O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), aproveitou que estava em Curitiba – para passar o réveillon com a família – e fez o “trabalho de capitalização política” de emendas destinadas à capital pelo governo federal. Em evento na prefeitura na terça-feira (2), Barros formalizou o repasse de R$ 20,1 milhões.
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o ministro confirmou a pré-candidatura da mulher dele, a vice-governadora Cida Borghetti (PP), ao governo do Paraná; falou sobre as perspectivas de continuidade da aliança com Beto Richa (PSDB); e classificou a prisão de Paulo Maluf, às vésperas do recesso, como “lamentável”.
Este é um ano com eleições gerais. Qual é o futuro do senhor? O que o senhor imagina para este ano?
Olha, este é um ano importante. Teremos as eleições gerais e aqui no Paraná, a vice-governadora Cida Borghetti (PP) [mulher de Barros] deve assumir o governo e concorrerá à reeleição. [O atual governador] Beto Richa (PSDB) deve concorrer ao Senado. Vamos manter essa ampla aliança que hoje apoia o governo Beto Richa politicamente. E, evidentemente, outras posições serão acordadas para fechar a chapa, que tem mais uma vaga de Senado e a vice-governadoria.
A aliança Beto e Cida está mantida, então?
Nós trabalharemos para manter a aliança que, hoje, dá suporte político ao governo Beto Richa e, para as próximas eleições, com Cida Borghetti liderando a chapa e com os demais espaços ocupados por parceiros dessa aliança política, além do Senado, com Beto Richa.
E o senhor, pré-candidato a deputado federal, naturalmente?
Sim, deixo o ministério [da Saúde] até 7 de abril, para concorrer ao sexto mandato de deputado federal.
Eleição bem polarizada. O que o eleitor pode esperar dessa campanha?
Acho que o eleitor vai votar, como sempre, em opções seguras, previsíveis e confiáveis. É esse o perfil do candidato que vai ser eleito nessas eleições.
Essa época de posicionamentos extremos preocupa o senhor de alguma forma?
Não. Não acredito. Votos de protesto sempre foram sinalizados em diversas eleições. O eleitor vota em candidatos que representam o voto de protesto até o momento em que ele tenha a chance de se eleger. Na hora em que essa pessoa passa a ter condições, [o eleitor] não vota mais, porque não quer aquela pessoa para governar. Quer aquela pessoa para representar a sua insatisfação.
Uma questão que o senhor tem abordado é a da judicialização da saúde. Segundo o senhor, R$ 7 bilhões são judicializados por ano, dos quais em só 30% dos casos o paciente precisava efetivamente do medicamento. No seu discurso, o senhor deu a entender que o ministério deve abrir uma frente para coibir essa judicialização.
Sim, já estamos trabalhando isso. Nosso acordo com o CNJ [Conselho Nacional de Justiça] já tem um ano e agora se consolidou com o lançamento efetivo de uma plataforma digital. Espero que, com o sistema de gerenciamento da judicialização que estamos implementando, vamos economizar muitos recursos que estão sendo desperdiçados em medicamentos que as pessoas não precisam tomar, mas que algum advogado foi lá, pegou a procuração e convenceu a pessoa de que ela precisa de um medicamento caríssimo e que, na verdade, ela nem sabe se tem ou não aquela doença.
No fim do ano, um político do seu partido, o Paulo Maluf, foi preso. Como o senhor vê essa questão? O senhor defende uma punição mais severa a ele por parte do partido?
Não. Nosso partido é quem decide, é o presidente Ciro Nogueira, a comissão de ética. Eu não vi nenhum movimento nesse sentido. Vamos aguardar os responsáveis se manifestar, mas não acredito que haja nenhum momento nesse sentido.
O senhor acha que houve excesso nessa prisão?
Não. Eu só lamento a prisão na véspera do recesso judiciário – prática comum que é feita pelo Judiciário, quando se refere a pessoas que têm visibilidade, justamente para que ela fique cerceada de todas as possibilidades de recurso durante o recesso. É lamentável, mas é prerrogativa do Judiciário.
Recursos para a saúde
O ministro também falou sobre o repasse de R$ 20,1 milhões à Secretaria de Saúde de Curitiba e a hospitais filantrópicos da capital paranaense.
Os recursos a Curitiba – R$ 20,1 milhões – foram anunciados no último dia útil do ano passado. Qual a origem desse dinheiro?
São recursos orçamentários de projetos que estavam destinados, mas que não tiveram documentação completa [enviada] até as 11 horas do dia 30 [de dezembro de 2017]. Prazo encerrado. Aí, outros recursos que estavam solicitados na nossa programação normal em vários municípios e estados foram priorizados para ocupar o dinheiro que aqueles que tinham destinação não tiveram documentação para receber.
Qual impacto que o senhor acredita que esses recursos devem trazer para a saúde de Curitiba?
Acredito que são recursos importantes. Até porque não são os únicos. Nós já viemos cinco vezes anunciar recursos para a saúde de Curitiba e da região metropolitana. São muitos recursos efetivamente. Tenho certeza de que vamos poder fazer muito mutirão de cirurgias eletivas, exames e consultas especializadas, melhorando a qualidade de vida das pessoas.
Esses recursos fazem parte de um montante maior, de R$ 436 milhões, que vão ser destinados a prefeituras de todo o país. O senhor deve fazer esse anúncio também em outras capitais, em outras cidades, ou foi só em Curitiba?
Eu vou retornar [nesta quarta-feira] a Brasília e vou fazer uma [entrevista] coletiva com o balanço da execução orçamentária do ano todo. Esses recursos [R$ 436 milhões] são só do último Diário Oficial extra, do dia 30 [de dezembro]. Daí eu vou passar a fazer o trabalho de capitalização política das decisões do presidente [Michel] Temer (PMDB). Evidentemente, não há condições de estar em todos os lugares, mas os deputados e senadores que fizeram as emendas, os prefeitos, todos estão anunciando os recursos recebidos.
Curitiba primeiro por conta da sua relação com a cidade?
Não, porque eu estava aqui. Se eu estivesse em outro lugar, poderia fazer em qualquer lugar do Brasil. Mas como passei o réveillon aqui com a família, aproveitei para fazer o anúncio aqui na capital.