A 23ª Vara Federal de Curitiba homologou na sexta-feira (17) a delação premiada de Hugo Ono no âmbito da Operação Integração. Ele era funcionário da empreiteira Triunfo/Econorte. Ono não chegou a ser denunciado na ação penal original, mas era tido como contador e peça chave da empresa no esquema de propina.
Ono narra que Hélio Ogama, ex-presidente da empresa, comentava sobre pedidos “superiores” para efetuar entregas de dinheiro, que algumas remessas foram solicitadas por Sandro Lima, funcionário da Econorte, e que Leonardo Guerra, administrador da Rio Tibagi, que pertence ao grupo Triunfo, era a pessoa responsável pelas entregas. A delação fala em aproximadamente R$ 20 mil por mês aos operadores financeiros e agentes públicos do esquema. As entregas ocorriam na sede da Econorte em Londrina, no Norte do Paraná.
Ono chega a narrar uma conversa por telefone com Carlos Nasser, ex-assessor da Casa Civil, sobre problemas no pagamento da propina, embora não soubesse “quais serviços” ele prestava à empresa. Ele diz que conheceu Nelson Leal Jr., também preso na operação, mas não tem conhecimento de nenhum ilícito envolvendo o ex-diretor Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) – a delação dele também já foi homologada pela Justiça.
O novo delator disse ter conhecimento de repasses à GTech, administrada pelo ex-servidor do DER-PR Oscar Gayer. A empresa era incumbida de fazer medições de obras realizadas pela Econorte na rodovia BR-369. O filho dele, Oscar Gayer Filho, mantinha um “laboratório” a serviço da concessionária e para a qual fazia “voltar” dinheiro que lhe era pago.
Em outro trecho do depoimento Ono diz que assinou por procuração um contrato de prestação de serviços advocatícios com o escritório do advogado Rodrigo Tacla Duran, apesar de desconhecer a natureza do contrato. O depoente apresentou cópias de recibos de pagamentos ao advogado que somam aproximadamente R$ 480 mil apenas em 2012.
Hugo Ono recebeu como recompensa pela colaboração a redução de pena de oito anos de prisão em regime fechado para quatro horas semanais de serviços comunitários durante dois anos. Além disso, terá de devolver em três parcelas R$ 50 mil a título de reparação dos danos. Ele não teve bens confiscados.
Outras delações
A desembargadora Cláudia Cristofani, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) homologou, no final de julho, a delação premiada de Hélio Ogama, ex-diretor-presidente da Triunfo/Econorte. Ogama se compromete a colaborar na elucidação dos fatos em apuração no âmbito da operação e, além disso, a devolver R$ 2,2 milhões em forma de multa compensatória.
Nelson Leal Jr. também teve a delação homologada no TRF-4. Ele confirmou para investigadores do MPF que integrava uma associação criminosa envolvendo agentes públicos, operadores financeiros e empresários, incluindo pessoas ligadas à Econorte, concessionária de pedágio que atua nas estradas do Paraná e faz parte do Anel de Integração. Por causa do acordo de colaboração premiada, Nelson conseguiu deixar a prisão, mas terá que pagar multa de R$ 1,2 milhão.
Outro lado
Como Hélio Ogama também firmou um acordo de colaboração premiada, a defesa dele informou que não tem se manifestado sobre o processo. Na manhã desta quarta-feira (22), a reportagem tentou contato com a defesa de Carlos Nasser, mas não conseguiu.
A Triunfo Participações e Investimentos emitiu nota apontando que “não comenta investigações em andamento e tem prontamente atendido a todas as solicitações das autoridades”.
A Gazeta do Povo também não conseguiu contato com a GTech.