Foram 8 horas de júri no primeiro dia do julgamento de Fernando Ribas Carli Filho, em Curitiba. O ex-deputado estadual compareceu, se disse arrependido e falou que “eles não saíram para morrer, mas eu não saí para matar”. As mães dos dois jovens mortos choraram bastante e tiveram de ver imagens dos filhos depois do acidente, expostas no telão durante o júri. O desfecho do julgamento – que será retomado às 9h30 − deve se dar na tarde desta quarta-feira (28) com os votos dos sete jurados e, no caso de condenação, a definição da pena por parte do juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar.
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Quase nove anos depois da madrugada de 7 maio de 2009, em que morreram Gilmar Rafael Yared (26 anos) e Carlos Murilo de Almeida (20 anos), Carli Filho falou publicamente pela primeira vez sobre o acidente. Em pouco menos de 20 minutos, ele reconheceu ser culpado pelas duas mortes, mas disse que jamais teve essa intenção. Ao responder a uma das perguntas do juiz, dirigiu-se às mães dos dois rapazes com a voz embargada e pediu desculpas: “Eu sei que eu nunca tive a oportunidade de pedir desculpa para a dona Christiane e para a dona Vera. Quero hoje poder pedir desculpas pelo que eu causei”.
Yared não vê sinceridade no pedido de desculpas de Carli Filho
No depoimento, o ex-parlamentar afirmou que nunca fugiu do processo judicial, mas usou o direito de ampla defesa por entender que a denúncia contra ele não é correta – foram mais de 30 recursos. “Eu jamais poderia imaginar que aquele carro passaria pela minha frente. Ninguém poderia imaginar. Eu errei, eu bebi e eu dirigi”, declarou. Negando que estivesse fazendo um racha naquela madrugada, disse ter encontrado amigos no restaurante e continuado a comer e beber. Respondeu ainda ter acordado dias depois no hospital, sem se lembrar do que aconteceu. Também afirmou que não sabia que a carteira de habilitação dele estava cassada na época – com 130 pontos e 23 multas por excesso de velocidade.
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Outro depoimento bastante esperado, porém, não ocorreu. A mãe de um dos jovens, a deputada federal Christiane Yared (PR), não teve condições emocionais de falar durante o júri. Já bastante abalada, ela e Vera Lúcia de Carvalho viram imagens dos filhos mortos expostas no telão do tribunal. A pedido da promotoria, foi exibida, por exemplo, uma foto com a cabeça decapitada de uma das vítimas. Uma das testemunhas, que passava pelo local do acidente, disse ter coberto a cabeça com uma caixa do sapato.
Depoimentos
Primeira das seis testemunhas a depor, o médico Eduardo Missel confirmou que bebeu no restaurante com o ex-deputado e que ofereceu carona a ele naquela noite. Segundo ele, no entanto, o amigo entrou no carro, mas depois desistiu. A versão foi corroborada pelo segurança do estabelecimento Altevir dos Santos. Além de afirmar que chegou a segurar Carli Filho para que não caísse, o segurança declarou que insistiu para que ele aceitasse a carona. “Fiz de tudo. Senti que não era coisa boa.”
Na sequência, entretanto, houve dois depoimentos divergentes. Leandro Lopes Ribeiro, que trafegava pelo local e presenciou o acidente, garantiu ter visto o carro do ex-deputado ter saltado cerca de 1,5 metro do chão e atingido o veículo dos dois jovens na altura do porta-malas, perto do para-brisa traseiro.
Por outro lado, o perito Ventura Martelo Filho, contratado pela defesa de Carli Filho, negou que tenha havido decolagem – o que só seria possível a 250 km/h − e defendeu ser impossível determinar a velocidade do carro no momento da batida – a perícia oficial fala de 161 km/h a 173 km/h. Além de criticar as análises feitas pelo Instituto de Criminalística e também pela perícia particular contratada pela família Yared, Martelo Filho afirmou que o veículo das vítimas não parou no cruzamento, e apenas reduziu a velocidade. Portanto, os jovens poderiam ter evitado a batida.
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