Pelo menos 12 candidatos ligados a movimentos nacionais que propõem renovação no quadro político devem disputar as eleições no Paraná. Entre esses grupos estão o Agora!, Livres, Acredito e RenovaBR.
Em janeiro, o RenovaBR selecionou 150 pessoas – de 4 mil inscritos em todo o Brasil – para compor seu projeto eleitoral. Cinco delas são do Paraná. Até junho, elas receberão bolsas entre R$ 5 mil e R$ 12 mil, além de ter aulas sobre assuntos como sistema político partidário e áreas de interesse particulares, como saúde e educação.
A ideia, segundo o movimento, é que essas pessoas estejam aptas a lançar sua candidatura nas eleições com o objetivo de contribuir para a renovação de nomes na política. O RenovaBR é uma idealização do empresário Eduardo Mufarej, de São Paulo, e ganhou repercussão nacional após o apresentador da Globo Luciano Huck declarar apoio à iniciativa.
Os pré-candidatos paranaenses membros do movimento no estado têm ligações ou pretendem se filiar à Rede, Podemos, PSL, PPS e PSDB. Quando lançado, o movimento arregimentou membros de 23 das 25 legendas existentes em todo o Brasil. “É um espaço bastante plural”, diz um dos selecionados e pré-candidato a deputado federal pelo PSDB, Luis Lélis, de 25 anos.
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Ex-presidente da juventude do PSDB, Lélis foi candidato nas eleições de 2016. Diferentemente da administradora Natalie Unterstel, de 34 anos, que tem no currículo cargos técnicos exercidos no governo do Amazonas e na Presidência da República.
Natalie também faz parte da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) no Paraná, que existe desde 2012, mas reúne também nomes tradicionais da política. A Raps é comandada pelo empresário Guilherme Leal e pela socióloga Maria Alice Setúbal — ambos atuaram nas campanhas de Marina Silva de 2010 e 2016.
No Brasil, cerca de 200 pré-candidatos são ligados à Raps. Por ora, não há estimativas de candidatos ligados ao movimento no Paraná. Mas Natalie diz que deverá participar no processo eleitoral. Provável candidata pelo Podemos (antigo PTN), ela decidiu se envolver com política partidária após voltar de um mestrado em administração pública em Harvard, nos Estados Unidos, em 2016. “O clima de polarização me incomodou”, conta.
Foi quando ajudou a fundar o Agora!, que não dá bolsas e também se diz suprapartidário, mas tenta dialogar com as legendas a fim de que elas assumam um compromisso em se dedicar a propostas pela redução drástica da desigualdade e educação de alto nível, entre outras plataformas. Segundo a assessoria do grupo, a maioria das legendas não tem interesse em estabelecer um diálogo. Mas até o momento houve conversas no Paraná com PPS e Rede. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, pelo menos 15 pessoas em todo o Brasil ligadas ao movimento devem participar do pleito.
Já o Acredito arrisca uma estimativa: quatro candidaturas, entre deputados estaduais e federais. De acordo com um de seus integrantes no Paraná, Luan de Rosa e Souza, de 23 anos, o projeto atua com movimentos sociais e lideranças comunitárias — de onde deve sair seus postulantes a cargos públicos, que hoje disputam internamente no grupo para se lançarem.
Estudante de Direito, Souza conta que, ao contrário do Agora!, o Acredito tem evitado o contato direto com partidos. Apesar disso, entre possíveis candidatos há pessoas ligadas à Rede e ao PDT. “Grande parcela da população tem pouco ou nenhum acesso ao poder. A gente quer mudar isso”, diz.
De maneira diferente, o administrador Carlos Sviontek, de 26 anos, conta que também foi em busca da renovação quando, em 2016, deixou o PSDB para se filiar ao PSL. No partido, ajudou a fundar o Livres no Paraná. O grupo rompeu com a legenda em janeiro desse ano, quando o partido anunciou que a abrigaria a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência. Sviontek então se filiou ao Novo, que deve lançar outros dois integrantes do Livres no estado como candidatos.
“Os partidos tradicionais estão divididos em várias oligarquias. É tudo feito de cima para baixo”, critica o pré-candidato a deputado federal. “Foi o que me distanciou do PSDB, que tem uma estrutura engessada e complicada para o jovem se destacar”.
Pouca oxigenação
De acordo com um levantamento feito pelo Movimento Transparência Partidária, PSDB e PP são os partidos com menos renovação no Diretório e na Executiva Nacional — ambas instâncias internas de representação.
Com base em dados do TSE de 2007 a 2017, o movimento concluiu que apenas cerca de 30% dos quadros foram renovados nessas legendas. Na outra ponta, PT e PMDB aparecem com em torno de 60%. O levantamento leva em conta os oito partidos com maior representação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Fora das instâncias superiores, são também os grandes partidos que puxam para baixo a proporção de jovens em relação ao quadro geral. De acordo com o TSE, 2,3% dos filiados a partidos políticos brasileiros têm menos de 24 anos. As mulheres representam 44%. Proporções que pouco variaram nos últimos anos, apesar do aumento no número geral de filiados a partidos políticos (de 11,1 milhões em outubro de 2002 para 16,6 milhões em julho de 2017).
Para o cientista político Marcelo Issa, que coordenou o estudo do Transparência Partidária, a renovação política, tanto entre filiados quanto entre dirigentes, é necessária. Mas ele diz que não vê movimentos que reivindiquem um aprimoramento institucional e que proponham “mudanças nas regras do jogo”.
Issa lembra que os partidos grandes envolvidos em escândalos, assim como esses movimentos, surgiram idealistas e com o apoio da população. “O que aconteceu para esses projetos se transformarem no que são?”, questiona. “É improvável que mudemos a política trocando só os jogadores”.
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