Em uma entrevista ao vivo de duas horas à Gazeta do Povo no último domingo (16), o empresário Tony Garcia isentou a família do ex-governador Beto Richa (PSDB) de participação direta no escândalo de corrupção em torno do programa “Patrulha do Campo”. Principal delator do esquema investigado na Operação Rádio Patrulha, ele afirmou que jamais tratou de “dinheiro” com Fernanda Richa e que Pepe Richa, irmão do ex-governador, entrou de “gaiato” no caso. Para o Ministério Público Estadual (MP-PR), porém, ambos atuaram de alguma forma no esquema, a ponto de a Justiça ter aceitado a prisão temporária dos dois. Veja abaixo o que pesa contra cada um - e o que dizem os acusados.
Irmão mais velho de Beto, Pepe comandava a Secretaria de Infraestrutura, à qual estava subordinado o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-PR) – o órgão era o responsável pela licitação das patrulhas rurais. De acordo com as provas apresentadas por Tony Garcia aos promotores, foi dentro do DER que os empresários decidiram o direcionamento da licitação em troca do pagamento de uma contrapartida à campanha de reeleição de Beto Richa, em 2014.
LEIA MAIS: Procuradoria-Geral da República e MP recorrem de decisão que soltou Richa
Num dos áudios, gravado na sede de uma das vencedoras da concorrência, os empresários tratam diretamente com Pepe sobre o porcentual dos contratos que seria destinado ao caixa 2 da campanha do tucano. O irmão de Beto concorda e indica a pessoa a quem o dinheiro deveria ser entregue. Já Celso Frare, da Ouro Verde, que aparece em um vídeo retirando maços de dinheiro de um envelope, disse ao MP que Pepe estava na sala naquele momento.
Tony Garcia, no entanto, disse na entrevista que Pepe é um “pau mandado” do irmão e não teve qualquer lucro pessoal com o esquema. “Se tem uma pessoa que eu lastimo que tenha entrado é o Pepe. Ele é uma pessoa reta e de alma boa. Não pensa em dinheiro e não pegou um tostão. Ele é diferente do Beto, é simples igual ao pai”, declarou o delator. “Infelizmente, o irmão botou ele num cargo complicado, e eu avisei o Beto que ia acontecer pressão, ia ter coisa errada e o Pepe que ia botar a assinatura.”
SAIBA MAIS: Gaeco encontrou dólares, euros e reais em endereços ligados a Beto Richa
Para o MP, Pepe “atuava diretamente coordenando a fraude à licitação e auxiliando na execução do esquema de pagamento de propinas”.
A ex-primeira-dama
Em relação a Fernanda Richa, os promotores a apontam como “auxiliar na lavagem do dinheiro desviado pelo esquema criminoso”, por meio da compra e venda de imóveis em nome de empresas da família. Um dos exemplos envolve a Ocaporã Administradora de Bens Ltda., cuja responsável é a ex-secretária da Família e Desenvolvimento Social.
A companhia adquiriu o lote nº 18, situado no condomínio Paysage Beau Rivage, mediante permuta com dois terrenos localizados no Alphaville Graciosa, ocultando em torno de R$ 900 mil, de acordo com o decreto de prisão da semana passada. André Vieira Richa, um dos três filhos do casal, prestou depoimento ao MP na condição de declarante por ser sócio da Ocaporã.
LEIA MAIS: Tony Garcia diz que Beto Richa sabia de propinas na licitação da PR-323
Na entrevista à Gazeta do Povo, Tony Garcia pediu desculpas por acabar envolvendo Fernanda e os filhos dela, mas disse que eles precisavam conhecer “o verdadeiro Beto”. “Foi involuntário o que eu falei. No depoimento, os promotores me perguntaram [desse assunto], porque o Beto falou comigo pra comprar um terreno num condomínio que eu participava e me pediu pra intermediar um preço mais barato com a pessoa que estava vendendo”, afirmou. “A Fernanda se envolveu, coitada, porque foi dado na troca [do negócio] dois terrenos da empresa dela. Não posso levantar nenhuma dúvida quanto a ela. Nem ele nem nenhum dos filhos nunca falaram comigo de dinheiro.”
Outro lado
A Gazeta do Povo não conseguiu contato com a defesa de André. A defesa de Pepe Richa informou que só vai se manifestar nos autos.
A defesa do ex-governador Beto Richa informou que não houve razão para a prisão dele, especialmente em período eleitoral. A advogada Antônia Lélia Neves Sanches disse que Richa sempre esteve à disposição para esclarecimentos. De acordo com ela, não há vedação de prisão por conta do período eleitoral, “mas houve oportunismo”.
Já de acordo com a defesa de Fernanda Richa, a prisão dela foi juridicamente insustentável “na medida em que a paciente, a todo tempo, dispôs-se a colaborar e colaborou com efetividade em todas as investigações promovidas pelo Ministério Público do Estado do Paraná, inclusive abrindo mão de seu sigilo bancário, como, por exemplo, observa-se recentemente na Operação Quadro Negro”. Fernanda também já apresentou ao Gaeco extratos bancários da Ocaporã Administradora de Bens Ltda., que teria sido usada para lavagem do dinheiro desviado dos cofres públicos.
A Ouro verde informou que “prestou serviços de locação de máquinas e equipamentos pesados ao Estado do Paraná durante o período de abril de 2013 a julho de 2015 após se sagrar vencedora em processo licitatório público e que cumpriu todas as suas obrigações legais no âmbito de tal contratação, inclusive havendo atualmente cobrança judicial contra o Estado por valores não pagos, apesar dos serviços prestados”. A empresa ressaltou que em 45 anos de história “jamais se envolveu e nega qualquer envolvimento com relação a qualquer ato ilícito, e tem plena convicção de que demonstrará isso de forma cabal às autoridades competentes”.
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; acompanhe o Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Enquete: como o Brasil deve responder ao boicote de empresas francesas à carne do Mercosul?
Deixe sua opinião