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Empresário Joel Malucelli garante que não participou de qualquer esquema ilícito. | Albari Rosa    /    Gazeta do Povo
Empresário Joel Malucelli garante que não participou de qualquer esquema ilícito.| Foto: Albari Rosa /    Gazeta do Povo

Áudios colhidos no bojo da Operação Rádio Patrulha revelam que o empresário Joel Malucelli, mesmo derrotado no processo licitatório ligado ao “Patrulha do Campo”, acabou participando da divisão informal dos lotes do certame. Fundador do Grupo J. Malucelli e primeiro suplente do senador Alvaro Dias (PODE-PR), Joel estava entre os 15 nomes que se tornaram alvos de mandados de prisão temporária no âmbito da Operação Rádio Patrulha, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em 11 de setembro.

Joel, contudo, não chegou a ser preso naquela data, pois estava em viagem no exterior. No dia 14 de setembro, apenas horas depois de o empresário chegar ao Brasil, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes assinou a revogação das prisões de todos os investigados do caso. Veja o que dizem os investigados.

Nesta terça-feira (25), Malucelli foi denunciado pelo Gaeco pelos crimes de corrupção e fraude em licitação. Se a denúncia for acolhida pela Justiça Estadual, o empresário passa a responder a uma ação penal, na condição de réu.

Patrulha do Campo

Lançado pelo governo do Paraná no fim de 2011, o objetivo do programa “Patrulha do Campo” era oferecer um conjunto de maquinário para os municípios utilizarem em obras de melhoria das estradas rurais. O maquinário seria alugado de empresas, definidas a partir de um processo de licitação, dividido em três lotes. No início de 2012, a partir do resultado da concorrência, o governo do Paraná firmou contratos com as empresas vencedoras: Cotrans Locação de Veículos Ltda, Ouro Verde Transporte e Locação S.A., e Terra Brasil Terraplanagem Ltda-ME.

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A concorrência, contudo, teria sido fraudada. O empresário Tony Garcia procurou o Gaeco para revelar que empresas e agentes públicos envolvidos na licitação planejaram o resultado. Ainda segundo o delator, parte dos valores recebidos pelas empresas contratadas era destinada ao então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) , hoje candidato ao Senado. O político tucano nega que tenha participado disso ou se beneficiado da fraude.

Tony Garcia disse aos investigadores que o empresário Joel Malucelli também participou da fraude. “Desaconselhado por Beto Richa a concorrer no certame licitatório, o colaborador Tony Garcia convidou o empresário Joel Malucelli para fazer parte do intento criminoso”, anotaram os investigadores. A empresa J. Malucelli Equipamentos S.A. também apresentou propostas para os três lotes, mas não saiu vencedora devido ao aparecimento de uma empresa inesperada, a Terra Brasil. Nem por isso teria ficado fora do suposto esquema.

Briga por “patrulhas”

A ideia era que Joel Malucelli assumisse parte das “patrulhas”, como era chamado o conjunto de máquinas que seriam alugadas pelo governo do Paraná, para utilização nas estradas rurais. O lote 1 era composto por 12 patrulhas e atenderia 98 municípios; o lote 2 era composto por 9 patrulhas e atenderia 150 municípios; o lote 3, também com 9 patrulhas, atenderia 151 municípios.

Mas áudios incluídos no inquérito criminal ligado à Operação Rádio Patrulha revelam que uma divisão informal das “patrulhas” gerou discussão entre os empresários. Em conversa ocorrida em dezembro de 2013, Joel Malucelli fala que “menos de quatro patrulhas” não era vantajoso para ele e contesta os parceiros do negócio. No encontro, estão presentes, além de Joel Malucelli e Tony Garcia, os empresários Osni Pacheco (dono da Cotrans, falecido no final de 2015) e Celso Frare (dono da Ouro Verde).

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“Eu fui claro. Menos de quatro eu tô fora, eu falei. Na época eu falei isso”, disse Joel, conforme transcrição do áudio feita pelo Gaeco. “Eu disse ao Tony. Pra mim, não é justo ficar com menos de quatro... Depois de todas as reuniões que nós fizemos, que começou aqui com um monte, aí depois foi diminuindo, depois ficou cinco... No começo era 12 pro Osni, 9 pra mim e 9 pro Celso”, completou ele.

Em outro momento, Joel fala sobre o processo de licitação: “Quando deu merda, eu disse ‘não, não tem problema, a gente soma e divide’. Porque ou era pra eu ganhar, ou era pra ele ganhar. Divide. E eu fiquei com menos... era pra ficar com nove, tô com quatro”.

A discussão ocorria porque Joel foi cobrado a repassar uma das suas quatro patrulhas para Tony Garcia. “Se tivesse algum compromisso com alguém, eu não teria comprado as máquinas. Se eu tivesse compromisso com você, você ia comprar tuas máquinas. Eu não ia comprar máquina pra ninguém… Agora, vocês que fizeram as divisões, se acham que o Tony tem direito, dá pra ele o aditivo”, sugeriu Joel.

Os empresários chegam a reclamar da postura de Joel, mas ele avisa que não vai recuar. “Já tá nos 45 do segundo tempo. Depois de um ano, me empurrar um troço que eu não devo. Pelo amor de Deus. Eu não vou dar um tostão. Eu tô ficando velho, ranzinza e sincero. Não adianta alimentar isso aí...”, falou ele.

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Outro lado

Gazeta do Povo entrou em contato com a assessoria de imprensa de Joel Malucelli, pedindo uma entrevista com o empresário, mas ele optou por não concedê-la. Em nota encaminhada à reportagem, Joel nega ter cometido “qualquer irregularidade” e diz que está “à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos”. 

No Gaeco, a informação é de que, no depoimento prestado pelo empresário no último dia 17, ele teria admitido participação no direcionamento da licitação, e negado pagamento de propina a Beto Richa ou a pessoas ligadas ao tucano.

Já a empresa J. Malucelli Equipamentos, por meio de nota, “nega veementemente a participação em qualquer irregularidade” e pontua que “não firmou qualquer contrato com o governo do Paraná relacionado ao Patrulha do Campo”.

Em depoimento prestado ao Gaeco, Celso Frare admitiu que fez pagamentos irregulares destinados ao grupo político de Beto Richa e depositou R$ 917 mil, a título de ressarcimento. No dia 13 de setembro, ele renunciou à cadeira de membro do Conselho de Administração da Ouro Verde. 

Por meio de nota, a empresa Ouro Verde informou que “prestou serviços de locação de máquinas e equipamentos pesados ao Estado do Paraná durante o período de abril de 2013 a julho de 2015 após se sagrar vencedora em processo licitatório público” e que “cumpriu todas as suas obrigações legais no âmbito de tal contratação”.

Na deflagração da Operação Rádio Patrulha, o advogado Juliano Clivatti, que representa a Cotrans, confirmou que a empresa “prestou um serviço de locação de máquinas ao governo do Paraná, após ter se sagrado vencedora em procedimento licitatório” e que “não há nada de anormal”. A Gazeta do Povo não conseguiu contato com representantes da Terra Brasil.

Chamado para prestar depoimento ao Gaeco, Beto Richa optou por não se manifestar. Desde então, em entrevistas à imprensa, o tucano nega ter se beneficiado de qualquer esquema de corrupção e faz críticas à atuação dos investigadores.

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