O primeiro passo para a criação de uma vacina contra o novo coronavírus (Sars-Cov-2) por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi dado, e os resultados até agora são promissores. Camundongos que receberam duas doses de um composto que mistura uma proteína do vírus e um polímero apresentaram boa resposta imune, produzindo anticorpos contra o agente infeccioso. Ainda é cedo para dizer que o método funciona, especialmente em humanos, mas o que se observou até agora anima o grupo responsável pela condução do projeto.
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Os pesquisadores trabalham com uma técnica diferente da utilizada comumente em vacinas, em que a imunização é estimulada por meio da inoculação de um vírus inativo. No estudo da UFPR, a ideia é utilizar o polihidroxibutirato (PHB), um tipo de polímero produzido por bactérias, recoberto com partes específicas da proteína Spike, que é o que liga o vírus Sars-Cov-2 às células humanas, provocando a infecção e a Covid-19.
No experimento, 20 camundongos foram divididos em três grupos. O primeiro, chamado de controle negativo, para o qual não se esperava imunização, recebeu apenas PHB. No segundo, as doses incluíram o polímero e a proteína. E o terceiro foi inoculado com um composto formado pelo polímero, o antígeno e uma substância chamada adjuvante de Freund, que normalmente potencializa a resposta imunológica.
A primeira aplicação não foi suficiente para gerar anticorpos em quantidade que diferenciasse significativamente os grupos. Já após a segunda dose, realizada 20 dias depois, a diferença ficou evidente. O grupo que recebeu o antígeno ligado ao PHB apresentou, em média, 54 vezes mais anticorpos do que o grupo controle. Contraintuitivamente, a adição do adjuvante não potencializou a resposta do sistema imune dos camundongos, promovendo uma produção de anticorpos 37 vezes acima do grupo controle, mas abaixo do segundo grupo.
“Vamos repetir o experimento para verificar o que houve, mas pode ser – e aí seria mais interessante – que o polímero é mais potente na ausência do adjuvante”, diz Marcelo Müller dos Santos, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR e um dos responsáveis pelo estudo. “Seria um componente a menos.” Ele acredita que o resultado possa ser decorrente de uma característica oleosa do adjuvante, que pode ter interferido na dispersão das partículas na corrente sanguínea dos animais.
A principal promessa da pesquisa, no entanto, ainda está para ser confirmada. “Verificamos que há geração de anticorpos, mas ainda não sabemos sobre a efetividade desses anticorpos; se eles são capazes de neutralizar a entrada do Sars-Cov-2 no organismo”, explica o professor. “Esse é o ponto-chave para chegarmos aos testes clínicos”. Os pesquisadores querem saber se, além da produção das proteínas defensoras do organismo, há também geração das chamadas células de memória do sistema imunológico – aquelas capazes de reconhecer o vírus em caso de um novo contato e rapidamente produzir novos anticorpos.
Já do ponto de vista de segurança, os primeiros testes não mostraram qualquer efeito adverso. “Como o grupo é pequeno, temos que ter cuidado em assumir que não tem nenhum risco, mas entre esses 20 animais, nenhum apresentou alteração de comportamento, resposta alérgica ou febre, por exemplo.”
Para essa primeira fase de estudos, a equipe encontrou dificuldade para obter cobaias, porque o biotério da universidade reduziu bastante a produção de animais em razão da pandemia. Os próximos testes serão ampliados para 12 camundongos por grupo, o que confere uma confiança estatística maior. Os pesquisadores também passarão a utilizar apenas nanopartículas – no primeiro experimento, foi usada uma mistura de partículas de escala micro e nano. Além disso, serão administradas cargas variadas do antígeno, para se chegar à quantidade ideal de partículas, que gere a produção de anticorpos mais eficiente.
O PHB ainda não é utilizado comercialmente como veículo para vacinas, mas já se mostrou eficiente em laboratório em testes realizados por pesquisadores da Universidade Griffith, na Austrália, contra a tuberculose e a hepatite C. Na UFPR, o polímero é estudado há mais de três décadas como um substituto de similares derivados do petróleo. A molécula é produzida naturalmente por bactérias e já existem indústrias biotecnológicas com capacidade para abastecimento global do produto, em patamares de dezenas de milhares de toneladas por ano, o que facilitaria sua utilização em larga escala.
A pesquisa da UFPR tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Além de Müller dos Santos e dos também bioquímicos Emanuel Maltempi de Souza e Guilherme Lanzi Sassaki, participam o professor de Patologia Básica Breno Castello Branco Beirão, o biólogo do Centro de Ressonância Magnética Nuclear da UFPR Arquimedes Paixão de Santana Filho, os pós-doutorandos Maritza Araújo Todo Bom, Luis Paulos Silveira Alves e a mestranda Maria Luisa Terribile Budel.
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