Beto Preto, secretário de Saúde do governo do Paraná, admite que será preciso criatividade para solucionar problemas com poucos recursos.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Cento e vinte dias para um primeiro diagnóstico. Essa é a previsão do secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, para que a pasta esteja pronta para iniciar – de fato – o trabalho de planejamento da gestão do Sistema Único de Saúde, com vistas a dar conta da demanda no estado. O prazo foi apontado pelo secretário em entrevista à Gazeta do Povo ao comentar o cenário encontrado nesses primeiros dias de nova gestão: “é um momento de reconhecimento das dificuldades e de definição de estratégias. Não é mais do mesmo”, defendeu, “é montar uma estratégia para virar uma página, [uma estratégia de] inovação”.

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Sobre essa palavra, tão citada no plano de governo de Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), Beto Preto defendeu a lógica a ser aplicada na área de saúde: “inovar às vezes vem em economizar etapas de trabalho, desburocratizar; mas a inovação também é levar uma consulta especializada para aquele cidadão que está tendo que andar 200, 300 quilômetros para buscar por um serviço”, pontuou.

Ao avaliar os principais desafios do novo governo na área, o secretário destacou justamente a necessidade de interrupção da busca por serviços em grandes centros de referência, com a constante circulação de pacientes pelas rodovias atrás de atendimento especializado. Nesse sentido, Preto lembra uma das principais promessas de campanha: a criação de uma nova macrorregião de saúde, a quinta do estado. Abarcando as áreas de Guarapuava, Irati e Ponta Grossa, a divisão tem potencial para suprir um vazio de atendimento e tirar a pressão sobre as demais regionais “com oferta de serviços que pudessem ser plenos para evitar deslocamentos”.

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Em paralelo, objetiva-se uma também planejada consolidação dos serviços de maior complexidade em todas as macrorregiões; apesar de reforçar a promessa de reforço na estrutura, o secretário não fala em cronograma: “há muitas diferenças entre cada área, cada convênio, consórcio. Eles são díspares, há uma lógica de maior oferta em alguns locais, menor oferta em outros locais, nós estamos trabalhando no diagnóstico disso”, pondera o secretário.

Inovar às vezes vem em economizar etapas de trabalho, desburocratizar; mas a inovação também é levar uma consulta especializada para aquele cidadão que está tendo que andar 200, 300 quilômetros para buscar por um serviço

Apesar do destaque para a criação da Macrorregião dos Campos Gerais, o secretário de Ratinho Junior admite que todas as regionais demandam ampliação de investimentos. Ele reforça, nesse sentido, a principal questão a ser considerada para os planejamentos: “a oferta de serviços da saúde pública é viva, vai acontecendo diariamente. É necessário que a gente tenha entendimento disso, a demanda de saúde é dinâmica, por isso é um trabalho em aberto”.

Nesse sentido, Beto Preto pontuou a necessidade de abrir discussões junto aos municípios, responsáveis pelas Unidades Básicas de Saúde, a porta de entrada do sistema, defendendo uma união de esforços para organizar o serviço e dar conta de custear a máquina do SUS.

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“Construir é o menor dos problemas”

Para colocar as estruturas da saúde pública para funcionar, o atual governo terá que vencer algumas lacunas deixadas pela gestão anterior, caso de obras entregues, mas sem equipamentos ou pessoal, à exemplo da nova ala inaugurada no Hospital Universitário de Maringá, nos últimos meses da administração Cida Borghetti. Durante a inauguração do espaço, o então secretário de saúde, Antonio Caros Nardi, afirmou que o mais difícil estava feito, mas a lógica é rebatida pelo atual comandante da pasta.

“Planejamento é tudo”, dispara. “Se você vai fazer um investimento, não adianta pensar só na obra. Cal, tijolo não atende ninguém, quem atende é o ser humano ali dentro, o profissional de saúde, preparado, capacitado e com os insumos necessários para que isso possa ocorrer. Tudo isso tem que estar junto. Você não faz o atendimento de saúde se não tiver todo esse enxoval”.

A estratégia passa por seguir o caminho traçado já na campanha. “Nossa missão na secretaria é seguir aquilo que o governador Ratinho coloca como necessário. Ele fala de inovação. Às vezes a inovação é montar essa especialidade funcionando lá perto da casa das pessoas. Às vezes é entregar obras completas e não obras apenas de paredes construídas. Essa é uma outra lógica. A discussão tem que ser feita”, finaliza.

Aqui, o secretário de Saúde Beto Preto comenta também possíveis saídas a serem adotadas para atender à demanda por serviços, com o aparecimento de outro termo característico do plano de governo de Ratinho Junior: as Parcerias Público-Privadas (PPPs). “Querendo montar um novo caminho a seguir, com legalidade, com segurança jurídica”, destaca, ao afirmar que modelos já implantados em ouros pontos do país passarão por estudos por parte da equipe paranaense.

No tocante a possíveis questionamentos com relação à cessão de serviços públicos à iniciativa privada, ressalta: “é um momento de mudança, e ele tem que ser entendido por todos. Nós temos um limite financeiro, não adianta falar que vamos comprar todos os serviços existentes porque não tem caixa para isso, não dá para resolver. Nesse momento temos que encarar os nossos limites financeiros, nossos limites pessoais e montar com o recurso existente o melhor atendimento possível”.

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A questão dinheiro

Ponto sempre destacável na gestão, os recursos também são preocupação central para Beto Preto. “Precisamos tentar a recomposição do teto financeiro junto ao governo federal”, revela, ao comentar a diferença entre o recebido via União e os gastos realizados. “Temos um valor de R$1,4 milhão recebido ao ano e R$ 1,7 milhão contratado. É um gap que precisa ser analisado”, diz o secretário.

Médico formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Carlos Alberto Gebrin Preto é especialista em Medicina Nuclear e tem pós-graduações em Medicina do Trabalho, Medicina de Trânsito e em Medicina Legal e Perícias Médicas. Durante o governo de Luis Inácio Lula da Silva foi diretor-geral da Ouvidoria Nacional do SUS, em Brasília. Foi prefeito de Apucarana, eleito pelo PSD, partido de Ratinho Jr, tendo renunciado ao cargo para assumir a Secretaria de Estado da Saúde.