Um telefonema – que parecia golpe – é o ponto alto em meio a tantas adversidades nos últimos dois anos de uma família moradora de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Maria Salete Alves Nowacki, de 65 anos, foi a sorteada com o prêmio principal do programa Nota Paraná em agosto e recebeu R$ 200 mil. Aposentada como auxiliar de cozinha do Hospital Evangélico, ela enfrentava dificuldades financeiras por causa de graves problemas de saúde na família.
A fase difícil começou quando a neta Júlia Pschaidt teve um edema cerebral, em julho de 2016. Então com 18 anos, a estudante do primeiro ano de Arquitetura tinha dores de cabeça constantes e cada visita ao médico ou ao pronto-socorro não resultava em um diagnóstico. O caso foi se agravando até que ela foi levada inconsciente para o hospital. O atendimento foi rápido para evitar a morte, mas os exames identificaram um câncer cerebral.
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Desde então, Júlia já passou por 12 cirurgias. Às vezes atendida pelo SUS e em outras com os custos bancados pelo plano de saúde, ela tem muitas despesas extras, que incluem exames especiais e todo o tipo de suporte que precisa nos tratamentos. Por causa de uma meningite bacteriana que teve em uma das internações, Júlia ficou surda e teve parte da visão comprometida. Hoje usa um aparelho auditivo, financiado em 36 parcelas.
A dona de casa Tatiane Regina Alves, 41 anos, se vira para cuidar da filha. Vende roupas, organiza bazares com as doações que recebe, faz bingos, rifas e pasteladas para arrecadar dinheiro para as despesas. A situação econômica complicada ainda sofreu mais um revés com um assalto, no mês passado, quando os criminosos levaram um carro, com o que estava no porta-malas (produtos em consignação e o dinheiro que tinha sido arrecadado com as vendas). Tatiane é mãe também de Geovanna, de 10 anos, que tem dislexia e também precisa de acompanhamento médico.
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A virada
Tudo estava bastante conturbado quando o telefone tocou no dia 10 de agosto. Aliás, tocou várias vezes. A coordenadora do Nota Paraná, Marta Gambini, teve dificuldades para avisar Maria Salete que ela havia sido sorteada. A aposentada via que era um número não identificado, de DDD 44, e não atendia. Depois de muitas tentativas, Marta decidiu ligar para a filha da ganhadora e só aí conseguiu dar a boa notícia.
Tatiane avisou a mãe, que num primeiro momento não acreditou. “A gente só teve certeza quando olhamos no site”, comenta Maria Salete. Aí a alegria tomou a casa, com a perspectiva de pagar algumas dívidas, custear despesas para a neta e ainda realizar o sonho da casa própria, já que a aposentada mora numa casa alugada. Maria Salete já passou muita dificuldade financeira, até ficou sem comer enquanto acompanhava Júlia em internações no hospital.
A ganhadora conta que, desde o início do programa, em 2015, colocava CPF na nota. Mas só em 2016 descobriu que precisava se cadastrar no site e também aceitar participar dos sorteios para ter algum benefício direto. Mas ela não fazia nada disso pensando nos grandes prêmios – o interesse sempre foi a devolução mensal de parte do imposto arrecadado. De uma vez, chegou a receber quase R$ 100, mas na maior parte dos meses não passava de R$ 20.
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O prêmio
Maria Salete, viúva, e Tatiane, filha única, são muito unidas. Muito religiosas, acreditam que receberam um milagre. Júlia terá de fazer radioterapia e, na semana passada, em meio a alegria do prêmio, a família recebeu a notícia de que o tumor voltou a crescer e que será necessária uma nova cirurgia. E mais: dependendo do resultado de um exame genético, vai depender de um remédio importado. Por isso, elas pretendem continuar com várias ações para arrecadar dinheiro. Para setembro está prevista a rifa de uma bicicleta.
Maria Salete recebeu o “checão” na quinta-feira (16). “Foi muito emocionante”, conta Marta Gambini, que já entregou outras 32 rodadas de prêmios. O sorteio de agosto, especial do dia dos pais, com valores aumentados, entregou também R$ 120 mil e R$ 80 mil para moradores de Curitiba, a assessora jurídica Christiane do Carmo Pavani, de 55 anos, e o motorista Nazir Costa Rodrigues, de 46 anos, respectivamente.
Sobre a impressão que muitas pessoas têm de que os prêmios do Nota Paraná só saem para quem gasta muito – e já é rico –, a coordenadora do programa explica que todo mundo que coloca CPF na nota participa. Toda primeira compra realizada no mês gera um bilhete, independentemente do valor gasto. Depois, cada R$ 50 em notas fiscais dá direito a um novo bilhete, com validade apenas para o sorteio do mês. Claro que o número de bilhetes influencia – são mais chances de ganhar. Mas assim como apostadores ganham com uma aposta simples na Mega-Sena, por exemplo, também um consumidor com apenas uma compra pode sair vencedor.
Cerca de 15 milhões de pessoas já colocaram CPF na nota, mas apenas 2,24 milhões de contribuintes fizeram o cadastro no site para receber dinheiro de volta – destes, aproximadamente 600 mil deixaram de clicar no botão de aceite para participar dos sorteios. Além dos prêmios mais robustos, o Nota Paraná ainda sorteia outros 250 mil bilhetes, com valores entre R$ 10 e R$ 1 mil. Quem não quer colocar CPF na nota, para ter de volta uma parte do ICMS recolhido em algumas atividades, pode doar os cupons fiscais para entidades assistenciais.