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Ademar Traiano (PSDB), presidente da Assembleia. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Ademar Traiano (PSDB), presidente da Assembleia.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, afirmou em delação premiada firmada junto à Procuradoria Geral da República (PGR) que o deputado estadual Ademar Traiano (PSDB) – atualmente presidente da Assembleia Legislativa –foi beneficiado por dinheiro do esquema investigado pela Operação Quadro Negro. Em um dos pagamentos feitos ao político, o empresário relatou que Traiano, ao ver a mala com mais dinheiro do que tinha combinado de receber, teria reagido com a seguinte frase: “Não pode me dar mais?”.

Segundo o delator, uma reunião que definiu repasse de “caixa 2” a campanha de Traiano em 2014 foi realizada na casa do governador Beto Richa (PSDB), a 45 dias do pleito. Participaram do encontro, segundo Souza, o próprio Traiano, o então diretor da Superintendência de Educação (Sude), Maurício Fanini, e o governador. Na mesma ocasião, foi definido um repasse via doação não contabilizada também para a campanha de reeleição de Richa.

No texto de sua delação, o dono da Valor disse que foi instado pelo então diretor da Sude a doar para Traiano, pois outra empresa que tinha obras na Secretaria da Educação já tinha “ajudado” com R$ 50 mil. Souza então disse ter se comprometido a doar R$ 100 mil e fez a entrega no gabinete da liderança do governo na Assembleia Legislativa. Nesta entrega, no relato do delator, Traiano teria visto a mala com R$ 300 mil e pedido mais que o combinado, mas Souza disse que respondeu que o restante do dinheiro estava comprometido para a campanha de Richa.

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Meses depois, em dezembro de 2014, Souza relata outro pedido de propina feito por Traiano, desta vez em um café num shopping de Curitiba. O pagamento, também de R$ 100 mil, foi feito segundo o delator também no gabinete da liderança do governo na Assembleia e seria utilizado para quitar dívidas de campanha. A promessa do deputado tucano a Souza foi de que ele seria o próximo presidente do Legislativo e poderia ajudá-lo.

O delator disse que foi demandado por Traiano também em fevereiro de 2015, desta vez sob a alegação de que a empresa do filho estava com problemas de caixa. Mais R$ 100 mil foram pagos a ele, segundo o relato do dono da Valor. Em abril daquele mesmo ano, delatou Souza, o então já presidente da Assembleia teria sido procurado por causa de atrasos nos pagamentos à construtora. Após a regularização dos repasses, foram pagos mais R$ 100 mil ao tucano, desta vez com entrega na casa dele, com o dinheiro acondicionado em caixas de vinho.

Além do pagamento de caixa 2 à campanha do governador, o delator também detalhou o pagamento de “mesada“ a Richa, que tinha como objetivo financiar a campanha dele ao Senado em 2018.

Eduardo Lopes de Souza é um dos denunciados no principal processo derivado da Quadro Negro e estava em prisão domiciliar até o mês passado, quando foi liberado pela Justiça para se mudar para Cuiabá, no Mato Grosso.

Relação próxima com o esquema

Segundo Eduardo Lopes de Souza, além de ter recebido recursos de propina da Valor, Ademar Traiano virou um dos principais interlocutores do delator junto ao governo após a deflagração da Operação Quadro Negro. Em um dos trechos da delação, o dono da Valor relata que o deputado - já presidente da Assembleia - ficou responsável por “resolver” o problema para o governo estadual. E que manteve contato com ele em várias ocasiões, cerca de uma vez por mês. Nesse meio tempo, Traiano teria prometido, segundo Souza, que o governo iria providenciar os recursos para que a Valor contratasse uma outra empresa para concluir as obras e assim cumprir um acordo costurado com a Procuradoria-Geral do Estado (PGE).

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Outro lado

Traiano emitiu uma nota em que disse repudiar “veementemente as acusações infundadas e sem provas apresentadas pela reportagem” e disse que não tem “conhecimento sobre a delação, que não foi homologada e corre em segredo de Justiça”.

Richa também se manifestou por meio de nota, que segue na íntegra:

“O governador Beto Richa classifica as declarações do delator como afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua pena. Tais ilações sequer foram referendadas pela Justiça. E suas colocações são irresponsáveis e sem provas. O governador afirma que nunca teve qualquer contato com o senhor Eduardo Lopes de Souza e sequer fez ou pediu para alguém fazer qualquer solicitação a essa pessoa para a campanha eleitoral de 2014. Todas as doações eleitorais referentes à eleição de 2014 seguiram a legislação vigente e oram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

O governador lembra ainda que foi a própria Secretaria de Estado da Educação que, em abril de 2015, detectou disparidades em medições de algumas obras de escolas e abriu auditoria interna sobre o caso. De imediato, o governador determinou a demissão de todos os envolvidos. As informações levantadas internamente também foram repassadas à Polícia Civil, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado para que tomassem as medidas cabíveis. É importante salientar ainda que a Polícia Civil do Paraná investigou e prendeu os suspeitos na denominada Operação Quadro Negro, a qual jamais teve qualquer tipo de informação antecipada.

Cabe lembrar ainda que, conforme despacho do governador Beto Richa, a construtora Valor e seus responsáveis foram punidos administrativamente pelo Governo do Estado. Nesse despacho do governador, a empresa foi declarada inidônea para participar de licitações com a administração púbica e foi aplicada uma multa de R$ 2.108.609,84.

Seguindo determinação do governador, a Procuradoria Geral do Estado também entrou com ações civis públicas na 1.ª, 4.ª e 5.ª Varas da Fazenda Publica por dano ao erário contra a construtora Valor e pessoas ligadas à empresa, incluindo o senhor Eduardo Lopes de Souza. Os pedidos de indenização pelos danos causados ao Estado somam R$ 41.091.132,80. Há ainda ações de improbidade administrativa contra os envolvidos, que também buscam ressarcimento dos cofres públicos. Ou seja, todas as medidas cabíveis foram tomadas para reparação e ressarcimento do erário público e punição dos envolvidos”.

Fanini não foi localizado para comentar a delação. À RPC, ele disse que não se manifestaria.

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