O ex-vereador e ex-secretário de Bituruna (sul do Paraná) Nereuvaldo da Silveira, o “Nereu”, citado em delação feita no âmbito da Operação Quadro Negro, ocupa o cargo de diretor administrativo-financeiro do Fundepar, autarquia do governo do Paraná recriada pela gestão Beto Richa (PSDB) para cuidar da chamada “parte física” da área da Educação, ou seja, obras em escolas, transporte de alunos, merenda.
Nereu foi indicado para o Fundepar pelo deputado federal licenciado Valdir Rossoni (PSDB), atual secretário-chefe da Casa Civil, alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) aberto na esteira da Operação Quadro Negro – investigação sobre desvio de dinheiro a partir de contratos para construção e reforma de escolas no Paraná, firmados entre a empresa Valor Construtora e a Secretaria da Educação.
O Fundepar, extinto em 2007, foi recriado pela gestão Beto Richa no final de 2014, e oferecido para Maurício Fanini, então diretor de Engenharia, Projetos e Orçamentos da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude), braço da Secretaria da Educação. Mas, já em meados de 2015, Fanini se tornou alvo da primeira fase da Operação Quadro Negro, e o Fundepar acabou esquecido. Ressuscitou praticamente dois anos depois, com a regulamentação da autarquia publicada em 29 de maio de 2017. E Nereu foi logo na sequência nomeado para o cargo de diretor administrativo-financeiro, pelas mãos de Rossoni.
Tanto Nereu quanto Rossoni aparecem na delação do dono da Valor Construtora, Eduardo Lopes de Souza. Os dois rejeitam a narrativa do empresário, e negam qualquer envolvimento nos crimes. A delação foi homologada em setembro do ano passado pelo STF.
DELAÇÃO
Na delação, Eduardo Lopes de Souza fala que Nereu o ajudou a vencer licitações na cidade de Bituruna, reduto eleitoral de Rossoni, antes de assinar contratos maiores, diretamente com a Secretaria da Educação, do governo do Paraná. “O Nereu falou que ia colocar no edital uma exigência de que a visita técnica realizada pelo engenheiro das empresas fosse feita às oito horas da manhã, horário em que dificilmente alguém compareceria. Eu mesmo não compareci, nem ninguém pela Valor, mas eles emitiram para mim o atestado referente a essa visita técnica da mesma forma”, declarou Lopes de Souza a investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Eu ganhei um total de sete licitações em Bituruna, em contratos que, considerando os aditivos, somaram cerca de R$ 6 milhões, dos quais repassei para o deputado Rossoni cerca de R$ 460 mil”, apontou o delator.
Em outro trecho da delação, Lopes de Souza afirma ainda que Nereu também pediu ajuda financeira – via “caixa dois” – para sua campanha eleitoral em Bituruna. “Em 2012, o Nereu foi candidato a vereador e me procurou numa obra e me pediu R$ 10 mil como colaboração. Combinamos dele vir até a minha casa em Curitiba, onde eu repassei para ele a quantia solicitada. Acredito que essa colaboração não foi declarada à Justiça Eleitoral”, registrou o dono da construtora.
OUTRO LADO
Nereu figura na lista de 18 pessoas chamadas agora em fevereiro para prestar esclarecimentos em relação à delação de Eduardo Lopes de Souza. Os depoimentos, embora colhidos em Curitiba, na sede da Polícia Federal, servirão para abastecer a investigação que tramita em Brasília, no STF.
Na sexta-feira (2), questionado pela Gazeta do Povo sobre a indicação do ex-vereador para o Fundepar, Rossoni respondeu que Nereu “conhece bem a atividade escolar e tem um currículo que o qualifica para o cargo”. “Tem experiência profissional como diretor escolar, secretário municipal de Educação e assistente de chefia de Núcleo Regional de Educação. O fato de ele ter sido citado não o coloca como investigado. Ele está contribuindo com o processo prestando esclarecimentos”, defendeu o secretário-chefe da Casa Civil, em nota.
A Gazeta do Povo também procurou uma manifestação da Secretaria da Educação sobre o tema. “A escolha dos diretores é feita pelo diretor presidente do Fundepar conforme termo de cooperação técnica formalizado entre o Fundepar e a Casa Civil, e ele [Nereu] foi nomeado através da Resolução 171 de 26 de julho de 2017”, limitou-se a pasta.
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