A despeito dos escândalos em série que enxovalham a imagem de tantos partidos, mais gente está querendo fazer parte da política partidária. É o que mostram os números de filiados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A quantidade de inscritos em partidos políticos no Paraná chegou ao maior número já registrado e está perto da casa de 1 milhão de pessoas. Os 30 partidos com participação no estado somam 983 mil filiados: são 34 mil a mais do que havia no mesmo período do ano passado.
INFOGRÁFICO: Veja o crescimento de filiações no Paraná e no Brasil.
PSC foi a legenda que mais cresceu
Com 4,1 mil filiados a mais, o PSC, ainda comandado informalmente no Paraná por Ratinho Jr − hoje ele está no PSD −, é o partido que mais cresceu no último ano. A legenda já vem de um histórico de crescimento, ano a ano, e em 2017 chegou a 45 mil inscritos no estado. O PMDB, contudo, continua sendo o partido com maior número de filiados no Paraná: com 188 mil, seguido pelo PP, do ministro da Saúde, Ricardo Barros, com 112 mil. O PSDB, partido do governador Beto Richa, ocupa a terceira posição, com 88 mil filiados.
Os dados paranaenses seguem uma tendência nacional, que também registrou aumento na procura por filiação. No Brasil, são 726 mil pessoas a mais, engrossando os quadros partidários, ajudando a ultrapassar a casa dos 15 milhões de filiados. Tanto no estado como no país, a proporção de pessoas que participa de partidos políticos está em uma a cada dez habitantes.
Para o cientista político Mario Sérgio Lepre, autor do livro “Caos partidário paranaense”, essas são notícias alvissareiras. “É sinal de que não estamos com aversão à política”, destaca. Lepre enfatiza que a postura antipolítica não é saída para a situação emblemática do Brasil. “A noção de que todo os políticos são corruptos pode ser um sentimento do brasileiro médio”, diz, se referindo a um senso comum que não afetaria o entendimento de toda a população.
O analista também salienta que os ambientes virtuais têm favorecido a participação política. A possibilidade de filiação partidária online, os debates nas redes sociais e as manifestações de rua tiraram muitas pessoas do comodismo e mesmo da apatia. Ou da noção de que partidos são guetos. O ingresso em coletivos e movimentos sociais também tem sido uma forma de se aproximar da política. Para Lepre, mais pessoas estão querendo participar e até se candidatar, como forma de reagir ao cenário tenebroso nacional. “Há muitos partidos sendo criados”, lembra.
O mais importante, segundo o professor, é não fomentar o discurso de ódio ao sistema político. “A tentativa de despolitizar não é o caminho”, pondera. Lepre avalia que, apesar de quase todos os partidos estarem ligados aos escândalos da Lava Jato, o PT acaba sendo o mais prejudicado do ponto de vista da filiação. É que havia, até antes do escândalo do mensalão, uma relação ideológica muito marcante por parte de muitos que se inscreviam nas fileiras petistas. “O intuito era se contrapor aos partidos, num discurso de combate à corrupção. Quem entrava no PMDB, por exemplo, já sabia de um histórico de problemas e não se sentia impedido”, comenta.
Lepre reforça que o número de inscritos não está relacionado à efetiva participação política da população. A inscrição nem sempre está vinculada a um posicionamento ideológico e não necessariamente significa militância. Há muita personalização, com agremiações que se assemelham a grupos políticos, sob o domínio de “proprietários”, “nomes de peso” que são capazes de atrair novos filiados. É o caso de Ratinho Junior (PSD) e Ricardo Barros (PP), que carregam correligionários para onde forem.
PT do Paraná registra queda
No último, ao menos 676 pessoas deixaram, oficialmente, de serem petistas no Paraná. Esse é o número de desfiliações registradas do início de 2016 para cá. Também tiveram quedas o PCB e o PSTU. A baixa petista é de menos de 1% do total de filiados no estado. Essa não é a primeira vez que a diminuição de filiados ocorre no Paraná. Por aqui, o PT já teve redução no número de correligionários em 2006, 2009, 2011 e 2015.
No Brasil, o número de filiados ao PT subiu: são mais 3,8 mil inscritos. É uma retomada. Nos últimos dois anos – depois de uma década de crescimento vertiginoso que fez a agremiação dobrar de tamanho –, o partido havia registrado a primeira queda histórica no número de filiados. Agora, o partido volta ao mesmo patamar de 2015 – antes de figurar no centro da Lava Jato.
Contudo, o deputado federal Enio Verri, que preside o diretório estadual do PT, comemora os números do partido. Ele conta que uma série de fatores revigoraram os filiados. Para o parlamentar, apesar das baixas registradas, um número considerável de jovens, com menos de 30 anos, indignados com o impeachment de Dilma Rousseff, teriam oficializada a filiação ao PT. Verri ainda destaca que o aumento de intenção de voto em Lula demonstra que o partido está vivo. O deputado também aponta a possibilidade de filiação online (sem precisar ir ao diretório) como um facilitador. “É uma resposta a quem dizia que o partido ia desaparecer”, comenta.
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