Em meio à onda de roubos em lojas de celulares em Curitiba, os grupos de elite da Polícia Civil do Paraná receberam nesta segunda-feira (10) um lote de 160 armas da marca Glock, de origem austríaca. O modelo escolhido é o mesmo usado por um policial à paisana que reagiu rapidamente a uma tentativa de roubo de telefones celulares em um hipermercado de Curitiba.
O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), unidade de elite da Polícia Militar do Paraná, está usando o armamento da Glock desde dezembro, quando recebeu 865 pistolas. O investimento total da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) nos dois lotes foi de R$ 1,5 milhão.
A importação do armamento só foi possível com autorização do Exército. A pistola é similar a da fabricante nacional Taurus, que apresentou uma série de problemas. No Paraná, mesmo pistolas travadas disparavam, e um vídeo feito em uma simulação mostrou que o ferrolho saltava junto com o disparo. Além das falhas, a Sesp usou o argumento do preço. Segundo o secretário de Segurança, Wagner Mesquita, as armas Glock custaram um terço do valor da similar nacional. A intenção é realizar nova compra para outros grupos de elite, os únicos a receber autorização do Exército.
“É uma pistola com características especiais, muito leve, rápida. Semana passada foi usada em uma ocorrência, o policial reagiu a um assalto, frente a frente com meliante, os dois empunhando as armas e com essa pistola de reação muito rápida, o policial fez dois tiros em menos de um segundo”, disse Mesquita. Ele lamentou a morte do assaltante, mas ressaltou que o policial protegeu sua vida e impediu o assalto.
A Polícia Civil também recebeu 350 fuzis, estes da marca Taurus, licitados antes de a empresa receber punição da Controladoria-Geral da União (CGU). “A criminalidade aumenta, o poder ofensivo muda, temos quadrilhas que arrombam caixas eletrônicos e utilizam armamento dessa natureza, de guerra. Então é necessário que a polícia também tenha como se defender”, afirmou Mesquita.
Combate à criminalidade x aumento no número de presos
O governador Beto Richa atribuiu o alto número da população carcerária ao combate à criminalidade. “Aumentamos o efetivo, a polícia tem dado conta do recado, tem prendido muitos criminosos. Essa é uma das causas também do aumento de detentos no sistema prisional do estado do Paraná”, afirmou.
Na semana passada, relatório preliminar do Tribunal de Contas do Paraná (TC) apontou situação caótica nas delegacias do estado, que abrigam cerca de 9 mil presos provisórios. O presidente do TC, Durval Amaral afirmou que faria uma recomendação oficial para o governo utilizar dinheiro de empréstimo internacional para aumentar o investimento em presídios.
Entretanto, isso não é possível, afirmou Richa. Ele explicou que o contrato com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) não permite mudar a finalidade do financiamento, originalmente previsto para projetos do Paraná Seguro.
O governo estadual prevê usar recursos do Fundo Penitenciário e avalia que serão suficientes para construção ou ampliação de 14 novas unidades prisionais no prazo de dois anos. “Essas novas unidades prisionais preveem a abertura de 7 mil novas vagas, que, somado ao aumento de utilização de tornozeleiras eletrônicas, vai resolver o problema dos presos em delegacia”, afirmou o secretário da Segurança.
Mesquita afirmou que nem a secretaria nem o Departamento Penitenciário (Depen) foram procurados pelo TC e que por isso desconhecia a metodologia utilizada no relatório preliminar. O TC fará uma auditoria completa e pretende também promover um diálogo entre diversos órgãos governamentais e classistas para melhorar a gestão do sistema prisional.
Mesmo com ondas de assaltos, shoppings descartam o uso de seguranças armados
Leia a matéria completaNo evento desta segunda-feira, também foi feita a entrega de 45 viaturas ao Depen, em um investimento de R$ 4,8 milhões, dos quais R$ 3,2 milhões são de convênio com o Depen nacional e o Ministério da Justiça. Os equipamentos serão distribuídos em todo o estado.
Outro lado da Taurus
A Taurus foi alvo de investigações do Exército pelas falhas apresentadas e também consta do cadastro de empresas inidôneas, da Controladoria-Geral da União (CGU), por causa de problemas em licitação feita pela Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo (SSP-SP). A empresa diz que está recorrendo da decisão que a colocou na lista de não habilitadas para contratos com o poder público e que a punição de não licitar por dois anos é restrita ao órgão que a aplicou. A fabricante de armas também afirma que está ocorrendo um “ataque à indústria nacional”.