O ex-superintendente de Fundos de Investimentos da Caixa Econômica Federal (CEF) Roberto Carlos Madoglio, delator no âmbito da Operação Greenfield, disse que entregou ao próprio fundador do Grupo J.Malucelli, Joel Malucelli, o número da conta bancária na Suíça na qual receberia propina do empresário de Curitiba – aproximadamente R$ 500 mil. Joel Malucelli é suplente do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), pré-candidato a presidente da República. A empresa nega “veementemente” as acusações e acrescenta que “não ofereceu qualquer vantagem indevida e que pauta suas operações pela ética e responsabilidade” (clique e confira o outro lado ).
O “agrado”, nas palavras do delator, tinha relação com um aporte de cerca de R$ 300 milhões feito em 2009 pelo Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), ligado à Caixa, em usinas elétricas da J.Malucelli Energia, braço do Grupo J.Malucelli. A propina, ainda segundo o delator, teria sido oferecida pela primeira vez por Alexandre Malucelli, como já havia revelado a imprensa, no início do mês. Alexandre é filho de Joel e presidente do grupo desde 2013.
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“É claro que não é correto, mas é normal no mercado. Ele [Alexandre Malucelli] foi direto [ao oferecer a propina]. Depois eu conversei com o Joel Malucelli, que foi para quem eu passei o número da conta na Suíça, em uma reunião em Curitiba”, disse Madoglio aos investigadores do Ministério Público Federal, em depoimento prestado em 9 de novembro de 2017.
A delação já foi homologada pela 10ª Vara Federal do Distrito Federal, em Brasília, e envolve outros empresários. Mas, de modo geral, Madoglio afirma que ele próprio não exigia o pagamento de propina para liberar operações na Caixa e que os aportes feitos pelo FI-FGTS seguiam “trâmites normais”. No episódio envolvendo a J.Malucelli Energia, por exemplo, Madoglio sugere que o aporte se concretizaria com ou sem propina.
Madoglio também contou aos investigadores que não mantinha controle dos pagamentos recebidos e que, por isso, nem é capaz de apontar no seu extrato bancário qual teria sido a transferência relativa ao Grupo J.Malucelli. “Todas as transferências para essa conta na Suíça são pagamentos indevidos, mas não posso afirmar categoricamente qual foi a transferência do J.Malucelli. Esse é um dos casos que eu não tenho certeza absoluta que o depósito foi feito. Mas eu afirmo que nós tivemos as conversas”, explicou o delator, que se comprometeu no seu acordo de colaboração premiada a devolver quase R$ 40 milhões até dezembro de 2018. O valor é referente a todas as propinas que ele diz ter recebido de empresas.
Outro lado
Procurado pela Gazeta do Povo, o Grupo J.Malucelli se manifestou por meio de nota, na qual “declara veementemente que não ofereceu qualquer vantagem indevida e que pauta suas operações pela ética e responsabilidade”. “Basta observar com atenção a referida delação para verificar o quão absurda a mesma é, sem qualquer credibilidade, visando o delator atenuar eventuais delitos cometidos, envolvendo terceiros de forma aleatória”, diz o texto.
“O conteúdo da delação é todo vago, uma vez que o delator, por um lado atesta a regularidade da operação, e por outro, não sabe precisar nem onde nem quando a alegada conversa ocorreu, bem como não sabe precisar o valor ofertado e, declara ainda não ter como comprovar se o valor foi de fato pago. A J.Malucelli Energia informa ainda que todas as cláusulas do contrato estão sendo cumpridas e todos os investimentos aprovados e auditados por empresas internacionais de auditoria, sendo um dos ativos investidos pelo FI-FGTS com melhor retorno e segurança para o fundo. A empresa espera que o fato seja definitivamente esclarecido o mais rápido possível”, conclui a nota.
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