Exatamente um mês após ver rejeitado o pedido para dobrar o pagamento dos lucros da Copel, o governo Beto Richa (PSDB) virou a mesa e conseguiu aprovar a mudança. No mês passado, o Conselho de Administração da companhia havia derrotado a proposta para aumentar de 25% para 50% a divisão do bolo entre os acionistas. Na última sexta-feira (28), porém, a medida foi aprovada em assembleia geral, garantindo ao Executivo estadual a entrada em caixa de R$ 150 milhões nas próximas semanas.
Principal acionista da Copel e, portanto, maior interessado nessa nova divisão dos lucros da empresa, o governo defendeu a mudança em reunião do Conselho de Administração no dia 28 de março por meio de um dos seus representantes no grupo, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa. Prevaleceu, no entanto, o posicionamento da direção da companhia de manter o porcentual em 25%, a fim de garantir recursos em caixa e evitar prejuízos ao cronograma de investimentos da Copel.
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Irredutível, o governo voltou à carga neste mês, desta vez na assembleia geral de acionistas. E, por maioria, conseguiu aprovar o aumento do pagamento dos lucros obtidos em 2016 de R$ 283 milhões para R$ 506,2 milhões. Controlador maior da Copel com 85.029 ações ordinárias − 58,6% do total que dá direito a voto −, o Executivo paranaense receberá pouco mais de R$ 150 milhões, a serem pagos ainda neste primeiro semestre.
Fazenda destaca valorização de ações da companhia
Por meio da Secretaria da Fazenda, o Executivo estadual afirmou que, a exemplo de anos como 2013 e 2014, propôs novamente a distribuição aos acionistas de 50% do lucro obtido pela Copel no exercício anterior. “O governo, dono de 31% das ações da companhia, entende que a Copel possui disponibilidade financeira adequada para suportar o pagamento de 50% de dividendos aos acionistas”, justificou.
Além disso, defendeu que, graças à nova política de distribuição de dividendos aprovada na última sexta, as ações da companhia subiram 6,5% nesta terça-feira (2), o que “ajudará nas operações de captação de recursos programadas”.
Diretoria da Copel era contra ao aumento no repasse dos lucros
A posição defendida pelo governo do estado e seguida pela maior parte dos acionistas contrariou entendimento da diretoria da Copel de que essa diferença de 25% sobre os lucros – cerca de R$ 223,3 milhões − deveria ser destinada à “constituição da Reserva de Retenção de Lucros, cuja finalidade é assegurar o programa de investimentos da Companhia”.
Segundo funcionários da companhia ouvidos pela reportagem, essa perda de recursos pode comprometer o cronograma de investimentos projetados pela empresa. “Qualquer passo mais forte em distribuição de lucros neste momento é temerário para as condições financeiras da Copel e para a perspectiva de manter o ritmo adequado de investimentos. O esforço será muito grande para poder enfrentar esse desafio”, resume um deles.
Esse prognóstico ruim se deve ao fato de que atualmente o grosso do que é investido pela Copel vem de recursos próprios, oriundos, principalmente, de uma ampla carteira de investimentos no mercado de capitais. Além disso, a companhia paranaense sofre de limitações de crédito junto ao BNDES e a outros órgãos de financiamento devido a restrições impostas pelo Conselho Monetário Nacional, que privilegia as estatais federais.
Diretor nomeado pelo governo é demitido
Diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Copel, Luiz Eduardo Sebastiani foi comunicado pelo Palácio Iguaçu que será substituído do cargo. Ex-secretário de Finanças da prefeitura de Curitiba e ex-secretário estadual de Administração, da Casa Civil e da Fazenda – sempre nas gestões Beto Richa (PSDB) –, Sebastiani foi o porta-voz do comando da Copel na defesa da manutenção do porcentual de 25% dos lucros a ser repassado aos acionistas. Na reunião de março do Conselho de Administração, coube a ele explicar as razões pelas quais a direção da companhia era contra o aumento para 50%.
Apesar dos anos dentro do governo Richa, divergência com quem o nomeou para o cargo não foi perdoada. A saída de Sebastiani ainda não foi oficializada, mas já é criticada por setores dentro da Copel. Em reunião do Conselho de Administração na última quinta-feira (27), outros conselheiros externaram terem recebido com “desalento e perplexidade” sua iminente demissão, diante da dedicação dele ao trabalho e do “comprometimento com a busca por melhores resultados para a empresa”.
No encontro, os conselheiros demonstram ver relação direta com a postura de Sebastiani de tentar “não colocar em risco covenants financeiros da companhia e garantir a execução dos investimentos necessários ao atingimento dos parâmetros técnicos pactuados no contrato de concessão da empresa”, que se pauta por atuar em prol do interesse público.
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