O atual secretário-chefe da Casa Civil do Paraná, Guto Silva (PSD), teria recebido R$ 100 mil como doação não declarada em 2014, quando concorria ao cargo de deputado estadual. A informação consta da delação premiada do ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER) Nelson Leal Junior e foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Guto Silva nega (veja o que secretário alega).
Segundo o delator da Lava Jato ao Ministério Público Federal, ele próprio entregou em mãos o dinheiro, no prédio do DER, a Guto Silva, que acabou sendo eleito. À procuradoria, Leal Junior afirmou ainda que o dinheiro teria sido solicitado pelo então secretário e irmão de Beto Richa, José Richa Filho (Pepe Richa), ao então presidente da concessionária Econorte, Helio Ogama (que também firmou acordo de delação). Veja o que disse Pepe Richa.
LEIA MAIS: Família Richa e contador viram réus em denúncia de lavagem de dinheiro
O recurso, segundo o ex-presidente do DER, seria utilizado na campanha de Guto Silva, que naquele ano foi eleito pelo PSC para a Assembleia Legislativa do Paraná com mais de 45 mil votos. Em 2018, Guto Silva foi reeleito, mas renunciou ao mandato para assumir a Casa Civil na gestão de Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), em janeiro.
O relato de Nelson Leal Junior em delação é de que, no dia marcado para que Ogama fizesse o pagamento da “ajuda política”, Pepe Richa não estava no DER e, por isso, coube a ele receber o dinheiro, com a orientação de que o entregasse na sequência a Guto Silva, o que ocorreu naquele mesmo dia.
Secretário nega irregularidades
Ao Estadão , o secretário-chefe da Casa Civil afirmou que nunca esteve no DER e negou ter recebido qualquer valor. Guto Silva afirma que a versão é inverídica, sem a apresentação de provas.
Ainda em sua defesa, Guto Silva disse ao Estadão ser “a favor de que todo ocupante de cargo público possa ser investigado e deve ter os seus atos acompanhados de forma pública e transparente. Mas não tenho nenhum receio ou problema de confrontar essa delação porque é uma declaração mentirosa e caluniosa. Não há nenhum fato que possa, no mínimo, sugerir essa minha conduta. Agradeço essa oportunidade de deixar isso bem claro e a Justiça terá essa certeza também ao final de qualquer apuração”.
À Gazeta do Povo o secretário se disse “surpreso, triste e indignado com a situação” e afirmou nunca ter recebido “recurso ou dinheiro no DER”. O chefe da Casa Civil afirmou ainda: “sempre defendi que quem ocupa cargo público tem que ser investigado e eu não sou exceção. Fiquei sabendo pela imprensa, agora aguardo conseguir mais informações para que possa trazer a verdade e deixar tudo isso a limpo”.
Em viagem ao interior, Guto Silva disse que conversou rapidamente com o governador Ratinho Junior, por telefone: teria avisado a ele sobre os questionamentos recebidos de repórteres sobre a delação e lhe foi recomendado “tranquilidade para esclarecer tudo”.
Ratinho prega “ficha limpa” no seu governo
Em ocasião anterior, o governador Ratinho Junior informou que “ser ficha limpa” é uma das condições para permanecer no Executivo. Na ocasião, ele se referia sobre um alerta do Ministério Público de Contas sobre a permanência de um diretor condenado em um cargo chave na Paranaprevidência. O governo informou que o nome apontado pelo MPC-PR seria mesmo exonerado.
Outro lado
A assessoria de comunicação da Casa Civil encaminhou uma nota de esclarecimento do secretário Guto Silva. Confira a íntegra:
“Recebi indignado a notícia do envolvimento do meu nome em delação no âmbito da Operação Integração. O primeiro ponto a destacar é que se trata de uma declaração inverídica. Uma ilação sem qualquer sustentação na realidade.
Estou à disposição de qualquer instância do Ministério Público e do Poder Judiciário para que tenha oportunidade de apresentar o contraditório em relação à falsa declaração do delator.
Sou a favor de que todo ocupante de cargo público possa ser investigado e deve ter os seus atos acompanhados de forma pública e com transparência. Mas não tenho nenhum receio ou problema de confrontar essa delação porque é uma declaração mentirosa. Não há nenhum fato que possa, no mínimo, sugerir essa minha conduta.
Sigo convicto de que a situação que se apresenta será esclarecida e, ao fim, a Justiça será feita, condenando pessoas que agiram contra o interesse público e tentam dividir sua culpa com quem não têm nenhum envolvimento com os fatos que estão sendo apurados”.
A manifestação de Pepe Richa também se deu por escrito. A nota diz que “a defesa do ex-secretário José Richa Filho esclarece que os fatos são inverídicos e lamenta a credibilidade dada ao criminoso confesso que busca, a todo custo, benesses indevidas. Pepe Richa confia na aplicação da Justiça e continua à disposição para esclarecer os fatos”.
Procurada, a defesa de Helio Ogama afirmou que ele já se manifestou sobre o assunto quando foi ouvido pelo juiz e pelo Ministério Público, após fechar acordo de delação premiada.