Pré-candidato ao governo do estado desde o final de 2016, o ex-senador Osmar Dias (PDT) surpreendeu os paranaenses ao desistir da disputa apenas dois dias antes do fim do prazo para as convenções partidárias. O pedetista justificou a decisão apenas por meio de uma carta, na qual disse que não iria ferir valores e princípios nem agredir a própria consciência em troca de “apoios hipócritas” oriundos de “barganhas escusas”.
Desde a última sexta-feira (3), a Gazeta do Povo vinha tentando falar sobre o assunto com o ex-parlamentar, mas ele não retornou os pedidos de entrevista. Por isso, a reportagem ouviu mais de uma dezena de políticos que acompanharam e/ou participaram dos fatos.
Segundo eles, é preciso levar em conta a indecisão de Osmar – pecha que ele sempre detestou − ao longo de quase dois anos de costuras pré-eleitorais. Além disso, pesaram a falta de alianças e a experiência malsucedida de 2010. Mas é unânime que a pá de cal definitiva foi a aproximação do irmão do pedetista, o senador Alvaro Dias (Podemos), com o maior adversário dele no pleito de outubro, o deputado estadual Ratinho Jr. (PSD).
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Veja abaixo por que Osmar Dias abriu mão de tentar ser governador do Paraná:
Às vésperas da definição das candidaturas, Osmar contava com o apoio único do Solidariedade. Essa aliança daria a ele apenas 40 segundos no horário eleitoral, contra 3 minutos da governadora Cida Borghetti (PP) e 2 minutos de Ratinho. Nesse cenário, ele também ficaria carente de recursos financeiros. Além de o PDT ser apenas o 11º partido em verbas do Fundo Eleitoral, o grosso da campanha da legenda será concentrado na candidatura presidencial de Ciro Gomes. Por fim, ele teria cerca de 30 prefeitos a seu favor, contra quase 250 ao lado dos dois principais adversários.
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Na segunda tentativa de se eleger governador – já tinha perdido em 2006 −, Osmar foi para a disputa aos 48 minutos do segundo tempo. No aguardo da definição se Alvaro seria ou não vice do presidenciável José Serra (PSDB), ele disse que não ficaria num palanque de oposição ao irmão. Somente quando o nome do irmão não se confirmou, o pedetista foi para a disputa, léguas atrás de Beto Richa (PSDB), que já estava com o time em campo há muito tempo. A própria candidatura de Richa não foi bem digerida por Osmar, pois haveria um acordo entre eles costurado na reeleição do tucano na prefeitura de Curitiba, em 2008, de que o pedetista teria o apoio do PSDB dois anos depois.
Vindo de uma campanha sangrenta contra Roberto Requião (MDB) quatro anos antes, Osmar não teve muita alternativa a não ser se aliar ao emedebista em 2010. No entanto, a força que um partido que vinha de oito anos no comando do estado poderia dar a ele jogou, na verdade, a favor de Richa. Dos 15 deputados estaduais do MDB à época da campanha, o pedetista tem na ponta da língua que apenas 4 atuaram em favor da candidatura dele. Além disso, calcula que a rejeição de Requião foi determinante para a derrota – e poderia se repetir agora. Uma história contada e recontada é de que um dia depois do anúncio da aliança com o emedebista em 2010, Osmar perdeu a liderança nas pesquisas para Richa e não retomou mais.
Para 2018, o pedetista primeiro não quis migrar para o PSB ou o Podemos, com o receio de que não teria a legenda garantida para disputar o governo. Depois, relutou em aceitar diversos apoios por temer que, mais uma vez, visse os aliados fazerem campanha velada para os adversários. Também negou a aliança proposta pelo MDB por considerar pesado demais o impacto que Requião teria na candidatura dele. Por fim, não pretendia sair de novo com uma dívida de campanha milionária, que, segundo pessoas próximas, teve de arcar sozinho após 2010.
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Na carta de desistência, Osmar afirmou que não faria “acertos perniciosos à sociedade para contemplar pessoas ou grupos políticos”. Segundo a reportagem apurou, entre esses acertos estaria uma promessa de indicação para o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) com a aposentadoria de determinado conselheiro. Além disso, ao não acordar espaços e nomeações num futuro governo, o pedetista perdeu apoios importantes de partidos médios e pequenos para Cida e Ratinho.
O ex-senador também mencionou na carta “barganhas escusas”. Há relatos de que legendas ligadas à candidatura da atual govenadora chegaram a “salvar” Osmar da desistência, para garantir que houvesse segundo turno. A manobra, porém, teria sido apenas uma forma de valorizar o passe e poder barganhar mais recursos eleitorais com o principal articulador de Cida, o marido dela, Ricardo Barros (PP).
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Autor do projeto de lei do cooperativismo, que tramita desde 2007 no Congresso, Osmar esperava ter o apoio do setor, que responde por quase três quartos do PIB agropecuário do Paraná. Mas, apesar disso e da forte ligação do pedetista com o meio rural, a recente proximidade com o PT e os governos Lula e Dilma jogou contra um eventual posicionamento das cooperativas a favor da candidatura dele.
O empresariado foi outro segmento que ignorou Osmar. A tal ponto que os presidentes de duas das mais importantes entidades do Paraná se licenciaram do cargo de olho na vice de Ratinho: Edson Campagnolo (PRB), da Federação das Indústrias (Fiep); e Darci Piana (PSD), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio). O último acabou ficando com a vaga.
Se Osmar sempre deixou claro que, independentemente da candidatura de Ciro Gomes pelo PDT, apoiaria o irmão na corrida presidencial, a recíproca não se aplicava. Alvaro jamais defendeu publicamente o nome de Osmar na eleição para o governo do estado. Mais do que isso, segundo fontes consultadas pela reportagem, proibiu o Podemos, do qual é presidente nacional, de se coligar a ele no Paraná. Por fim, ao anunciar um nome do PSC como vice na disputa a presidente nos últimos dias das convenções, deixou escancarado que preferia Ratinho Jr. A legenda cristã, casa do deputado estadual até 2016, é uma espécie de extensão do PSD no estado. E depois da desistência de Osmar, o Podemos, de fato, entrou formalmente na coligação de Ratinho.
Amigos de Osmar dizem que o movimento de Alvaro derrubou de vez o pouco de ânimo que restava no pedetista em ir para a disputa apesar de várias dificuldades. Procurado, o senador do Podemos afirmou: “Eu disse que o apoiaria em qualquer circunstância, por ser meu irmão. As razões são de foro íntimo, e respeito. Alguns tentam transferir responsabilidades”.
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