Não há o que contestar: o Afonso Pena, em São José dos Pinhais, é o grande atrativo do bloco de nove aeroportos do Sul do país que o governo federal pretende leiloar no ano que vem. Os números provam que a estrela do lote representa sozinho mais do que a soma de todos os outros aeroportos que foram incluídos no mesmo pacote. Segundo dados da Infraero, o Afonso Pena registrou 3,1 milhões de embarques em 2018, contra 2,9 milhões dos demais.
NO CELULAR: Inscreva-se no nosso grupo de WhatsApp e receba notícias diariamente
A estratégia de colocar um aeroporto muito lucrativo entre outros bem menos rentáveis – e licitá-los todos em bloco, com apenas uma empresa administrando todos – foi testada pela primeira vez na semana passada. O governo federal receberá R$ 2,3 bilhões para ceder a gestão de 12 aeroportos brasileiros localizados nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, pelos próximos 30 anos.
Com as unidades de Porto Alegre e Florianópolis já concedidas à iniciativa privada, restava na região Sul o Afonso Pena para atrair a atenção de investidores. E não é apenas pelo alto fluxo de passageiros. O aeroporto tem capacidade instalada no terminal para atender o dobro da demanda e é recorrentemente premiado com o melhor do país na opinião dos usuários. Assim, era a “joia da coroa” da empresa estatal.
Lógica de compensação
A presidente da Infraero, Martha Seillier, esteve no Afonso Pena na tarde desta quarta-feira (27) e destacou a relevância do aeroporto para a logística nacional. “Não será à toa que vai liderar o bloco”, enfatizou. No mesmo lote irão constar outros três aeroportos do Paraná – o Bacacheri, em Curitiba, e os de Londrina e Foz do Iguaçu –, além de Navegantes e Joinville, em Santa Catarina, e Pelotas, Uruguaiana e Bagé, no Rio Grande do Sul.
Martha aponta que a licitação em bloco permite uma lógica de compensação em que uma unidade que talvez não fosse receber grandes investimentos – por parte do poder público ou mesmo de empresa, que não teriam interesse no empreendimento – passa a ter a possibilidade de receber melhorias na estrutura. Essa possibilidade surge a partir da existência de outra unidade sob seu comando que já é lucrativa.
É o caso do Afonso Pena. Se fosse licitado sozinho, poderia atrair mais interessados. Além disso, poderia receber investimentos maiores em obras. É importante considerar, contudo, que a ideia do bloco é do ganho em escala, em que uma única empresa assume a responsabilidade por várias unidades, mas consegue montar uma estrutura única de controle. Além disso, trabalha com a lógica de desenvolvimento regional, em que o aumento da circulação em cada aeroporto menor pode contribuir no fluxo de todos.
Ser gerido por uma mesma empresa que outros aeroportos menores, que exigem maior investimento, pode resultar em menor quantidade de melhorias no Afonso Pena - pois já é funcional e superavitário. Pode também ser explorado inicialmente, ganhando obras que o transformem ainda mais em fonte de capitalização importante para gerar renda suficiente para ‘bancar’ a estruturação dos demais. Tudo depende de como o vencedor da concessão irá lidar com o pacote que terá em mãos.
Ainda não foram definidas quais obras serão exigidas, como contrapartida pela vencedora do leilão. O governo federal abriu um prazo para que interessados em realizar os estudos técnicos e de viabilidade se candidatem.
A Gazeta do Povo listou algumas prioridades de cada aeroporto paranaense e o consultor de infraestrutura e logística da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), João Arthur Möhr, foi entrevistado, em vídeo, e comentou sobre a necessidade da construção de uma terceira pista no Afonso Pena.
Deixe sua opinião