É numa área com quase 300 quilômetros quadrados de extensão, localizada no município de São José dos Pinhais, que está um dos principais mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Curitiba. A bacia do Rio Miringuava atende cerca de 230 mil pessoas na capital paranaense, as cidades de Araucária, Fazenda Rio Grande e, principalmente, São José dos Pinhais, para onde vai praticamente metade da água extraída da área. Nos próximos anos esse potencial será ainda mais explorado, com a construção de uma barragem que vai reforçar o sistema de abastecimento de água da região.
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Iniciadas em 2017, as obras da barragem do Miringuava deverão ser concluídas até o fim de 2020. Com capacidade para armazenar 38 bilhões de litros de água, vai garantir o atendimento à demanda por água tratada dos moradores da RMC até 2030. Mas, ao mesmo tempo que é uma das responsáveis pelo fornecimento de água na região, a bacia concentra também um conjunto de outras atividades, principalmente agropecuárias. E aí pode residir um conflito: sem um controle efetivo, essas atividades prejudicam o solo, o ecossistema e, por consequência, a qualidade da água a ser consumida pelos paranaenses.
Para tentar fazer com que exploração e preservação caminhem juntos, empresas privadas, poder público e moradores da região começaram a unir esforços. Idealizado pela Fundação Grupo Boticário, o movimento Viva Água pretende desenvolver um conjunto de ações para conservação da Bacia do Miringuava. Por meio de um fundo mantido por empresas locais, a previsão é de que, nos próximos cinco anos, sejam investidos R$ 6 milhões nesse trabalho, R$ 1,5 milhão somente nos primeiros 18 meses.
André Ferretti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, explica que a ideia é ter um plano de conservação antes que a nova represa comece a operar. “Cuidar dessa bacia é muito importante não apenas para São José dos Pinhais, mas para toda a região metropolitana. Por isso, nosso objetivo é que, antes que a represa seja concluída e o lago enchido, seja possível conservar toda a região de mananciais. Não vamos esperar a bacia se degradar para tomar providências”, explica.
Para custear esse plano de ação foi criado um fundo filantrópico, que receberá recursos de empresas como o próprio Boticário e a Renault. Entre as ações a serem desenvolvidas estão capacitação de produtores rurais e empreendedores, plantio de mata ciliar, recuperação de vegetação nativa, conservação do solo e incentivo a serviços ambientais. Reuniões e workshops já vêm sendo realizados em São José dos Pinhais para discutir o projeto, ao mesmo tempo que se buscam novos parceiros.
Foco na agropecuária
Um dos focos principais do movimento Viva Água está nos produtores rurais. Segundo Ferretti, 70% da produção agropecuária de São José dos Pinhais está concentrada na Bacia do Miringuava, o que tem gerado alguns problemas no fornecimento de água. “Algumas práticas inadequadas de conservação do solo acabam levando muitos sedimentos para o curso d’água. Nas estações de captação e tratamento de água, são retirados caminhões de lodo, que são em grande parte resíduos provenientes de atividades agropecuárias”, explica. Por causa do excesso de sedimento, o tratamento já teve que ser interrompido, causando desabastecimento na cidade.
Em função disso, o movimento pretende realizar um diagnóstico na bacia, a fim de identificar os principais pontos onde ocorre sedimentação. A partir disso, serão propostas práticas mais sustentáveis, que melhorem a produção e conservem o solo. Outra ideia é promover o pagamento por serviços ambientais voluntários, no qual os produtores assumem o compromisso de recuperar áreas degradadas e são bonificados. “Ao conservar o solo, diminui-se o custo para tratamento da água, visto que ela exigirá menos processos de purificação”, observa Ferretti. A meta é, em dez anos, reduzir em 30% os custos com tratamento de água.
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Negócios sustentáveis
A Sanepar informou, por meio da assessoria de imprensa, que desde 2016 desenvolve junto aos moradores e produtores da bacia o Projeto de Educação Socioambiental do Miringuava, cujo objetivo principal é “criar um ambiente de gestão participativa do território, considerando os usos múltiplos da bacia”. “O projeto está sendo implementado numa perspectiva emancipatória, de forma que a comunidade se empodere de sua atuação como protagonista das ações que garantirão a proteção e preservação ambiental da bacia, adotando práticas sustentáveis do uso do solo e da água. Além disso, o projeto promove ações que visam incrementar a economia local: melhorando a produção agropecuária, incentivando a agroecologia e o empreendedorismo rural”, diz a empresa.
Empreendedores também são o foco do movimento Viva Água, especialmente na área de turismo rural. As colônias Mergulhão e Muricy, que recebem um volume grande de turistas, fazem parte da Bacia do Miringuava, assim como uma das entradas do Parque Nacional da Guaricana, criado para proteger remanescentes de Mata Atlântica na Serra do Mar. “É uma região rica em biodiversidade. Por isso, nosso próximo workshop será focado em negócios sustentáveis, que gerem emprego e renda usando soluções na própria natureza”, destaca Ferretti.
Obras da barragem estão 25% concluídas
A construção de uma nova barragem na bacia do Miringuava é discutida desde 1975 pela Sanepar e pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), mas somente em 2017 o projeto saiu do papel. Com o anúncio de investimentos de R$ 147,8 milhões, a previsão era de que a represa fosse entregue no fim deste ano. Entretanto, problemas com a empreiteira responsável fizeram com que os trabalhos fossem paralisados e a conclusão, postergada. O custo da obra também foi ajustado e hoje, de acordo com a Sanepar, é de R$ 87,8 milhões.
A empresa informou que as obras já executadas representam 25% do previsto. “Já foram executados: canal de desvio do rio, estrada de desvio, escavações da margem direita e parte das estruturas de concreto”, diz a Sanepar, acrescentando que a estimativa para conclusão é de 360 dias.
De acordo com a companhia, o volume total de água do reservatório (38 bilhões de litros) corresponde a 15.282 piscinas olímpicas. A barragem terá 24 metros de altura, o equivalente a um prédio de oito andares, e extensão de 309 metros. Atualmente, o sistema Miringuava, incluindo a Estação de Tratamento de Água, vem tratando menos de mil litros de água por segundo. Após a conclusão da barragem, o sistema terá a capacidade dobrada, passando a dispor de dois mil litros por segundo.
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