Manter uma parte dos estudantes em casa assistindo ao vivo à mesma aula que é ministrada ao restante da turma, presente na sala de aula. Esta estratégia de manter os alunos “juntos, mas separados” parece ser o grande trunfo das universidades privadas do Paraná para a volta das atividades presenciais em 2021. É um desafio que demanda grandes investimentos em tecnologia e na capacitação de professores, assim como a compreensão dos estudantes, que mesmo não tendo optado por uma formação acadêmica no sistema de Educação à Distância (EAD), vão ter que cumprir parte do conteúdo das disciplinas longe do campus.
WhatsApp: receba um boletim diário com notícias do Paraná
Um levantamento nacional feito pela Associação Profissional das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) mostra que muitos estudantes não estão sendo tão compreensivos assim. A queda de matrículas para o ano letivo de 2021 é de 40% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, essa redução no ingresso dos universitários se deve a diversos fatores.
“Os alunos novos, os calouros, estão postergando a entrada no ensino superior em função das aulas presenciais não serem totalmente retomadas nesse começo de ano. Outro fator é o resultado do Enem, que só deve sair no fim de março. As instituições sabem que no momento que essas aulas [presenciais] voltarem, e quando sair o resultado do Enem muitos alunos vão voltar. Mas isso deve ser só para abril, maio”, avaliou.
Como sugestão para amortecer essa diferença entre os estudantes de uma mesma turma, Capelato aponta que algumas instituições estão criando cursos modulares. “Quem entrar agora em fevereiro ou março faz os primeiros módulos. Quem entrar depois, em abril ou maio, vai fazendo outros módulos. Pode haver um período de nivelamento com aulas reforçadas para quem tiver dificuldades, e daí a partir de agosto esses grupos já poderão seguir no mesmo ritmo”, comentou o diretor.
Virando a chave
De uma hora para outra, quem estudava em um curso presencial se viu obrigado a optar pela modalidade de ensino remoto para seguir na formação universitária. E fazer essa virada de chave no menor tempo e com o mínimo de repercussões negativas foi um dos desafios da pró-reitora de Graduação da PUCPR, Renata Iani Werneck, em 2020. Segundo ela, houve muitos questionamentos por parte dos estudantes quanto ao modelo de ensino remoto.
“Na metade do ano alguns trancaram a matrícula sob a justificativa de que não estavam se adaptando ao ensino longe da sala de aula. Isso é perfeitamente compreensível, cada estudante aprende de uma maneira diferente. Muitos outros compreenderam que aquela era a única possibilidade. Ninguém estava preparado para a pandemia, mas em menos de uma semana nós conseguimos virar a chave para começar os trabalhos de forma remota. Todos se dedicaram, os estudantes compreenderam, e no final deu tudo certo”, disse.
Quebra de paradigma
A mudança repentina também atingiu em cheio estudantes e professores da UniFil, em Londrina. De acordo com o reitor Eleazar Ferreira, a adaptação ao novo modelo de ensino imposto pela pandemia de Covid-19 trouxe mudanças para ambos os grupos, algumas positivas. “Muitos dos que se evadiram ainda não se mostraram aptos a voltar. Alguns só vão retornar quando a pandemia estiver contornada. Esse é um cenário para 2023 em diante. Agora temos que nos adaptar à realidade fática do momento, com menos alunos. Por outro lado, muitos perceberam que o ensino remoto é uma excelente forma de aprendizagem. Alguns professores de revelaram excelentes docentes mediados por tecnologia, sendo que antes eram radicalmente contra. Tínhamos dezenas de professores radicalmente contra e toparam o desafio porque era o que se apresentava para o momento”, comentou.
Para Ferreira, houve uma verdadeira quebra de paradigma em relação à modalidade de Ensino à Distância (EAD). De talvez última opção para alguns estudantes, agora o EAD parece ter deixado de ser o “patinho feio” entre as opções ofertadas pelas universidades. A mesma percepção é compartilhada pela pró-reitora de Graduação da PUCPR.
“Agora, no começo do ano, percebemos que muitos dos estudantes que se matricularam em um curso presencial e fizeram atividades remotas em 2020 migraram para o EAD. Talvez seja uma tendência entre esses estudantes que conseguem fazer desse jeito, que se adaptaram. É uma mudança de visão, tanto no Brasil como no mundo, sobre essa modalidade importante de educação. Antigamente, o EAD era até mal visto, mas hoje muitos estudantes perceberam que conseguem se adaptar a esse modelo, que conseguem aprender. Pensava-se que era algo de baixa qualidade, mas hoje estão percebendo que não”, disse Renata.
Modelo híbrido
Segundo a pró-reitora de Graduação da PUCPR, a universidade vai começar o ano letivo de 2021 em março, ainda com forte presença das atividades remotas. A presencialidade deve ser incorporada primeiro à realidade das turmas que realmente necessitem estar presentes no campus para atividades práticas e de laboratório, por exemplo.
“Estamos separando as turmas em bolhas, vamos ter o professor repetindo a disciplina uma, duas, três vezes, quantas forem necessárias para que o estudante adquira a prática. São disciplinas de laboratório, atendimento de pacientes, as turmas de música que precisam ir lá para tocar os instrumentos. São situações específicas de cada profissão, e que os estudantes precisam aprender a fazer”, detalhou Renata.
Para outros cursos, como os de Direito e da área de negócios, explicou, apesar da presença física do aluno não ser imprescindível para o aprendizado, as aulas serão adotadas no modelo híbrido para garantir a convivência social dos estudantes. “Um grupo que esteja dentro do número máximo de pessoas que possam ser colocadas dentro de uma sala de aula, respeitando o distanciamento, vai para o campus e um grupo assiste de casa à mesma aula, de forma síncrona. De qualquer maneira, a aula do professor permanece gravada para aqueles que não conseguiram assistir à aula ao vivo. Não é o melhor, o ideal é que assistissem ao mesmo tempo para que pudessem tirar as dúvidas”.
O modelo é o mesmo a ser adotado pela UniCesumar. A instituição testou quatro formatos diferentes, e escolheu o rodízio de estudantes como forma de aumentar a participação presencial nas turmas. “Neste momento, a nossa prioridade para a presencialidade é em relação às atividades práticas dos cursos, que são parte muito presente na metodologia de ensino da UniCesumar. Para isso, nós optamos por realizar um rodízio dos alunos, que depende da capacidade de cada sala e cada turma”, explicou a pró-reitora de Ensino Presencial da UniCesumar, Andrea Borim, em nota publicada no site da instituição.
Também por meio de nota, a Universidade Positivo informou que seguirá com o modelo de ensino remoto síncrono para as disciplinas teóricas, e que vai priorizar a prática entre as disciplinas de cursos da área da Saúde. “Seguiremos com a realização presencial das mesmas, assim como já vem sendo realizado gradativamente desde o segundo semestre de 2020, atendendo as necessidades de apoio e de formação desses profissionais, em um momento de excepcionalidade e de enfrentamento de uma pandemia que atinge a todos”, informou a nota.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião