A previsão feita pela Secretaria de Saúde (Sesa) do Paraná a respeito da dengue está, infelizmente, se concretizando. Na primeira reunião do Comitê Intersetorial de Controle da Dengue, em 9 de janeiro, o secretário Beto Preto alertou para o momento crítico pelo qual o estado passaria e disse que haveria uma “avalanche” de casos. De fato: naquela semana, o boletim epidemiológico indicava 5,3 mil casos confirmados no Paraná; agora, os dados mais recentes, de quarta-feira (26) - corrigidos no dia seguinte -, mostram quase 35 mil ocorrências confirmadas. Em uma semana, houve aumento de 9 mil casos.
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Esse cenário de epidemia já era visível semanas atrás pelas características do vírus de dengue que está em circulação: o sorotipo 2 (DEN-2), que desde 2019 predomina sobre o DEN-1, o mais comum no período de 2009 a 2018. Essa mudança deixa toda a população mais suscetível, já que a imunização se dá após contrair a doença, mas só para aquele tipo específico de vírus, explica a coordenadora da Vigilância Sanitária da Sesa, Ivana Belmonte. “Desde 2009 predominava a presença do DEN-1, agora a introdução de um novo sorotipo encontra toda a população sem imunização e por isso está tendo ocorrência de casos tão elevada. Hoje estamos em 83% de predominância do DEN-2”, diz.
Essa mudança do sorotipo dominante pode ser creditada ao transporte e ao comércio mundiais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “O aumento da mobilidade nas cidades, entre cidades e entre países e continentes contribuem coletivamente para a ampliação do risco de surtos de doenças transmitidas por vetores (e muitas outras doenças transmissíveis), e no caso específico da dengue, para o aumento da gravidade da doença, associada com a disseminação de vários sorotipos de vírus”, diz o documento Estratégia Global para Prevenção e Controle da Dengue em 2012-2020, da OMS.
No mundo, há quatro sorotipos da dengue em circulação, e todos foram detectados no Paraná em 2016, por exemplo. Mas desde o início da série histórica, o DEN-1 se destacou pelo maior período: entre 1995 e 2002, ano em que perdeu espaço para o DEN-3, que em 2009 foi novamente subjugado pelo DEN-1. “A gente sabe que é periódico, por isso a dengue é cíclica. As variações do sorotipo é que trazem esses picos de epidemia”, observa Ivana.
A OMS considera que há epidemia quando o número de casos é de 100 a 299 casos a cada 100 mil habitantes. O Paraná está nesse estágio: são 199 casos por 100 mil hab. no atual período epidemiológico (que tem início em agosto de cada ano e segue até julho do ano seguinte). Em muitos municípios, a situação é bem mais grave: 78 cidades registraram mais de 300 casos/100 mil hab., em alguns deles chegando ao índice de 14,2 mil/100 mil hab.
A mudança no sorotipo predominante é alarmante não só pelo aumento no número de casos, mas também pela severidade da doença. “Quando se pega dengue pela segunda vez, o risco de ter dengue grave é maior. Não é por um sorotipo ser mais agressivo do que outro, mas por ter contraído pela segunda vez”, destaca Ivana.
Outro indicador da chegada de uma epidemia é o monitoramento do clima, que vem mostrando alta favorabilidade para disseminação do Aedes aegypti ao longo do verão de 2019/2020, conforme o Sistema de Alerta Climático de Dengue (SAC Dengue), desenvolvido pelo Laboratório de Climatologia da UFPR, com apoio do Simepar e da Sesa. “O objetivo é que a defesa sanitária e a vigilância de saúde do estado possam atacar nos lugares mais indicados para vida plena do mosquito. Aliás, o SAC Dengue serve não só ao poder público, mas também à sociedade como um todo, para que saiba dos riscos e possa agir”, avalia o geógrafo Fernando Mendonça, pesquisador e pró-reitor da UFPR.
Atendimento adequado é fundamental
Ainda que a condição cíclica da dengue seja de conhecimento dos profissionais da área de saúde, as prefeituras vão sempre ter dificuldades de enfrentamento. Segundo Ivana, é preciso reestruturar toda a assistência básica para dar o atendimento adequado a todos os pacientes que procuram o atendimento médico. “Se houver sintomas, como febre, dores no corpo e manchas na pele, é preciso buscar uma unidade de saúde para evitar a automedicação. Há medicamentos que são contraindicados no caso da dengue, como o ácido acetilsalicílico [AAS]. Além disso, junto com a dengue podem estar circulando outras arboviroses, como zika, chigunguya e febre amarela”, orienta a gestora.
O Paraná já registrou 91 mortes de macacos por febre amarela no atual período epidemiológico, indicando a circulação desse vírus em algumas regiões, como nos Campos Gerais. No caso da chikunguya, são 5 casos confirmados no Paraná e da zika, 3.
Municípios em alerta devem receber suporte do estado
Além do repasse de recursos financeiros para municípios com situação de epidemia e alerta, o governo estadual também dá suporte técnico na capacitação da assistência e na orientação da organização dos trabalhos de prevenção e controle. Muitos dos cursos têm a maior parte da carga horária a distância, (EAD), para facilitar o acesso, diz a gestora.
“Temos mais de 12 técnicos que foram encaminhados para as regiões para ajudar na orientação dos trabalhos de campo. Às vezes há rotatividade muito intensa de servidores de campo nos municípios e por isso há dificuldade de organizar as atividades conforme é preconizado”, relata. Em último caso, é fornecido o fumacê, mas só em situações emergenciais, já que a técnica não é eficaz nem eficiente – mata um percentual muito baixo de mosquitos, apenas os que estão voando, e não age sobre os criadouros.
Na última sexta-feira (28), o governo estadual autorizou o pagamento da primeira parte do incentivo financeiro de R$ 3,3 milhões para o combate à dengue em 118 cidades. A partir da Resolução 190/2020, serão disponibilizados recursos que variam de R$ 18 mil a R$ 200 mil às localidades mais atingidas pela doença.
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