O fechamento das escolas paranaenses às aulas presenciais está piorando as condições de saúde mental de jovens e adolescentes do estado. A avaliação foi feita por um especialista participante de uma audiência pública sobre a volta às aulas presenciais de forma segura no estado promovida pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) na última quinta-feira (8).
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No encontro realizado de forma virtual, o médico especialista em psiquiatria da infância e adolescência Felipe Pinheiro de Figueiredo lançou um alerta para o que chamou de “negligência em relação à saúde mental” dos estudantes. Segundo ele, faz parte do desenvolvimento das crianças um certo grau de separação entre elas e os pais. Esta etapa, disse Figueiredo, não está sendo cumprida como deveria por conta da permanência em casa de quem deveria estar na escola.
“As crianças que estão nas turmas do Ensino Fundamental I, na fase de alfabetização, estão agora muito sujeitas a um ambiente extremamente controlado e com um vínculo muito próximo com a mãe e o pai. Isso pode parecer adequado, mas não é. A criança precisa aprender a se separar dos pais. No momento de reabertura das escolas pode haver um transtorno de ansiedade de separação”, explicou.
Sem aulas, aumenta a procura por acompanhamento psicológico
Em sua fala, Figueiredo apontou que já percebeu um aumento nos casos de jovens e adolescentes que desenvolveram transtornos mentais durante a pandemia. Ele atende pacientes em sua clínica particular e também pelo SUS, e cita uma disparidade entre os dois públicos, principalmente quanto à realidade socioeconômica das famílias.
“Já estamos tendo aumento nos casos de doenças mentais entre jovens e adolescentes. Vejo uma disparidade no SUS e no consultório particular. Poucos casos têm chegado via SUS porque os grandes encaminhadores são as redes de atenção psicossocial e a rede de educação. Essas duas redes estão desmontadas nesse momento. Já no consultório particular eu não tenho mais vagas. Os casos que chegam são muito graves e difíceis de se lidar”, informou.
Esse “desmonte” da rede de atenção, citado pelo especialista, está fazendo com que casos de violência contra os jovens – normalmente denunciados e encaminhados pelas escolas – estejam passando por uma subnotificação. Sem o devido tratamento, os impactos podem ser sentidos no futuro por toda uma geração.
“Está todo mundo confinado dentro de casa, e questões que antes eram amenizadas pelo lazer, pelo esporte, agora não estão sendo mais. Tudo está dentro de casa. Isso cria conflitos e traz impactos para o adoecimento mental. Pais e mães que brigam entre si, de forma exposta, como isso fica para as crianças? É uma exposição ao estresse que não havia antes. Havia redes de proteção para os mais vulneráveis, como a educação em tempo integral, e agora elas estão em tempo integral em casa, o que é muito ruim”, detalhou.
Socialização preocupa o estado
Em entrevista à Gazeta do Povo, a diretora de Planejamento da Secretaria Estadual de Educação (Seed), Adriana Kampa, avaliou que se o cenário atual não é o ideal, pelo menos está melhor do que no ano passado, no começo da pandemia. Ela informou que a secretaria está atenta à necessidade de interação entre os estudantes – apontada pelo psiquiatra como necessária para que os jovens não tenham ainda mais impactos na saúde mental.
“Esse isolamento, essa falta de socialização é o que mais nos preocupa. Todo o processo de aprendizagem é possível de ser resgatado, mesmo que à distância. Mas a socialização não. A secretaria vem tratando desse assunto como uma prioridade. Os estudantes estão afastados já há muito tempo. O trabalho todo de adequação das aulas remotas foi realizado para que nessa sala virtual eles possam ver os rostos uns dos outros. Esse ambiente, mesmo que virtual, é muito sadio e ajuda a retomar essa característica de pertencimento de turma, de união”, explicou.
Kampa disse que a Seed projeta um retorno das aulas presenciais para maio deste ano. Até que essa medida se concretize, as atividades realizadas à distância são adequadas de forma a tornar mais personalizados os conteúdos apresentados pelos professores. O retorno dos pais, contou a diretora, têm sido positivo na maioria dos casos.
Precisamos desse aval da Saúde para o retorno, mas ao mesmo tempo, de uma forma bastante eficiente, estamos conseguindo que esses alunos tenham remotamente uma convivência maior. Isso é muito importante para amenizar toda a solidão, o isolamento. Temos tido muitos relatos de famílias que nos informam a vontade dos estudantes de assistir às aulas. Estudantes que vestem os uniformes no horário de aula. É normal que o adolescente tenha mais rebeldia, mas veja só a falta que essa convivência está fazendo. Colocar o uniforme dá uma sensação de pertencimento, e de certa forma aplaca um pouco essa saudade. As atividades são praticamente as mesmas que tínhamos nas escolas antes da pandemia. Nós só não estamos nas salas de aula”, comparou.
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