Um grupo de candidatos retirados da lista de aprovados divulgada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) após a falha no processamento das notas vai processar a instituição. O pedido que será apresentado à Justiça demanda o direito à matrícula nos cursos onde apareceram como aprovados no último dia 31 de agosto e uma indenização por danos morais. Não foi informado quantos dos 31 estudantes que perderam as vagas na retificação da lista da universidade compõem esse grupo.
As principais notícias do Paraná pelo WhatsApp
O advogado Eliezer Perszel Correia de Freitas confirmou à Gazeta do Povo que tentou contato com a UFPR para procurar resolver o problema de forma administrativa. Mesmo assim, segundo ele, serão tomadas medidas judiciais contra a instituição “não só pela mudança do resultado, mas pela falta de transparência na maneira como isso aconteceu”.
“Além da questão das vagas propriamente ditas e da matrícula, existe um dano moral envolvido nisso também. Sabemos como é complicado para o estudante passar tantos anos, se dedicando para passar em um vestibular, para ter suas expectativas frustradas dessa forma, e de um jeito que quebra completamente a confiança no resultado. Tem-se simplesmente a troca da lista final, mas sem uma documentação comprobatória de por que é esse resultado e não o outro. Dentro do que foi liberado até agora não temos como saber se esse resultado de agora é o certo ou se pode surgir outro resultado depois. Não há como saber se haverá novas retificações a serem feitas, ou qual foi a natureza do erro”, questionou.
Segundo Freitas, apesar de a UFPR ser vista uma instituição séria, a retificação da lista de resultados do Vestibular 2020/2021 é mais um item em uma lista de precedentes complicados para o Núcleo de Concursos da universidade. Ele lembrou do concurso da Polícia Civil do Paraná, que estava previsto para fevereiro de 2021 e acabou cancelado pela instituição. Milhares de pessoas, muitas vindas de várias regiões do país, só ficaram sabendo do cancelamento momentos antes da realização da prova. Na época, a justificativa foi falta de segurança sanitária, devido à pandemia, para dar sequência ao concurso. A UFPR acabou multada em mais de R$ 1 milhão.
Em resposta às alegações do advogado, a UFPR, por meio de sua assessoria de imprensa informou que “desde que a falha de processamento foi identificada, a UFPR trabalhou incessantemente na busca de outras alternativas que pudessem garantir a vaga aos 31 excluídos da lista”. A nota segue, e a universidade afirma que “infelizmente, não se encontrou uma solução que fosse jurídica e administrativamente sustentável”.
Sobre as possíveis demandas judiciais que venham a ser apresentadas contra a instituição, a assessoria da UFPR informou que “se manifestará no tempo oportuno, conforme o teor de cada uma, caso se confirmem”. Anteriormente, a instituição já havia se posicionado sobre o caso, explicando que a mudança ocorreu por um problema no processamento das notas da redação após recursos dos candidatos (leia abaixo).
Da alegria à frustração
Um dos estudantes envolvidos na polêmica é Gabriel Henrique Zimermann dos Santos. Em entrevista por telefone, ele revelou estar há quatro anos tentando uma vaga no curso de Medicina da UFPR. Quando a lista de aprovados foi divulgada, na terça-feira (31), o jovem encontrou o nome dele na relação. A alegria, porém, não durou 24 horas.
“Quando saiu a lista de aprovados, meu nome estava lá. Teve toda uma comemoração com a minha família, uma emoção que não dá nem para descrever direito. Mas na noite do dia seguinte eles [a UFPR] publicaram a correção da lista por causa do erro em algumas notas que não tinham sido computadas. E o meu nome não estava mais lá. Primeiro, eu não consegui acreditar direito. Eu olhei a lista e me bateu um desespero, não sabia como reagir. Continuei atualizando a página, recarregando a lista várias vezes para ver se era isso mesmo”, contou.
O candidato disse à reportagem que a preparação para prestar o vestibular sempre foi difícil, mas as condições ficaram ainda mais severas por conta da pandemia. “Eu ficava trancado no quarto absolutamente o dia inteiro, tendo que estudar à distância com aulas online, é muito mais difícil”, disse. Com a retificação da lista de aprovados, ele passou para o 12º lugar na fila de espera. Santos disse esperar reaver a vaga na Justiça.
“É complicado, é bem improvável que 12 pessoas que agora aparecem como aprovadas na lista desistam da matrícula para que eu possa assumir essa vaga. Por isso nós nos mobilizamos com outros ‘desaprovados’ para conseguir um apoio popular nesse sentido, de chamar a atenção da universidade. A gente espera agora uma resposta mais pessoal por parte da UFPR, que nos ofereçam uma solução. Porque nós estamos pagando pelas consequências de um erro que não foi nosso. Tudo o que nós recebemos foi um lamento, e aquela lista onde constava o nosso nome é como se simplesmente nunca tivesse existido”, desabafou.
Erro de processamento, se defende a UFPR
Em nota publicada em seu site, o Núcleo de Concursos da UFPR informou que a “retificação foi necessária em virtude de uma falha ocorrida no processamento dos resultados, que fez com que deixassem de ser computados os ajustes nas notas de produção de texto decorrentes de recursos interpostos por candidatos e que, após a análise por parte da Banca Examinadora, foram deferidos”.
Entre os dias 9 e 11 de agosto a UFPR abriu a possibilidade de recursos quanto às notas da prova de redação. A universidade não informou quantos pedidos de revisão de notas foram feitos pelos candidatos, mas afirmou na nota que 467 destes recursos foram deferidos. Uma falha no processamento dessas novas notas fez com que a lista dos aprovados fosse divulgada sem as novas notas de quem teve o recurso aceito.
O planejamento original da UFPR era divulgar a lista de aprovados só em 9 de setembro, mas a data foi antecipada para o fim de agosto. Questionada pela reportagem sobre se essa antecipação poderia ter impactado sobre a divulgação equivocada da lista de aprovados, a instituição respondeu, em nota, que “não há qualquer relação entre a antecipação da divulgação do resultado e o erro de processamento”. O texto reforça ainda que “o erro decorreu de uma falha pontual de processamento, e não de qualquer problema no sistema”.
Em um vídeo divulgado pela UFPR, o diretor do Núcleo de Concursos da universidade, Alexandre Trovon, deu mais detalhes sobre o ocorrido.
“Por conta da situação de pandemia, este ano a UFPR realizou o processo seletivo em fase única. Questões objetivas e produção de texto ocorreram no mesmo dia. Isso exigiu ajustes técnicos no sistema de processamento das notas. Lamentavelmente, nesse processo ocorreu uma falha pontual que levou à retificação da lista de aprovados. Esta situação envolveu 467 candidatos que apresentaram recursos relativos à nota da redação, e tiveram esses recursos acatados pela banca examinadora. Mas, com esse erro de processamento, as notas pós-recurso não foram computadas”, contou.
“O erro foi percebido pelo Núcleo de Concursos logo após a divulgação da lista de aprovados na última terça-feira. Nós então mobilizamos uma equipe para analisar a situação e buscar uma solução. Lamentavelmente, se percebeu que 31 candidatos deixaram de integrar a lista de aprovados. O Núcleo de Concursos lamenta e se solidariza com esses 31 candidatos. Mas não havia outra alternativa senão efetuar a correção das notas respeitando os outros 31 candidatos que deveriam ter sido aprovados. Lembramos aos candidatos que fiquem atentos às chamadas complementares que serão divulgadas nas próximas semanas, certamente com vagas na maioria dos cursos da universidade. Inclusive nesses que tiveram a lista de aprovados retificada”, disse Trovon.
A UFPR determinou a instalação de Comissão de Sindicância para apurar todos os fatos e eventuais responsabilidades pela nova falha. O prazo para o processo de envio de documentos para o registro acadêmico se estenderá até as 23h59min do dia 08/09/2021. As informações sobre o desempenho individual dos candidatos também já estão disponíveis no site oficial do NC/UFPR.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião