Ex-secretário de Comunicação e ex-chefe de gabinete de Beto Richa (PSDB), Deonilson Roldo foi um dos três alvos da nova fase da operação Lava Jato, nesta terça-feira (11). Ele é suspeito de, em 2014, interferir na licitação da PR-323, no Noroeste do Paraná, em benefício da empreiteira Odebrecht. No despacho que autoriza a sua prisão preventiva, o juiz Sergio Moro ressalta que, apesar de não ocupar mais cargos no governo, há indícios do envolvimento de Roldo com a atual campanha de Richa ao Senado.
Preso pela Lava Jato, o nome de Deonilson Roldo também estava na lista de outra operação deflagrada nesta terça, a chamada Rádio Patrulha, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e que prendeu temporariamente o ex-governador e candidato ao senado Beto Richa , a esposa dele, Fernanda Richa e outras dez pessoas.
“É certo que Deonilson Roldo não mais ocupa elevado cargo na estrutura do Governo do Estado do Paraná. Entretanto, permanece integrante do mesmo grupo político, com perspectivas de retorno a posição de poder e, por conseguinte, à prática de novos delitos associados à corrupção sistêmica. (...). Como se não bastasse, há indícios do envolvimento atual de Deonilson Roldo em campanhas eleitorais”, destacou Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em 1ª instância.
Moro disse ainda que as evidências se amparam em diferentes áudios de conversas interceptadas pela Polícia Federal e que a prisão evitaria a continuidade de práticas semelhantes. “Tendo os crimes em apuração sido praticados no contexto de campanha eleitoral, com obtenção, em cognição sumária, de vantagem indevida a pretexto de doação eleitoral, Deonilson Roldo tem, no presente momento, similares oportunidades para persistir na arrecadação de recursos ilícitos, no caso mediante promessas futuras (...) , justificou.
O Ministério Público Federal (MPF) , que pediu a prisão de Roldo, também considerou o fato de ele ser um nome do 1º. escalão de Richa . Em nota com esclarecimentos sobre a operação, enviada mais cedo, o órgão reiterou que “interceptações telefônicas demonstraram que Deonilson Roldo está atualmente coordenando de forma oculta a campanha de Beto Richa (...)”.
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Se Roldo entrou em evidência há pouco, nos bastidores da política paranaaense ele já era amplamente conhecido. Jornalista de formação, chegou a ser considerado o “primeiro-ministro” do Paraná na gestão de Richa, tamanha a influência que exercia no governo.
Em 2015, um deputado aliado afirmava que Richa seria o garoto propaganda do governo, enquanto Roldo faria o papel de gestor do cotidiano no Executivo estadual. “O Beto não é muito afeito às questões administrativas do cotidiano, de fiscalizar, controlar, de ver o orçamento. O ‘Déo’ é que acaba decidindo tudo, as decisões meio que caem para ele”, afirmou, à época, o parlamentar.
Com a renúncia de Richa para concorrer ao Senado, Roldo saiu das funções de chefe de gabinete e também da secretaria de Comunicação Social do governo. E mesmo também envolvido nas investigações da Quadro Negro, seguiu governo de Cida Borghetti (PP). Depois de renunciar aos cargos, ele passou a ocupar uma diretoria na Copel, de onde foi demitido com a repercussão da gravação.
O ex-governador, contudo, sempre evitou divulgar os fortes laços de sua relação com agora mais novo preso da Lava Jato. Em sabatina na Gazeta do Povo no ano passado, Richa chegou a “reprovar” o envolvimento de Deonilson Roldo com o esquema da licitação da PR-323, embora também tenha lamentado a demissão do amigo pela governadora Cida Borghetti. No entanto, o que as investigações sobre a esquema da rodovia dizem até agora é que a interferência no processo acabou revertida em R$ 2,5 milhões de caixa 2 para a campanha de Richa ao seu segundo mandado no governo do Paraná.
Supresa
Apesar de todas as denúncias que pesam contra Roldo, ele teria se mostrado surpreso e abalado com a prisão, disse um dos seus advogados durante a manhã. “Me parece que a prisão dele, nesse momento, não se fazia necessária”, comentou Roberto Brzezinski Neto na saída da sede do Gaeco, braço do Ministério Público do Paraná (MP-PR).
A sequência recente de denúncias envolvendo Beto Richa, Deonilson Roldo e a suposta fraude na licitação da PR-323 teve início em 10 de maio, quando a revista Isto É divulgou uma gravação do momento em que Roldo conversa sobre um acordo para a Odebrecht vencer a licitação. No áudio, pede um “entendimento” a Pedro Rache, diretor-executivo da Contern, outra empresa interessada na estrada. Em troca disso, oferece uma participação em negócios da Copel para o Grupo Bertin, dono da construtora em questão.
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À época, Richa negou favorecimento e disse que não houve aplicação de dinheiro público na obra, enquanto Deonilson acusou a gravação de ter sido feita de forma “clandestina, premeditada e com interesses escusos”.
Ainda no começo da manhã, Roldo foi levado para a superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba, para onde vão os detidos em esquemas investigados pela Lava Jato. A defesa falou que a prisão foi considerada um surpresa, já que seu cliente já tinha se colocado à disposição da Justiça.
“O que me chama a atenção é que logo depois que a imprensa divulgou um pretenso áudio entre ele e um empresário, nós fizemos uma petição ao juiz se colocando a disposição para prestar esclarecimentos e jamais fomos intimados para qualquer manifestação”, pontuou o advogado Brzezinski Neto. “Ele está muito consternado porque é um fato de quase quatro anos atrás e ele sempre se colocou à disposição das autoridades. Muito estranha essa prisão; uma prisão absolutamente desnecessária”, completou a defesa.
Sobre as investigações do Gaeco que apontam direcionamento de licitação para beneficiar empresários dentro do Paraná Patrulha do Campo, entre 2012 a 2014, pouco se sabe até agora qual seria envolvimento de Roldo. Pela manhã, nem mesmo a defesa do suspeito sabia dar detalhes. O processo está sob sigilo.
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