Patricia Gomes Alves Secorun fez dois cursos superiores e três pós-graduações e, mesmo com essa formação, recebe R$ 915,85 como professora concursada da prefeitura de São Pedro do Paraná, no extremo Noroeste. “O líquido é R$ 865, porque ainda tem os descontos, né”, complementa. Ela e outras seis professoras da cidade ganham os menores salários entre todas as redes municipais de ensino do estado.
São Pedro do Paraná é uma das 59 cidades que não respeitam o piso nacional do magistério, exigido por lei (leia matéria sobre a situação nas outras localidades). O mínimo que um professor deveria receber, por uma carga de 20 horas semanais, é R$ 1.149,40. A partir do final de janeiro, o valor passa a ser R$ 1.227,68.
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Patricia sempre quis ser professora, mas casou cedo e, para cuidar da filha, adiou o sonho. Quando a menina tinha cinco anos, foi trabalhar numa fábrica. “Aquilo não era para mim. Eu queria estudar.” Como auxiliar de serviços gerais numa escola, começou a cuidar de crianças. Cursou Letras e Pedagogia. Depois se especializou. Passou no concurso da prefeitura e assumiu o cargo em 2017.
Divorciada, Patricia depende do salário como professora para sustentar a família. Por isso, fez concurso e dá aulas em outra cidade. Em Loanda, a 22 quilômetros, recebe R$ 1,4 mil. “É difícil de entender. A pessoa presta o mesmo serviço e recebe um pagamento tão diferente”, diz a professora, acrescentando que se sentia frustrada todos os meses. “Eu gosto daqui, queria trabalhar na minha cidade”, confessa. Segundo ela, o município que fica às margens do Rio Paraná e tem 2,5 mil habitantes tem muitas qualidades, como um eficiente sistema público de saúde.
Por causa do salário, Patricia decidiu pedir exoneração e abrir mão de um cargo de concurso. Aceitou uma proposta para dar aulas em uma escola particular de outra cidade. Também pesou na decisão a perspectiva de futuro. “Como vai ser na velhice ganhando esse valor?” A preocupação faz sentido. A professora com melhor salário na prefeitura de São Pedro do Paraná ganha R$ 1,6 mil e trabalha há 33 anos. “Acho muito triste a pessoa entregar a sua vida, a sua saúde e terminar a vida assim”, diz. As baixas remunerações têm afastado os profissionais da carreira no magistério. Segundo Patrícia, vários concursos foram realizados e não preenchidos. “As pessoas passavam, mas quando se deparavam com o salário real, desistiam”, conta.
Alento à vista
Ainda em janeiro, São Pedro do Paraná deve sair da condição de prefeitura que pior remunera os professores. Em dezembro, durante a reunião de distribuição de aulas, todos foram informados que o município vai passar a pagar o piso. A prefeita Neila de Fatima Luizão Fernandes (PTB) conta que o mínimo será de R$ 1.234. “É merecido o reajuste”, diz. Ela alega que estão concluindo o primeiro ano de gestão e fazendo de tudo para colocar em dia a situação financeira.
A atual prefeita era professora até 2004 e também recebia um salário baixo. “Era um desejo grande regularizar o caso, porque sabemos da importância”, complementou. Neila conta que havia muita reclamação entre os 31 professores do município. “Fizeram um concurso e vamos admitir mais oito”, comemora a prefeita, acrescentando que o valor, desta vez, estará dentro que exige a lei.
Atualmente, o gasto com salários do funcionalismo em São Pedro do Paraná está em 44% da receita e, por causa disso, foi possível resolver a situação dos professores, concedendo o reajuste de 35% no valor inicial.
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