“Tenho interesse político, sim. Qual o problema nisso?”, disse o ministro Ricardo Barros, sobre o caso Hemobrás| Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

“Tenho interesse político, sim. Qual o problema nisso?”. Com essa indagação o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), respondeu na manhã deste sábado (30), em Foz do Iguaçu, as duras críticas feitas pelo senador Humberto Costa (PT-PE) sobre a tentativa do progressista de trazer o “mercado de sangue” para o estado. Costa chegou a pedir expressamente a demissão de Barros ao presidente Michel Temer (PMDB), em função do que classificou como “interesses pessoais e eleitorais” no “esvaziamento” da Hemobrás.

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A polêmica foi estabelecida após tratativas em andamento no Ministério da Saúde para que uma fábrica de hemoderivados seja instalada em Maringá, reduto eleitoral do ministro e de sua esposa, a vice governadora do estado, Cida Borghetti (PP). 

O casal esteve em Foz do Iguaçu neste sábado para participar da inauguração de uma nova Unidade de Pronto Atendimento (UPA), recém construída na cidade. Questionado sobre o pedido de demissão dele feito pelo senador pernambucano, o ministro afirmou que Costa agiu motivado por ressentimento. “A posição do senador Humberto Costa é uma posição política, eu a respeito. Afinal, ele se sente ressentido ao notar nossa competência para resolver algo que ele não conseguiu fazer durante o período em que esteve ministro da Saúde. Já estive reunido com o presidente Temer após o ocorrido e não há qualquer constrangimento sobre esta situação”, rebateu Ricardo Barros. 

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Costa chefiou o Ministério da Saúde ao longo dos primeiros anos de mandato do ex-presidente Lula (PT), entre 2003 e 2005. Em 2004, o então ministro criou a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), situada em Recife, capital do estado onde fica a base eleitoral de Costa.

A estatal segue com dificuldades para cumprir os termos do contrato, firmado por meio de uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP), com a representação brasileira da empresa irlandesa Shire. Instituída em 2012, a PDP termina ao final de 2017, podendo ser prorrogada por mais cinco anos. 

“O Conselho da Hemobrás, apenas no dia 26 de setembro, é que decidiu que permaneceria em negociações com a Shire, para que os termos da parceria sejam revistos e cumpridos. Está evidente que esta parceria não prosperou”, avaliou Barros ao justificar sua proposta de formação de um novo consórcio a ser firmado entre o Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), responsável pela fábrica em Maringá, o Instituto Butantan e a própria Hemobrás. Desta vez, porém, não mais em parceria com irlandesa Shire, mas com a suíça Octapharma. 

Risco de prejuízos

A nova transação colocou o ministro na mira do Tribunal de Constas da União (TCU). Isso porque pode haver prejuízo financeiro decorrente da suspensão da PDP ainda em vigor. “Vale destacar que não há nada de ilegal nestes projetos. Todas as críticas se dão por questões políticas. Quanto às recomendações do TCU, foram atendidas. Aliás, o órgão nem deveria tê-las feito, pois tudo o que foi proposto já estava contemplado”, assinalou Barros.