Prestes a deixar o cargo de governadora, Cida Borghetti (PP) deflagrou uma guerra no Norte Pioneiro. Há duas semanas, ela confirmou a criação do curso de Medicina da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) em Cornélio Procópio, com previsão de início das aulas em 2020. A decisão, porém, irritou lideranças de Jacarezinho, cidade-sede da instituição, e de Santo Antônio da Platina, onde está o Hospital Regional do Norte Pioneiro. O impasse entre os três municípios terá de ser solucionado pelo governador eleito Ratinho Junior (PSD), que assume em 1º de janeiro.
Pelos cronogramas apresentados por Cida, a UENP vai ofertar 40 vagas de Medicina no vestibular do ano que vem. Ao justificar a escolha por Cornélio Procópio, ela afirmou que o curso irá “descentralizar a demanda pela formação de médicos” no estado e garantir atendimentos de alta complexidade na região, desafogando os grandes centros. A governadora ainda ressaltou a necessidade de aumentar o número de profissionais por habitante no Norte Pioneiro, que estaria em nível inferior à média do estado e do país. A área abrange 46 municípios e concentra cerca de 500 mil pessoas.
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Cida ainda destacou a retomada das obras do Hospital Regional de Cornélio Procópio – paradas há mais de três anos por problemas com a construtora responsável −, cujo prazo para conclusão se encerra no primeiro semestre de 2020. E liberou R$ 8 milhões para construção de novos blocos no campus da UENP na cidade e ampliação da biblioteca, cozinha e laboratórios.
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Revolta
As justificativas, no entanto, não convenceram lideranças políticas e da saúde de duas cidades vizinhas. A primeira a se rebelar foi Jacarezinho, onde fica a reitoria da UENP. Os defensores do município dizem que lá está o Centro de Ciências da Saúde da universidade – com Educação Física, Fisioterapia e Odontologia −, já estruturado e com professores da área, o que tornaria mais econômico para os cofres do estado instalar lá o curso de Medicina.
Já Santo Antônio da Platina, mesmo não tendo campus da instituição, reivindica o novo curso por entender ser o local mais preparado para recebê-lo, com base nos dois hospitais do município: Nossa Senhora da Saúde e Regional do Norte Pioneiro, que somam quase 200 leitos. Os defensores da cidade afirmam que, com a instalação em Cornélio Procópio, os futuros estudantes terão de percorrer longas distâncias para as aulas práticas, até Bandeirantes, Jacarezinho, São Jerônimo da Serra e a própria Santo Antônio da Platina. E também ressaltam que Cornélio Procópio está a apenas 68 quilômetros de Londrina, um grande centro já com alta capacidade de atendimento médico.
A Associação dos Municípios do Norte Pioneiro (Amunorpi), que reúne 14 cidades – incluindo Jacarezinho e Santo Antônio da Platina – tem um abaixo-assinado no seu site manifestando “descontentamento” com a decisão de Cida Borghetti. A entidade fala no martírio dos pacientes pelas estradas da região; a proximidade entre Londrina e Cornélio Procópio; e a estrutura médica já pronta nas suas duas cidades associadas candidatas a ficar com o curso de Medicina.
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Outro lado
Em nota, a UENP afirmou que a escolha por Cornélio Procópio se baseou em “aspectos estritamente técnicos que não poderiam ser viabilizados, atualmente, por outro município do Norte Pioneiro”. A universidade justificou que foi levado em conta o número de estabelecimentos de saúde, de médicos em diversas especialidades e de atendimentos, para que os alunos possam observar e praticar. Pelo fato de a cidade em questão ter a “melhor condição instalada” neste momento, os conselhos superiores da instituição, que reúnem professores, agentes universitários e alunos, ratificaram essa decisão, inclusive pelo “compromisso com a qualidade de formação dos estudantes”.
Também em nota, o governo Cida Borghetti informou que “o curso de Medicina tem sede no campus de Cornélio Procópio, porém possui características regionais, com aulas e ações também nas cidades de Bandeirantes, Jacarezinho, Santo Antônio da Platina e São Jerônimo da Serra. A escolha do conselho da UENP levou em conta aspectos estritamente técnicos”.
Por meio da assessoria de imprensa, Ratinho Junior disse que só irá comentar esse e outros assuntos do governo posteriormente, uma vez que o processo de transição ainda está em andamento. Além disso, o governador eleito afirmou que não poderia falar sobre o tema por estar em viagem a Nova Iorque, onde acompanhou executivos da Copel na Bolsa de Valores.
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