O anúncio de que cidades de pequeno e médio porte seriam agraciadas com voos para a capital deixou o interior do Paraná em polvorosa – representou o progresso chegando, na forma de avião, mesmo em lugares que já foram servidos pelo transporte aéreo no passado, como é o caso de Campo Mourão. Superada a euforia inicial, restou a curiosidade de como o programa Voe Paraná vai funcionar. A Gazeta do Povo procurou esclarecer as dúvidas. Confira:
Quanto vão custar as passagens?
O preço dos voos não foi oficialmente divulgado. Mas o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, informou que as passagens devem custar, em média, R$ 350. Dependendo da distância e do prazo de antecedência da compra, pode chegar a R$ 250. Em geral, os valores serão regidos pela regra de oferta e procura. Como de praxe, também os voos mais longos serão proporcionalmente mais caros. O secretário destacou que outros fatores operacionais interferem nos preços.
Quando começa a operação?
A partir de 2 de setembro, algumas curiosidades devem acabar. É quando está previsto o início da venda de passagens, tanto no site da empresa Gol quanto em agências de turismo. A princípio, as primeiras viagens devem ser feitas a partir de 22 de outubro. Contudo, há a possibilidade real de nem todos os trechos serem ofertados já no começo das operações do Voe Paraná. Isso porque alguns aeroportos podem não estar ainda habilitados para pousos e decolagens.
Quais cidades terão ligação aérea?
A primeira lista de localidades atendidas pelo Voe Paraná tinha nove cidades e, muito pela articulação política, o número saltou para 12. São elas: Arapongas, Apucarana, Campo Mourão, Cianorte, Cornélio Procópio, Francisco Beltrão, Guaíra, Guarapuava, Paranavaí, Paranaguá, Telêmaco Borba e União da Vitória. São municípios entre 32 mil e 155 mil habitantes. Contudo, é bem provável que haja dificuldade de colocar em prática a ideia de operar com todas as cidades desde o começo em função de problemas locais.
Todos os aeroportos estão prontos?
Atualmente, não. O secretário Sandro Alex reconhece que alguns aeródromos precisam de obras para que a operação seja possível. Seria o caso de Paranaguá e Paranavaí, por exemplo. De acordo com a apuração da Gazeta do Povo, o aeroporto de Guarapuava está em fase de homologação pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o de Telêmaco Borba está atualmente interditado. Esses são alguns dos problemas que precisam ser resolvidos rapidamente para que o Voe Paraná decole.
É importante destacar também que a maioria dos aeródromos listados não conta com o aparato técnico exigido para voos comerciais, como sistema de vistoria por raio-x (inspeção de passageiros e bagagens despachadas). Assim, quem embarcar em um desses aeroportos rumo a Curitiba terá de desembarcar e reembarcar, caso queira seguir viagem para outra localidade, para passar pelo processo de segurança e controle de acesso (diferentemente do que acontece em conexões entre aeroportos mais estruturados).
Atualmente, nenhum dos 12 aeródromos do Voe Paraná tem serviços de tráfego aéreo, como, por exemplo, torre de controle. Contudo, é possível fazer a operação sem esses profissionais. Também as unidades não contam com bombeiros e outros tipos de suporte que, por um lado encarecem o serviço e por outro fornecem mais segurança aos usuários.
Veja as novas rotas:
Quando o programa foi lançado, Apucarana e Guarapuava não estavam na lista e não tiveram o trajeto do deslocamento até a capital confirmado. Veja abaixo as outras ligações entre Curitiba e o interior já oficializadas.
O modelo escolhido de avião é seguro?
A euforia com a ampliação de voos para o interior do Paraná só não foi maior porque, ao perceberem o modelo de aeronave que seria usado, muitas pessoas demonstraram desconfiança. Nas reportagens publicadas pela Gazeta do Povo sobre o assunto, a maior parte dos comentários foi na linha do questionamento sobre a segurança de aeronaves menores. O modelo escolhido é o Cessna Grand Caravan, que normalmente tem 12 lugares, sendo 9 passageiros.
A reportagem procurou especialistas e os três consultados foram unânimes em defender a segurança da aeronave. Um piloto que tem mais de duas décadas e de 2 mil horas de voo só no modelo deu detalhes (ele preferiu não ser identificado). O profissional comentou que o avião original, o Caravan, foi desenvolvido na década de 80 a pedido da Fedex, empresa de entregas dos Estados Unidos. A encomenda, em linhas gerais, era de uma aeronave pequena, capaz de transporte de cargas e com motor potente.
O resultado deu tão certo que em meados dos anos 90 foi lançado o Grand Caravan, uma versão estendida. No Brasil, é usado pela Força Aérea e também por empresas de transporte de passageiros, como foi o caso da TAM, no passado. É um dos modelos preferidos para a região amazônica, por causa da adaptabilidade para levar cargas e pessoas.
Para um dos pilotos consultados, a desconfiança das pessoas com aviões pequenos vem de um conjunto de fatores. Um é a estatística, já que a maior parte dos acidentes noticiados envolve aeronaves menores. Isso criaria a sensação de que é mais perigoso por ser mais numeroso. Contudo, ele afirma que são tão seguros quanto os aviões maiores.
Outra preocupação comum vem do fato de que os aviões pequenos têm menos estabilidade, balançam mais com o vento, por exemplo. Mas a decolagem não acontece se todas as condições meteorológicas não forem propícias. O piloto ainda destacou que o Grand Caravan tem 15 metros de envergadura de asa, dando condições de planar em caso de problemas técnicos. Ele destacou ainda que, se não fosse com aeronaves pequenas, nem seria possível operar em alguns aeródromos previstos no Paraná, já que o tamanho da pista e o nível de rigidez do asfalto não traria condições de segurança para receber aviões maiores.
Pousos e decolagens serão no Bacacheri ou no Afonso Pena?
Apesar de aeroporto do Bacacheri ser conhecido pela circulação de aeronaves de pequeno porte – e de ter sido o palco do lançamento do programa Voe Paraná, no dia 7 de agosto –, o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, garante que os pousos e as decolagens da aviação regional serão feitos no aeroporto Afonso Pena. Assim, o deslocamento será facilitado, permitindo conexões.
Será possível fazer conexões?
Segundo Sandro Alex, será possível comprar uma passagem Telêmaco Borba-Paris. Ele usa o exemplo para dizer que os moradores do interior do Paraná, e também os visitantes, que recorriam ao carro ou ao ônibus para chegar ao aeroporto mais próximo quando queriam viajar para fora do Paraná agora passarão a ter a oportunidade de comprar o trecho todo, com todas as facilidades envolvidas. Também será possível fazer conexão entre as cidades atendidas pelo Voe Paraná, desde que dentro da rota, como é o caso de Paranavaí-Cianorte, Cornélio Procópio-Telêmaco Borba e Guaíra-Campo Mourão.
É táxi aéreo, ligação sistemática ou voo regular?
Algumas das aeronaves apresentadas pela Gol, em parceria com a empresa de transporte aéreo TWOFlex estão cadastradas na Anac como de táxi aéreo (aquele serviço contratado, extemporaneamente). As exigências para o sistema de táxi aéreo são menos pesadas. Por exemplo: caso ninguém tenha comprado passagem, a empresa pode simplesmente não fazer o voo. No sistema comercial, isso precisa ser comunicado à agência reguladora. Com menos obrigações, a operação fica mais barata. Contudo, como os voos devem ser oferecidos com periodicidade e horário fixos, pelo site da companhia aérea, provavelmente ser encaixarão no modelo regular ou em ligação sistemática, versão que foi operada pela Helisul por um tempo.
Qual o investimento do governo do Paraná?
A ampliação da malha aérea, uma ambição de viés econômico e político do governo estadual, não exigiu investimentos diretos. O Paraná ofereceu renúncia fiscal. Ou seja, pode perder dinheiro, mas talvez ganhe com o aumento de circulação.
Por enquanto, a estimativa é de que a renúncia represente R$ 30 milhões a menos nos cofres públicos, no período 2019-2021. As empresas que ampliam a oferta de voos regionais ganham desconto no ICMS recolhido sobre o querosene, principal custo da operação. A alíquota estava em 18% e, com a expansão, a Gol deve passar a recolher 8%.
Investimento direto o governo deve ter, além da divulgação do programa, com obras em aeroportos. Mas as cidades e, portanto, os valores ainda não foram definidos. O secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, lembra ainda que não há limite de cidades a serem beneficiadas. Ele conta que o sucesso da iniciativa foi tão grande que, de última hora, o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) decidiu incluir na lista Apucarana, que fica a 17 quilômetros de outro local previsto para pousos e decolagens, Arapongas. Para o secretário, a proximidade não irá impedir a operação, uma vez que seria possível alternar os dias de viagem.
Sandro Alex destaca que a empresa área fez estudos de demanda para definir a oferta. Cada cidade deve ter de três a quatro voos semanais – todos com partindo ou chegando a Curitiba.
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