O Hospital do Trabalhador de Curitiba é um dos 17 hospitais brasileiros (15 civis e dois militares) credenciados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para os testes com a substância nitazoxanida em pacientes internados com Covid-19. Conhecida pela ação como vermífugo, a droga, que tem o nome comercial de Annita apresentou bons resultados na contenção da reprodução do coronavírus em teste laboratoriais.
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Nesta quinta-feira (21), o Hospital do Trabalhador de Curitiba recebeu autorização do Ministério para selecionar e registrar no sistema da pesquisa os pacientes aptos a participar da pesquisa. Ao menos 500 pacientes dos 17 hospitais participarão do ensaio clínico, um teste randomizado em que, aleatoriamente, metade dos pacientes receberá a droga e metade receberá placebo, para a posterior avaliação dos resultados.
“Recebemos, hoje, todos os insumos, os materiais e os protocolos de exames que precisarão ser feitos nos pacientes, assim como veio, agora, a autorização para a inclusão dos pacientes”, relata a chefe da Unidade de Terapia Intensiva do hospital, Mirella Cristine de Oliveira, pesquisadora principal do estudo no Paraná. Ela explica que não há um número exato de pacientes a serem pesquisados no Paraná, por se tratar de um estudo competitivo, em que os 17 hospitais vão incluindo os pacientes que preenchem os requisitos da pesquisa e que assinem documento de consentimento em participar da pesquisa.
“[Vai participar] o paciente moderado, que esteja numa fase anterior à necessidade de ventilação mecânica. A hipótese do ensaio clínico é que a droga reduz a replicação viral. Ao reduzir a replicação do vírus, a medicação evita que o quadro evolua para insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica”, conta. “Não sabemos ainda, nas amostras, qual o porcentual de pacientes moderados que evoluem para insuficiência respiratória aguda. O que temos é que da população geral infectada pelo vírus, só 5% precisam de ventilação mecânica e 20% têm casos moderados. Teoricamente, essa droga poderia impedir que parte desses 20% evoluíssem para caso grave”, prossegue.
A médica compara a atual etapa das pesquisas como a Annita à situação da hidroxicloroquina. “Agora não mais, porque já há estudos mostrando a ineficácia da hidroxicloroquina em humanos, mas a situação é a mesma, só há resultados in vitro, não há ensaios clínicos. A diferença é que essa droga já foi pesquisada para influenza e para Mers, a doença causada pelo outro coronavírus, e reduziu a atividade viral. Isso que gerou essa hipótese”, explica.
Crítica ao protocolo da hidroxicloroquina
Hospital de referência para a Covid-19 em Curitiba, o Hospital do Trabalhador também vem realizando ensaios clínicos para a hidroxicloroquina. A chefe da UTI do hospital frisa, no entanto, que apenas os pacientes envolvidos na pesquisa estão recebendo a medicação, mesmo após o novo protocolo do Ministério da Saúde, recomendando a prescrição da droga. “Não estamos usando e nunca usamos hidroxicloroquina para o tratamento de nossos pacientes, apenas em protocolo de pesquisa”.
Mirella Oliveira classificou como desastroso o novo protocolo do Ministério da Saúde. “Era compreensível, lá atrás, quando começou a pandemia, quando o mundo estava procurando um tratamento, que se utilizasse uma medicação com bons resultados in vitro. Mas hoje não é mais aceitável, porque já tem vários estudos mostrando que não houve nenhuma diferença fazer ou não fazer hidroxicloroquina e, além disso, há estudos mostrando efeitos colaterais graves e, até aumento do tempo de ventilação mecânica para alguns pacientes”, critica.
“O protocolo é desastroso porque pega uma droga sem nenhuma eficácia comprovada e, além de indicar para pacientes graves, em caso desesperador, estendem para casos leves e moderados, podendo agravar a situação desses pacientes”, diz. Para ela, apesar de não obrigar que médicos e serviços de saúde utilizem a hidroxicloroquina o protocolo fará com que muitos hospitais a adotem. “Principalmente em locais mais afastados, distantes de uma referência acadêmica, por exemplo”.
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