A região do Vale do Ribeira, uma das mais pobres do Paraná, está superando as dificuldades e conseguindo melhorar a renda e a qualidade de vida de sua população. E não precisou ir muito longe para isso. A solução estava dentro de casa. A virada veio com a aposta nas vocações regionais e a agregação de valor nos dois produtos típicos do local: a mandioca de mesa e a tangerina ponkan.
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A intervenção está sendo articulada pelo Pró-Metrópole (Programa de Desenvolvimento Produtivo Integrado da Região Metropolitana de Curitiba). O trabalho envolve as prefeituras da região, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), o Sebrae, cooperativas dos produtores locais, entre outras instituições.
A abordagem é ampla: vai desde ações no campo para melhorar a produção e organizar os agricultores, até a articulação com parceiros para o processamento dos produtos e a abertura de canais de comercialização. Compras institucionais ajudam a dar vazão à produção, com a inclusão dos itens na merenda escolar e nos armazéns da família, em Curitiba e outros municípios da região.
Mais produtividade e mais renda para o produtor de mandioca
A mandioca, que antes servia basicamente para o consumo próprio das famílias de agricultores nas propriedades ou era vendida de forma rústica, com casca, sem nenhum beneficiamento, passou a ser minimamente processada. A raiz é descascada, higienizada e embalada a vácuo.
No caso da ponkan, grande parte ainda é vendida in natura, mas já com classificação e intervenções no cultivo que resultaram em aumento de 30% na produtividade. Outra parte será transformada em suco e óleo essencial.
“A mandioca vendida bruta, sem nenhum beneficiamento, tem preço médio de R$ 1 o quilo para o agricultor. Na embalagem a vácuo, o valor sobe para R$ 4,99 o quilo e chega a R$ 6,45 no caso de produto orgânico, que é mais valorizado”, informa Laís Adamúchio, extensionista do IDR-PR.
Segundo ela, com o trabalho de assistência técnica está se buscando também elevar o rendimento no campo. Hoje a produtividade média é de 19 toneladas por hectare, mas há potencial para chegar a 30 toneladas.
“Antes não tínhamos estrutura na região e nenhum apoio para a venda do produto”, diz Alcemir José Portes, presidente da Cooperativa Provale, de Rio Branco do Sul. “Hoje, temos câmara fria e estrutura de transporte”, conta. Segundo Portes, a cooperativa consegue processar de 500 a 800 quilos de mandioca por semana, mas a procura tem aumentado e a intenção é investir em mais equipamentos para aumentar a produção.
Suco e óleo essencial agregam valor à ponkan
No caso da tangerina, uma nova indústria está em fase final de instalação em Cerro Azul e vai produzir suco e óleo essencial. O mesmo trabalho já foi realizado com sucesso anos atrás, mas a indústria mudou de dono e passou um tempo desativada.
“Devemos reativar a operação em breve”, diz o novo proprietário, Edson Paulin. Segundo ele, na próxima safra de tangerina, já será possível fazer o suco, que será comercializado com a marca Mitz.
A indústria terá capacidade para produzir 5 mil litros de suco por hora. “O volume de produção vai depender da demanda do mercado”, diz, informando que já está em negociação para garantir a venda do produto.
Será produzido também o óleo essencial de tangerina, um produto de alto valor e bastante demandado pelas indústrias alimentícia, de produtos de limpeza, perfumaria e farmacêutica.
“O Vale do Ribeira é o maior produtor de tangerina ponkan do Paraná, respondendo por 75% da produção estadual e o município de Cerro Azul é o maior produtor individual de tangerina do Brasil”, conta Ivan Evangelista, do Sebrae.
Segundo ele, está se iniciando também um trabalho de buscar a Indicação Geográfica da fruta, como forma de registrar a marca e identificar a procedência, com ênfase para o diferencial da ponkan da região que tem coloração e sabor característicos, sendo mais doce que a fruta cultivada em outras regiões.
Outro trabalho importante que está sendo feito na região é o desenvolvimento de mudas de ciclo precoce e tardio. “A intenção é estender a oferta da fruta, hoje toda concentrada nos meses de maio junho e julho”, diz Evangelista. Segundo ele, nessa época há um grande volume de produção, de 90 mil toneladas da fruta que tem que ser escoada rapidamente.
“A industrialização, transformando em suco, óleo, geleias e compotas é uma alternativa para o aproveitamento, mas também queremos a possibilidade de escalonar a produção com as mudas que estão sendo desenvolvidas”, diz.
A região do Vale do Ribeira inclui os municípios de Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Cerro Azul, Doutor Ulisses, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná.
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