Elas garantem pouco mais de fluidez no trânsito em dois segmentos, do km 492 ao km 495 e do km 496 ao km 498, totalizando 4,2 quilômetros de terceiras faixas.
De Nova Laranjeiras a Laranjeiras do Sul, além das curvas perigosas, outro risco diz respeito aos muitos indígenas no entorno da pista comercializando produtos. Crianças caminhavam nas margens da rodovia, muitas vezes sem a supervisão de adultos.
Pedágio e SAU em Laranjeiras do Sul
No pedágio no município de Laranjeiras do Sul também não há estrutura para suporte e serviços. Ali as cabines de cobrança foram arrombadas. Quase todas estavam abertas e tudo o tinha dentro foi destruído ou furtado. Os fios de iluminação elétrica e de telefonia foram levados, mas parte dos vidros estava inteiro. Alguns vidros danificados foram substituídos por tapumes. Na estrutura de apoio à antiga praça, que ficam bem próxima às cabines, portas que haviam recebido lacres foram arrombadas.
No SAU em Laranjeiras do Sul há uma base de apoio com caminhão guincho, de combate a incêndio e carro de apoio. Essa base foi a menos danificada entre todas as percorridas de Foz do Iguaçu a Curitiba. Nela, o maior dano encontrado foi o furto de fios antes dos profissionais chegarem, em março.
Como o local é bem iluminado, atrás dele fica a sede de uma empresa e na frente um grande posto de combustíveis, os vândalos não se empenharam na depredação. A exemplo dos outros SAUs visitados, o acesso está fechado com cones e a parada está proibida.
De Laranjeiras do Sul para Candói
Na praça de pedágio de Candói, a última no trecho que era administrada pela Ecocataratas, há boa sinalização para o desvio e canalização do tráfego, mas as quatro cabines inoperantes foram destruídas. Foi um dos poucos lugares onde há placa indicando que é proibido parar e acessar o local para descanso, sob pena de multa.
Todas as cabines foram depredadas e a fiação foi furtada. Nos fundos da estrutura há uma quantidade gigantesca de lixo a céu aberto. A maioria cones danificados visivelmente com acúmulo de água. Nesta praça de pedágio também não há instalação de estrutura de apoio.
SAU de Candói completamente destruído
O SAU de Candói – próximo a Guarapuava, na região central do estado – foi de longe a estrutura que servia de base para atendimento aos usuários mais destruída que a expedição encontrou no trajeto Foz/Curitiba.
Começava pelo excesso de lixo, de todo tipo e por toda parte, dentro e fora da base. O local também está tomado pelo mau cheiro. Nos banheiros, as pias foram completamente destruídas. Torneiras e todos os vasos sanitários foram furtados, a exemplo da fiação. Os vidros foram todos quebrados, tapumes que foram colocados para substituí-los foram arrancados.
Também há sinais de que vândalos usam a estrutura para queimar fios, para retirada do cobre. Há vidros estilhaçados para todos os lados e não há uma única janela inteira. As portas foram todas furtadas e venezianas das janelas que sobraram foram arrancadas e estão penduradas. Nada ali passou desapercebido dos vândalos que seguem usando o banheiro, que não tem mais vasos sanitários. O local ostenta uma placa que sugere denúncia no caso de vandalismo, fazendo contato com a PRF (Polícia Rodoviária Federal) pelo telefone 191.
Risco latente: travessia em nível no km 328
Outra passagem em nível com elevado fluxo de veículos e extremamente perigosa fica na altura do km 328 onde está, do lado direito da rodovia no sentido Foz-Curitiba, um restaurante com uma importante parada para caminhoneiros, quem viaja de carro ou moto e ônibus de linha.
Guarapuava: maior canteiro de obras na BR-277
De Candói a Guarapuava, as condições da pista são boas e foi por lá que se encontrou, nos 636 quilômetros percorridos, o maior canteiro de obras. Estão sendo investidos ali R$ 77,7 milhões pelo governo do Paraná, com a duplicação de mais 4 quilômetros e construção de duas vias marginais em um trecho de quase 4 quilômetros, além de trincheiras, um viaduto, 3 pontes, 2 passarelas e a revitalização de 12,2 quilômetros de iluminação pública. A obra inclui ainda duas trincheiras para travessia de pedestres e ciclistas.
Parte do perímetro urbano da BR-277 em Guarapuava está duplicada e a estrutura em edificação promete desafogar o tráfego em um trecho de fluxo intenso percorrido por condutores que querem atravessar a cidade de um lado ou outro e motoristas que querem seguir viagem.
Pouco adiante, nos sete quilômetros da Serra da Esperança (entre os municípios de Guarapuava e Prudentópolis), o perigo é latente. Há terceiras faixas subindo o percurso (para quem trafega no sentido Curitiba-Guarapuava), mas para quem desce não há pontos de ultrapassagem. O trecho é perigoso e repleto de caminhões carregados que descem, muitas vezes, colados aos veículos de passeio. Há sinais de pequenos deslizamentos na encosta da rodovia ao longo da descida da serra. O ponto positivo é que a pista está bem conservada e a sinalização é boa. Chamou a atenção que, no pé da serra, onde há uma área de contenção e escape em caso de veículos ficarem sem freios, aparentemente não há manutenção na estrutura que salva vidas e evita tragédias.
Pedágio no Relógio
Na antiga sede do pedágio do Relógio, trecho administrado pela concessionária Caminhos do Paraná, há veículos de apoio com guinchos para veículos leves e pesados e caminhão de combate a incêndio. No local também está a antiga sede do SAU. A depredação no local foi similar à identificação na maioria das praças: vidros quebrados e fios furtados.
A parada seguinte foi na praça de pedágio de Irati, ainda na BR-277 administrada pela Caminhos do Paraná, com a estrutura de apoio com profissionais que ficam no local 24 horas por dia. A estrutura física está bem conservada. Há vidros que seguem inteiros, cabines de pedágio que não foram vandalizadas por completo, estrutura de apoio administrativa com profissionais do DER e com o típico sinal do vandalismo se resumindo ao furto de fios.
Neste percurso está outro ponto de passagem em nível, no km 233 onde, do lado esquerdo da via para quem segue sentido Curitiba, está uma importante parada com restaurante, posto de combustível e atrações turísticas. Apesar da boa sinalização horizontal, entrada e saída do local oferecem riscos. Basta ver que no asfalto há vários sinais de fortes frenagens na rodovia.
Pedágio em Porto Amazonas
A praça de pedágio seguinte está no km 159 da BR-277 em Porto Amazonas, que conta com a base operacional com guinchos, carros de apoio e profissionais 24 horas por dia aguardando acionamentos.
O local também foi alvo de furto de fios e apesar de algumas placas de trânsito jogadas em frente às antigas cabines de cobrança, retiradas das margens da rodovia, não há sinais latentes de depredação. A sinalização para desvio do tráfego é boa e há cones que impedem o acesso.
São Luiz do Purunã: a praça de pedágio mais depredada
A última praça de pedágio do percurso entre Foz do Iguaçu e Curitiba é de antiga administração da Concessionária Rodonorte. Ela fica na BR-376 em São Luiz do Purunã, no km 132. Entre todas as praças percorridas, essa foi a única do trajeto com um muro de contenção em concreto bastante alto para impedir acesso de veículos e pedestres, mas que não deteve a depredação. Próximo à antiga base de apoio às cabines de cobrança há bastante mato e as antenas para comunicação foram arrancadas e furtadas, a exemplo, mais uma vez, dos fios.
As cabines de pedágio estão completamente destruídas, algumas apenas com as paredes em pé. Da parte interna delas o que era mobília foi arrancada. Há buracos nas cabines por todos os lados.
O risco da BR-376
No percurso de pouco mais de 26 quilômetros percorridos pela BR-376 até a chegada à capital está um dos pontos mais perigosos do trajeto. Apesar de duplicada, existem vários pontos sem acostamento em um percurso com muitos caminhões carregados que seguem destino ao porto de Paranaguá.
Apesar de diversos radares no trecho, a velocidade máxima da via é ignorada por muitos condutores. Quem conhece o percurso e sabe onde estão os radares aproveita para pisar um pouco mais fundo onde não existe fiscalização eletrônica.
Engarrafamento na chegada a Curitiba
Na chegada a Curitiba, o trânsito travou. O tráfego intenso provocou engarrafamento e lentidão nas proximidades do viaduto Soldado Lucas. O trânsito só voltou a fluir, mesmo assim com lentidão, nas proximidades do entroncamento com a rodovia que leva ao porto de Paranaguá, para onde seguiu a maior parte dos caminhões. “Não importa o horário que passe aqui, é sempre assim, lento e demorado”, disse um caminhoneiro.
Neste dia em especial (8 de dezembro) a situação era ainda pior porque havia pontos de bloqueio na rodovia no sentido litoral em decorrência das quedas de barreiras provocadas pelas chuvas intensas.
BR-277 com destino ao litoral
Desde o término da concessão do pedágio na BR-277, no trecho que liga Curitiba a Paranaguá, a qualidade da estrada decaiu muito, apontam motoristas que percorrem o trajeto. Há reclamações da falta ou da sujeira acumulada nos tachões refletivos na pista (“olhos de gatos”) e de placas de sinalização sem limpeza periódica, o que prejudica, principalmente, viagens no período noturno.
Há buracos grandes no asfalto, principalmente nas faixas com grande volume de tráfego de caminhões - além das dificuldades adicionais pós-deslizamentos de terra que forçam o tráfego a seguir em meia pista, nos dois sentidos. Em diversos pontos há veículos de resgate do DER.
Debilidades
Após 24 anos de pedágio, dos 663,3 quilômetros percorridos de Foz do Iguaçu a Curitiba, menos de 20% deles estão duplicados. Uma das expectativas nos contratos de concessão firmados em 1998 era a duplicação completa da rodovia.
Há longos percursos com trânsito lento por conta do tráfego de caminhões, já que a rodovia é um importante corredor de escoamento das safras do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Paraguai e Argentina. Na região central do estado, onde o trajeto é mais sinuoso, há longos trechos sem acostamento e são raras as terceiras faixas. Também foram poucas as passarelas encontradas para passagem de pedestres e ciclistas. O que se viu foram pedestres atravessando a rodovia, muitas vezes correndo para não serem atingidos por um veículo em alta velocidade.
Apesar de a rodovia estar em boas condições, há diversos pontos em todo o trajeto onde amicrofissuras começam a aparecer, indicando que em pouco tempo o asfalto poderá abrir buracos. A reportagem não detectou o funcionamento de nenhuma balança nas margens da rodovia, para controle do peso dos veículos de carga, ao longo de todo o trajeto percorrido.
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