Quatro anos atrás, a oportunidade de aparecer ao lado do então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) , era algo disputado a braço pelos candidatos. Com boa aprovação, o tucano formou uma ampla aliança com 17 partidos, e foi reeleito ainda no primeiro turno, carregado nos braços por correligionários.
Ao seu lado, estavam os dois principais candidatos ao governo do estado neste ano: Ratinho Júnior (PSD) , que foi seu secretário de Desenvolvimento Urbano e lhe prometeu “fidelidade canina”, e Cida Borghetti (PP) , então vice-governadora e que afirmou recentemente que estariam “juntos em 2018, pelo bem do Paraná”.
Hoje, nenhum deles gosta de lembrar disso. Os laços foram se afrouxando gradativamente. O candidato ao Senado virou o aliado que ninguém quer por perto.
Primeiro, porque deixou o governo desgastado por um rigoroso ajuste fiscal e por um protesto de professores reprimido pela polícia, com dezenas de feridos – a Batalha do Centro Cívico.
A repulsa ao ex-aliado aumentou ainda mais na semana passada, quando ele foi preso por quatro dias em uma investigação de desvios em obras em estradas rurais do estado, que se seguiu a outras suspeitas contra membros de seu governo.
“Para mim, ele nunca pediu coisa errada”, disse Ratinho, em entrevista recente. “Cada um tem que responder pelos seus atos”, comentou Cida, lavando as mãos em relação ao ex-governador, a quem ela substituiu em abril no comando do governo do estado.
Solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Beto Richa nega as suspeitas, diz que sua prisão foi uma crueldade e mantém a candidatura.
Mas, na propaganda de Ratinho e Cida, que passaram os últimos anos no governo Richa, não há menção ao ex-governador. Ambos falam em mudança: a ex-vice do tucano e sua atual companheira de chapa chega a elogiar “o corajoso ajuste fiscal” e promete “fazer mais”, mas o candidato do PSD partiu para o ataque “às obras prometidas pelo último governador e que ficaram no papel”.
“É pura estratégia eleitoral”, diz cientista político
“Não tem lógica nem justiça nisso. É pura estratégia eleitoral”, afirma o cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Na avaliação dele, Richa acabou se tornando “uma figura secundária” nas eleições deste ano. Demorou para declarar apoio a algum candidato, e se neutralizou durante as articulações. Acabou isolado, e mesmo a aliança com Cida foi costurada a contragosto.
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Ao justificar seu posicionamento recente, Ratinho disse que a crítica “não é contra um governo; é contra o modelo de gestão pública”, e afirmou “não ter compromisso com ninguém”. “Todo mundo tem o direito de defesa; eu não sou juiz para julgar. Mas, se fez bobagem, que seja julgado e vá para a cadeia”, declarou.
A atual governadora, por sua vez, que está coligada com o PSDB, pediu a exclusão da candidatura do tucano ao Senado, dizendo que ele precisa se dedicar à sua defesa. “Os fatos noticiados agora exigiram uma decisão firme, que não me furtei a tomar”, afirmou à reportagem.
Reflexo na campanha ao Senado
A decisão desintegrou o grupo ao redor de Richa. Dos oito partidos da coligação, apenas dois votaram contra a exclusão de sua candidatura – embora a decisão não tenha previsão legal, e dificilmente vingue na Justiça.
Ao retomar a campanha depois da prisão, que afirmou ser “um ato de violência com claro viés político”, o ex-governador declarou que “é nessas horas que se conhecem os verdadeiros amigos”.
Richa defende seu legado. Na terça-feira (18), organizou um ato com cerca de cem pessoas, a maioria de prefeitos e ex-prefeitos, que manifestaram solidariedade ao tucano. “Nunca houve um governo que investisse tantos recursos nos municípios. Sou muito grato”, discursou o prefeito Amin Hannouche (PSDB), de Cornélio Procópio. “Se hoje o Paraná cresce, é por causa deste homem”, afirmou Marcio Wozniack (PSDB), prefeito de Fazenda Rio Grande.
“Não chora, porque tudo o que temos hoje é por causa de ti”, declarou o prefeito Rineu Menoncin (PP), de Matelândia.
Para o cientista político Emerson Cervi, é neste público que Richa deve centrar esforços para tentar garantir uma vaga de senador: o eleitorado de cidades pequenas, que se beneficiaram de obras do governo.
CAIXA ZERO: Afinal, Ratinho Junior tem algo diferente de Beto Richa?
Prisões também atingiram adversário João Arruda
A operação que prendeu Beto Richa teve efeitos por todo o espectro partidário: além de desintegrar o grupo político do ex-governador, atingiu João Arruda (PMDB), que viu seu sogro, o empresário Joel Malucelli, ser preso sob suspeita de participar de fraudes à licitação (ele afirma não ter relação política com Malucelli).
Por isso, a duas semanas da eleição, o assunto virou uma batata-quente: todo mundo tenta jogá-lo no colo de alguém. “Pode bagunçar todo o xadrez político do Paraná”, analisa Murilo Hidalgo, presidente do instituto Paraná Pesquisas. Mas não se sabe ainda se os efeitos serão vistos a curto ou médio prazo. A prova dos nove, segundo ele, aparecerá nas urnas.
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