Apenas 23 jovens vão concorrer aos cargos de deputado estadual e deputado federal entre os 1.181 postulantes em 2018, o que representa apenas 1,94% do total. Dos 33 partidos que apresentaram candidatos ao Legislativo, apenas 17 colocaram jovens entre 21 e 25 anos nas urnas, o que totaliza pouco mais da metade (51,5%). Os dados foram coletados na base do registro de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mostram ligeira queda em relação a 2014, quando 30 participaram entre 1.191 concorrentes, ou 2,51%.
A Gazeta do Povo usou a classificação “jovem” da Organização das Nações Unidas, de 18 a 24 anos, e acrescentou um ciclo a mais ao cálculo para prolongar a idade até 25 anos, fechando o período em cinco anos. Sem a adição o índice de 2018 ficaria em 1,52%. Os partidos usam bases bem maiores para calcular sua juventude. O PT e o PSDB estabelecem o corte em 29 anos e o MDB considera até 34 anos, por exemplo.
Ao todo, 34 partidos lançaram candidatos no Paraná, mas o PSTU apresentou apenas concorrentes ao governo. Há 26 jovens cadastrados no TSE, mas três foram excluídos do balanço final: um deles tem apenas 19 anos e deve ser impedido de concorrer pela regra de elegibilidade, que obriga o candidato a ter pelo menos 21 anos no momento da diplomação, e dois postulantes de 25 anos farão 26 até o dia 31 de dezembro, ou seja, terão ultrapassado o limite da classificação em eventual eleição.
As regras de elegibilidade contidas no Art. 14 da Constituição Federal afirmam que o postulante ao Senado deve ter pelo menos 35 anos; o candidato ao governo, 30; e aos cargos do Legislativo, 21 anos. Ou seja, aos jovens é possível, por lei, pleitear apenas as cadeiras de deputado.
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O partido que mais abre espaço para os jovens é o PCdoB, com orientação de esquerda, com quatro candidatas (19%) entre os deputados (estaduais e federais) indicados pela sigla. Elas disputam vagas na Câmara Federal. Lalie Silva é a mais nova, com apenas 20 anos, mas completa 21 depois das eleições. Ela estuda Publicidade na Unopar, em Londrina. Camila Lanes, de 22 anos, foi presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e uma das principais lideranças das ocupações das escolas estaduais em 2016. Isabella Gobbo, 24, é representante da União Brasileira de Mulheres (UBM) e mestranda da Universidade Estadual de Ponta Grossa; e Gianni Broetto, 24, é uma liderança estudantil de Cascavel.
Outros seis partidos têm dois representantes jovens entre os postulantes, e os que mais ocupam indicações proporcionalmente são PTC (11,1%), Rede (7,1%), PPS (4%) e PSol (3,8%).
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Paloma Bauer, 21, e Isaak Almeida, 24, ambos de Curitiba, são candidatos a deputados estaduais pelo PTC. O partido apresentou 18 candidatos e os demais têm entre 44 e 73 anos. Pela Rede, da presidenciável Marina Silva, há o caso de Júlio Soares, 19 anos, o mais jovem da eleição, que deve enfrentar a barreira de elegibilidade, e Roberto Andrade, 21, natural de Campo Mourão. Eles também concorrem a vaga na Assembleia Legislativa do Paraná.
Pelo PPS os candidatos jovens são Arthur Rusik, 24, que entrou nas eleições para falar de saúde pública por conta da diabetes da esposa, e Luis Lelis, 25, que levanta a bandeira da juventude nas redes sociais. Os dois querem ser deputados estaduais. “Passou da hora da juventude, dos centros e da periferia, de todas as raças, de todos os sexos, orientações sexuais e identidades de gênero”, diz uma postagem de Lelis.
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Pelo PSol os candidatos estaduais são Diogo Rech, 20, acadêmico de Direito em uma faculdade de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, e Jhonatan Vieira, 24, formado em História e liderança estudantil de Foz do Iguaçu. Rech compõe uma chapa fictícia chamada “mandato coletivo”, composta por quatro representantes de “oprimidos de diferentes regiões para criticar a falência do sistema representativo”. Os outros três são de Foz do Iguaçu, Umuarama e de uma aldeia indígena de São Miguel do Iguaçu.
Rech faz parte de grêmios estudantis desde os 14 anos e já frequentou a direção do DCE da universidade em que estuda. “A Assembleia é dominada por homens brancos com idade avançada. Até teve o caso de uma votação expressiva de jovem em 2014, com 22 anos, mas Maria Victoria (PP) é filha de políticos tradicionais. Quem não tem família na política não se sente representado”, afirma. “Poucos negros, poucas mulheres, membros da elite econômica que governa o Paraná desde o fim da ditadura, os Dias, os Requião, os Richa. A bandeira do jovem na política é para equilibrar esse sistema”.
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Outros dez partidos contam com apenas um candidato jovem: Avante, PMN, PODE, PRP, PSB, PSDB, PSL, PT, PTB e SD. Os mais representativos são SD, com Marco Zilio, 25, entre os seis indicados, e o PTB com Luisa Canziani, 22, mais jovem entre os oito indicados pela sigla.
Canziani é candidata a deputada federal e filha de Alex Canziani (PTB), atual deputado federal e candidato ao Senado. Ela quase concorreu como vereadora em Londrina em 2016 e está perto de concluir o curso de Direito. “Muita gente comenta: essa menina é candidata? Eu sou a favor de que todas as faixas etárias e grupos sociais sejam representados na política. Minhas bandeiras são a educação 3.0, que envolve formação continuada e cultura digital, e participação da mulher na política”, afirma.
2014
Mais jovens participaram das eleições em 2014: 30 entre 1.191 concorrentes, ou 2,51% do total. Mesmo com números tímidos, quatro foram bem sucedidos. Maria Victoria (PP), herdeira da família Barros-Borghetti, então com 22 anos; Felipe Francischini (eleito pelo SD), 22, filho do deputado federal Fernando Francischini; e Paulo Litro (PSDB), 22, filho de Rose Coletti e Luiz Fernandes, ex-deputados estaduais, se elegeram para a Assembleia. E Aliel Machado (então pela Rede), com 25, conquistou uma cadeira na Câmara. Ele já tinha sido vereador em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.
Para o cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR e especialista em cenários partidários, a via de regra é que o eleito jovem tenha tradição familiar na política. “Esse jovem tem mais facilidade, já encontra a legenda aberta. Aqueles com sobrenome de herança têm mais facilidade no caminho. Os demais têm que pesar a dificuldade da participação política com a carreira no mercado de trabalho”, aponta.
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“De alguma maneira os partidos à esquerda acabam trazendo para si a herança das discussões no âmbito acadêmico. As siglas vão atrás das pessoas, enquanto algumas esperam as adesões naturais. Seria muito bom que os jovens entrassem na política para representar seus anseios, atuar para contribuir. Não pode negar que essa necessidade existe”.
O MDB é o partido com maior número de filiados no país (188.619), segundo dados de 2017 do TSE. O PP aparece em segundo (112.970), seguido de PSDB (88.106), PT (78.026) e PDT (76.671). Os que mais cresceram entre 2016 e 2017 foram PSC e PSD, que compõem a chapa de Ratinho Junior.