As duas das três cadeiras do Parana no Senado que estão sendo disputadas nas eleições deste ano podem ser ocupadas por dois tradicionais arqui-inimigos da política paranaense. Pesquisa recente do Ibope* indica que, até o momento, os ex-governadores Roberto Requião (MDB) – que busca reeleição – e Beto Richa (PSDB) lideram as intenções de voto, reforçando a tese de que, neste caso específico, o perfil ideológico tem pouca influência na preferência dos eleitores.
Ao contrário das eleições de 2014, cada eleitor do Paraná e das outras 26 unidades federativas do país precisará escolher nas urnas não um, mas dois candidatos ao Senado. Pelas regras comuns do jogo, a tendência é acreditar que quem vota em Requião não vota em Beto Richa e vice-versa, o que poderia fortalecer um terceiro postulante. Mas o passado mostra que não é bem assim.
ELEIÇÕES 2018: veja quem são os candidatos ao Senado
A Constituição define que, independentemente da dimensão populacional, cada estado do país deve manter três representantes no Senado. No Paraná, esse número representa um décimo do total de deputados federais eleitos por aqui – estes sim em quantidade definida de acordo com o tamanho da população. O grupo limitado de senadores ajuda a explicar porque os eleitores não se apegam tanto a ideologias e preferem, ao invés disso, mandar para a Casa uma figura de trajetória política mais evidente.
“O senador é uma pessoa muito conhecida no estado. Geralmente é um ex-senador, ex-deputado federal, ex-prefeito de uma capital”, analisa Francis Augusto Goes Ricken, advogado e professor do curso de Direito da Universidade Positivo (UP). De acordo com ele, o próprio sistema de eleição dos senadores, o majoritário simples, que elege os representantes com mais votos e sem segundo turno, cria esse perfil. “Se formos olhar para todo o Senado Federal vamos encontrar essas características, de pessoas mais experientes, políticos com experiência larga”, reforça o professor, mestre em Ciência Política.
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Docente da PUC-PR, o sociólogo Cezar Bueno de Lima acrescenta que o comportamento dos eleitores de dar preferência a candidatos ao Senado mais conhecidos em detrimento do perfil ideológico de cada um ajuda a explicar porque não será impossível que Requião e Richa, mesmo estando em polos opostos, cheguem de mãos dadas à Câmara Alta do Congresso. “A tradição do eleitorado paranaense é canalizar mais a escolha dos votos para presidente da República, governador. Para o Senado, entra a figura extremamente conhecida. Essa é uma relação muito mais pessoal do que de ideologia”, define.
“Se a gente tivesse uma aproximação muito maior entre as figuras (senadores ), nosso estado teria uma lógica de representação muito mais clara e propositiva.”
Desafio
A relação do emedebista e do tucano tem sido marcada por um bate-volta de farpas e acusações. Recentemente, Requião foi condenado em segundo grau a indenizar o ex-governador Beto Richa - a quem costuma se referir como “piá de prédio” - e o irmão dele, o ex-secretário Pepe Richa (PSDB), por danos morais. A ação está relacionada à edição do programa Escola de Governo, que foi ao ar em 13 de fevereiro de 2007, quando Requião era governador do Paraná e Beto Richa, prefeito de Curitiba. No programa, o então governador teria imputado aos irmãos “a pecha de administradores ímprobos”.
Durante participação em sabatina na Gazeta do Povo em maio, Richa chegou a desafiar Requião para um debate “olho no olho”. “Estou farto de ser criticado pelo Requião. Quero comparar nossas gestões, sobretudo no campo ético. Ele me acusa, se aproveita de forma oportunista, como sempre foi. Tenho dois processos de investigação, ele saiu com mais de uma centena. Não aceito que venha apontar seu dedo sujo na minha cara”, anunciou à época.
A dualidade entre os dois ex-governadores não deve, no entanto, ser um desafio novo para bancada paranaense do Senado. “É característico do Paraná essa rivalidade no Senado. Se a gente for observar, mesmo os senadores atuais [Gleisi Hoffmann, Roberto Requião e o candidato à presidência Alvaro Dias] destoam em quase todos os seus posicionamentos. Mas é claro que isso é ruim. Se a gente tivesse uma aproximação muito maior entre as figuras, nosso estado teria uma lógica de representação muito mais clara e propositiva”, conclui Ricken.
Como votar?
A necessidade de votar em dois candidatos para fechar o quadro de senadores nas eleições deste ano pode parecer confuso.
Na hora de definir o voto, é importante lembrar que as duas escolhas que terão de ser feitas têm o mesmo peso eleitoral. Portanto, não importa a ordem do voto que será confirmado nas urnas. No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lembra que não é válido votar duas vezes no mesmo candidato. Se um eleitor repetir o número do postulante, o segundo voto é automaticamente anulado.
Ao contrário dos deputados estaduais e federais, os senadores não são representantes do povo, mas sim do estado. Ainda que também atuem na criação de leis e na fiscalização dos atos do presidente da República, estão ligados a papeis ainda mais protocolares, como aprovar nomes indicados à direção do Banco Central, julgar crimes de responsabilidade no âmbito do Governo Federal e autorizar empréstimos a estados e municípios.
No Paraná, além de Requião, que busca reeleição, e Richa, tentam chegar ao cargo outros 14 candidatos: Flavio Arns (Rede); Oriovisto Guimarães (Podemos); Alex Canziani (PTB); Mírian Gonçalves (PT); Nelton Friedrich (PDT); Rodrigo Reis (PRTB); Rodrigo Tomazini (PSOL); Jacque Parmigiani (PSOL); Compadre Luiz Adão (DC); Zé Boni (PRTB); Gilson Mezarobba (PCO) e Roselaine Barroso (Patriotas).