A Polícia Federal (PF) começou, nesta quinta-feira (1º), a tomar o depoimento de pessoas citadas nas investigações da Operação Quadro Negro – que apura uma série de desvios na verba destinada a obras em escolas estaduais. As oitivas ocorrem na sede da PF em Curitiba, no bairro Santa Cândida. Pela manhã, seis pessoas foram ouvidas na condição de “declarantes”, entre as quais, o secretário Especial de Cerimonial e Relações Internacionais, Ezequias Moreira, que é próximo ao governador Beto Richa (PSDB). Os investigados na Quadro Negro são o verdadeiro coração do governo do tucano.
Os depoimentos estão relacionados a um inquérito decorrente da operação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), em razão de envolver autoridades com prerrogativa de foro. Os advogados dos declarantes ouvidos nesta quinta-feira confirmaram, no entanto, que as convocações estão relacionadas à delação de Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor - empresa a partir da qual começaram as investigações. Na ocasião, Souza afirmou que os desvios abasteceram a campanha de reeleição de Richa.
A tomada de declarações começou às 9 horas. Um dos últimos a deixar o prédio da PF, Ezequias Moreira prestou depoimento até as 11h30. O advogado dele, Luiz Roberto Juraski Lino, disse apenas que o secretário de Richa respondeu a 60 perguntas e que “optou por esclarecer tudo quanto fosse possível”. A defesa destacou ainda que ele respondeu na condição de declarante.
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Outro que prestou depoimento foi Gerson Nunes da Silva, atual chefe de gabinete do secretário estadual da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB). O advogado de Gerson, José Cid Campelo Filho, afirmou que Gerson não tinha conhecimento a respeito da maioria dos fatos que lhe foram perguntados, mas que respondeu todas as questões. Campelo Filho destacou, ainda, que fez um pedido formal ao ministro do STF, Luiz Fux, - que é relator do caso - para que determine a apuração sobre os vazamentos de informações do inquérito da Quadro Negro (veja a íntegra do pedido ).
Também foi ouvida a servidora Marilane Aparecida Fermino da Silva. Segundo a delação de Eduardo Lopes de Souza, ela teria recebido propina para agilizar a tramitação de pagamento às construtoras envolvidas no esquema - acusação que ela já havia negado à Gazeta do Povo. Após o depoimento, o advogado dela, Norberto Bonamin Jr, disse que ela “optou por responder todos os questionamentos” feitos pela PF, mas destacou que “cerca de 90% das perguntas” não diziam respeito a ela. “Fica cada mas esvaziada a investigação em relação a Marilane”, destacou Bonamin Jr.
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Outro depoente ligado ao poder público, Eduardo Paim - que foi chefe de gabinete de Rossoni - também tinha o depoimento marcado para a manhã desta quinta-feira, mas a oitiva foi reagendada. Também foram ouvidas a ex-secretária da Valor, Vanessa Domingues, e a ex-advogada da Valor, Úrsula Ramos. Nem elas nem os respectivos advogados quiseram se manifestar.
Oitivas
No total, 18 investigados devem ser ouvidos ao longo dos próximos dias. Na tarde de quinta, foram ouvidos o secretário da Comunicação e chefe de gabinete do governador, Deonilson Roldo, o assessor da governadoria Ricardo Rached, e o secretário da Saúde, Michele Caputo Neto. Na sexta-feira (2), devem depor Fabio Dallazem, que ocupa cargo em conselhos de empresas controladas pela Copel, e o ex-secretário Luiz Eduardo Sebastiani.
Richa diz estar tranquilo
Em entrevista ao Paraná TV 2ª Edição, da RPC, de quarta-feira (31), o governador Beto Richa disse estar tranquilo, pois seu governo iniciou as investigações. Ele afirmou ainda que vai manter nos cargos os assessores e secretários convocador a depôr para a PF, dizendo que a acusação é “completamente descabida” e vem de “daqueles que estão desesperados e querem terceirizar seus problemas com a Justiça“.
A Quadro Negro
Deflagrada em 2015, a Operação Quadro Negro apura um esquema de desvio de dinheiro público de obras de reforma e construção de escolas estaduais do Paraná. As investigações do Ministério Público (MP-PR) estimam que o núcleo de corrupção tenha causado um prejuízo superior a R$ 20 milhões aos cofres públicos. O rombo seria ainda maior: segundo a delação de Eduardo Lopes de Souza, o objetivo seria arrecadar R$ 32 milhões à campanha de reeleição do governador Beto Richa. O delator também relata pagamento de propina a outros agentes políticos, como o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), o secretário Valdir Rossoni (PSDB) e o deputado estadual Plauto Miró (DEM). Todos negam as irregularidades.
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