O engenheiro civil Maurício Fanini, réu e pivô da Operação Quadro Negro, implicou o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) no esquema de desvio de dinheiro para construção e reforma de escolas. Durante audiência realizada em Brasília, nesta quarta-feira (30), Fanini disse que tratava do tema com o tucano e que prestava contas periodicamente a ele sobre o valor arrecadado através de contratos da Secretaria da Educação.
Fanini foi diretor de Engenharia, Projetos e Orçamentos da pasta ao longo do primeiro mandato de Beto Richa no governo do Paraná, entre 2011 e 2014. Só foi demitido em meados de 2015, quando as suspeitas de desvio de dinheiro ganharam holofotes. Atualmente, Fanini está preso, e no aguardo da homologação do seu acordo de colaboração premiada.
As declarações que diretamente ligam Beto Richa ao escândalo de corrupção foram prestadas por Fanini durante seu “reinterrogatório”, no âmbito da principal ação penal derivada da Operação Quadro Negro, e que tramita desde janeiro de 2016 na 9ª Vara Criminal de Curitiba, sob Segredo de Justiça.
Embora o processo corra na capital paranaense, Fanini foi ouvido em Brasília porque ele está preso desde o início de maio na capital federal. Assim, o juiz de Curitiba Fernando Bardelli Silva Fischer determinou o envio de uma carta precatória a Brasília, para que outro magistrado pudesse conduzir a audiência.
O reinterrogatório foi feito pela 2ª Vara de Precatórios do Distrito Federal, localizado no sexto andar do Fórum Professor Júlio Fabrini Mirabete, em Brasília. Por se tratar de um caso sigiloso, somente as partes envolvidas no processo puderam acompanhar a audiência.
O depoimento de Fanini estava previsto para as 16h45 desta quarta-feira (30), mas houve atraso, em função de outras audiências realizadas no mesmo local. Ele só começou a ser ouvido depois das 18 horas. A audiência foi encerrada antes das 22 horas.
A maior parte das perguntas foi feita por promotores de Justiça ligados ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Curitiba, braço do Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR), autor da denúncia depois transformada em ação penal.
Advogados de outros réus do processo também participaram da audiência. Além de Fanini, outras 14 pessoas figuram como réus na ação penal.
Fanini não se recusou a responder nada e, segundo apurou a Gazeta do Povo, teria insinuado ter condições de provar o que falava.
Outro réu do mesmo processo é Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora, e também delator. Mas o acordo de colaboração premiada do empresário já foi homologado no STF, no final do ano passado.
A Gazeta do Povo apurou que, de forma geral, os relatos já feitos por Eduardo Lopes de Souza também estão presentes no depoimento de Fanini. Entre outras coisas, o empresário sustenta que entregou dinheiro a Fanini para o caixa 2 da campanha eleitoral de Beto Richa, em 2014.
O delator também cita repasses a outros políticos, incluindo o deputado federal Valdir Rossoni (PSDB) e os deputados estaduais Ademar Traiano (PSDB) e Plauto Miró (DEM).
Outro lado
Todos os políticos mencionados rejeitam as narrativas, incluindo Beto Richa. Em nota, o tucano diz que “rechaça as falsas informações prestadas por criminoso confesso, que, buscando se livrar dos graves crimes cometidos, tenta sem qualquer fundamento ou apresentação de prova envolvê-lo nesses ilícitos”. “Reafirma também que, tão logo teve conhecimento de denúncias sobre fraudes na construção de escolas públicas, determinou a imediata realização de investigações, que deram início à Operação Quadro Negro. Os servidores públicos envolvidos foram demitidos. A Polícia Civil do Estado do Paraná instaurou inquérito policial e os autores dos crimes foram presos. Também a Procuradoria Geral do Estado, por determinação do ex-governador Beto Richa, ajuizou ações judiciais, que determinaram o bloqueio de bens, bem como ações de improbidade para o ressarcimento dos cofres públicos. Beto Richa está à disposição da Justiça para contribuir com o esclarecimento da verdade, visto que sempre trabalhou em prol do interesse público.”