O tucano está preso no Regimento de Polícia Montada| Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Um dos motivos apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) para pedir a prisão do ex-governador Beto Richa (PSDB) e do contador Dirceu Pupo Ferreira, homem de confiança do tucano, já era de conhecimento público desde setembro. Um mês antes, segundo as investigações, Ferreira teria atuado para mudar a versão de testemunhas que seriam ouvidas pelas autoridades tanto no caso da Operação Integração, do próprio MPF, quanto na apuração da Operação Rádio Patrulha , do Ministério Público do Paraná (MPPR). Eles negam as acusações.

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Nesta sexta-feira (25), com a segunda prisão de Ferreira e também do ex-governador, mais detalhes sobre a possível atuação do contador para obstruir as investigações foram revelados. De acordo com depoimentos prestados, Ferreira teria entrado em contato com um corretor de imóveis e também tentado falar com o jogador de futebol Marcio Nobre.

O objetivo seria que eles mudassem parte da versão a respeito da compra de conjuntos comerciais no edifício Neo Business, em Curitiba. A aquisição destes e outros imóveis, segundo o MPF, era um artifício utilizado por Beto Richa para lavar a propina recebida em troca de benefícios a concessionárias de pedágio.

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Como foi a compra

Os imóveis foram adquiridos em novembro de 2013 pela empresa Ocaporã Administradora de Bens, que pertence à mulher do ex-governador, Fernanda Richa, e também a dois filhos do casal, André e Marcello Richa [veja o que eles dizem]. O valor total da transação teria sido de R$ 1,8 milhão.

O pagamento, de acordo com Marcio Nobre – que era dono das salas comerciais adquiridas – foi realizado por meio de um apartamento em Balneário Camboriú e, além disso, da entrega de parte do valor em espécie. A versão inicial era de que R$ 600 mil teriam sido entregues em dinheiro vivo.

A transação foi intermediada pelo corretor de imóveis Carlos Augusto Albertini. Ele confirmou que o dinheiro foi entregue ao jogador Marcio Nobre em sua residência, e que viu a quantia sendo contada por Ferreira. Segundo ele, porém, o montante era bem maior, de R$ 1,4 milhão.

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Obstrução de Justiça

De acordo com as investigações, o contador de Beto Richa teria se encontrado com Albertini pedindo para que ele não mencionasse a entrega de dinheiro vivo na compra das salas comerciais. A ideia, segundo depoimento prestado pelo corretor de imóveis, era de que somente o apartamento em Camboriú fosse mencionado como pagamento.

Ainda de acordo com Albertini, Ferreira teria solicitado que o corretor conversasse também com Marcio Nobre, para que ele desse a mesma versão caso fosse procurado. O corretor, entretanto, disse que não tratou desse assunto com o jogador.

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Em depoimento, Marcio Nobre confirmou que soube que “uma pessoa ligada do lado do Beto Richa” queria seu telefone. Como o jogador mora na Turquia, país onde ainda atua como atleta, o assunto foi resolvido no Brasil por um procurador.

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Para o MPF, esses elementos indicam que Beto Richa e Dirceu Pupo Ferreira “atuaram de forma deliberada no sentido de influenciar o conteúdo dos depoimentos de testemunhas no contexto de complexa investigação envolvendo esquema de corrupção sistêmica e lavagem de dinheiro”.

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Outro lado

A defesa de Dirceu Pupo Ferreira se manifestou por meio de nota. Nela, seu advogado, Gustavo Alberine Pereira, diz o seguinte:

Importante destacar que os fatos que ensejaram a prisão no dia de hoje, 25 de janeiro de 2018, não são novos. Eles já haviam sido esclarecidos em petição encaminhada à Justiça Estadual do Paraná.

Dirceu Pupo Ferreira jamais buscou atrapalhar as investigações e a sua conversa com testemunha do caso já foi devidamente esclarecida.

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Ademais, ele sempre esteve à disposição das autoridades, tendo comparecido ao Ministério Público Federal e no Estadual (Gaeco), que apuram os mesmos fatos, prestando todos os esclarecimentos que lhe foram solicitados.

Assim sendo, a prisão preventiva decretada revela-se absolutamente desnecessária e ilegal.

A defesa confia nas autoridades e espera que a prisão seja brevemente revogada.

Também por meio de nota, a defesa de Beto Richa se pronunciou ao G1 Paraná:

1- Os fatos que conduziram à prisão do ex-governador são antigos. Sobre eles, todos os esclarecimentos foram por ele devidamente prestados, não restando qualquer dúvida quanto à regularidade de todas as condutas praticadas, no exercício de suas funções.

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2- Mais do que isso. Os fatos ora invocados já foram anteriormente utilizados, na decretação das medidas cautelares expedidas contra o ex-governador. Cumpre registrar que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar referidas medidas, reconheceu a flagrante ilegalidade na ordem prisão decretada.

3- Na realidade, a prisão requerida pelo Ministério Público Federal afronta o quanto decidido pelo Supremo Tribunal Federal, com o evidente objetivo de desrespeitar os julgamentos proferidos pela Suprema Corte sobre o tema.

4- No mais, o pedido se lastreia em ilações do MPF, exclusivamente suportadas em falsas e inverídicas informações prestadas em sede de colaboração premiada, por criminosos confessos.

5- Em síntese, a prisão se baseia em fatos absolutamente requentados, carentes de qualquer comprovação e sobre os quais o Supremo Tribunal Federal já decidiu, no sentido de que os mesmos não justificam a decretação de prisão.

6- A defesa confia que o Poder Judiciário reverterá a ordem de prisão, que não atende a qualquer dos pressupostos exigidos em lei”.

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Da mesma forma, defesa de Fernanda Richa, André Richa e da empresa Ocaporã se manifestou por escrito, como segue:

A operação federal desencadeada hoje baseia-se em fatos antigos e já esclarecidos na investigação estadual do Gaeco. Há evidente conflito entre as duas investigações que versam sobre os mesmos fatos. A empresa Ocaporã não é, nem nunca foi, administrada formal ou informalmente por Carlos Alberto Richa. Não há qualquer fato que ligue a empresa Ocaporã ou seus sócios a qualquer fato ilícito sob investigação. Fernanda e André Richa estão, como sempre estiveram, à disposição da justiça, do Ministério Público e da polícia. É notório, inclusive, que ambos já prestaram depoimentos e responderam a todos os questionamentos que lhes foram feitos.