Os investimentos chineses chegaram para valer no Paraná. Desde a última quinta-feira (21), representantes da China Merchants Port Holdings iniciaram uma rodada de encontros com autoridades e empresários paranaenses para falar sobre a compra de 90% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), anunciada no começo deste mês pelo valor de R$ 2,9 bilhões.
Em Paranaguá, a expectativa com a chegada da China Merchants é positiva. “A cidade aguarda resultados positivos através dessa negociação. Nossa expectativa é que a cidade cresça graças a novos investimentos e que os parnanguaras tenham oportunidades de empregos”, disse o prefeito da cidade, Marcelo Roque (PV), em entrevista por e-mail. Ele também avalia que a venda possa melhorar a infraestrutura e a produtividade do porto. Mesmo assim, destaca: “Outro ponto que merece atenção é com relação ao meio ambiente que deve, sem dúvida, ser preservado”.
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Segundo o relatório anual de 2016 da China Merchants, há iniciativas para transformar os portos do conglomerado em zonas de baixo carbono. Há um projeto piloto na zona de West Shenzhen, com 13 projetos com esse objetivo, que passam por transformação da infraestrutura, atualização de equipamentos logísticos, otimização do consumo de energia, entre outros.
O presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap), Arquimedes Anastásio, destacou que há um compromisso de manter a atual diretoria do TCP, que já tem experiência no negócio e é envolvida com a comunidade local. “A informação que temos é que os investimentos e as ampliações continuam. O interessante é que uma empresa tão grande faz sombra até para os armadores de navio, que também são grandes empresas globais”, observou. Ele lamenta os gargalos de infraestrutura da cidade, mas diz que está na torcida por uma nova era com a gigante chinesa.
Plano audacioso
Os chineses chegaram em meio a grandes expectativas: tornar o local um dos três grandes portos de carga do Brasil, um hub. Não é exagero, levando-se em conta a força do conglomerado. A gigante chinesa é a quinta maior operadora de contêineres do mundo, e em 2016 movimentou 95,7 milhões de TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés), o equivalente a 19 vezes o que foi movimentado pelo Brasil. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), os portos todos do Brasil carregaram, juntos, 5 milhões de TEUs no ano passado.
“Ela tem uma larga expertise em movimentação e, sendo uma grande operadora logística, tem condições de tornar o TCP um hub nacional”, observa o secretário-executivo do Conselho de Indústria da Fiep, João Arthur Mohr. Ele destaca que Paranaguá já estava se preparando para isso, com investimentos para ampliação do cais e também dragagem de aprofundamento do canal. As duas iniciativas são fundamentais para permitir a atracação de grandes navios, com até 368 metros de comprimento. “Tal como na aviação, os navios precisam de ganho de escala, o que é possível com as grandes embarcações”, observa.
Grandes expectativas
Nem o TCP nem a China Merchants se pronunciaram sobre o negócio até a publicação desta reportagem. Mas no documento anunciando a transação, há elementos que comprovam planos ambiciosos para Paranaguá. “O investimento proporcionará ao grupo a oportunidade de aproveitar o hub de transporte marítimo do TCP para desenvolver sua rede logística, zona de exportação/importação e industrial e potenciais projetos residenciais e plataformas de serviços financeiros, permitindo maiores sinergias comerciais dentro do grupo”, diz o comunicado.
O documento também destaca a larga presença da China Merchants em portos da China e também na Nigéria, Togo, Turquia, Sri Lanka e Estados Unidos. “A aquisição do TCP permitirá ao grupo expandir seus negócios para a América Latina e consolidar sua posição global”, segundo o comunicado, que afirma ainda que o TCP tem capacidade instalada para movimentar 1,5 milhão de TEUs e que esse número deve chegar a 2,4 milhões de TEUs gradativamente até o fim de 2019.
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Há vários investimentos em curso, que estão previstos no contrato de arrendamento assinado em abril de 2016 pelo TCP e a União, proprietária da área. O TCP conseguiu antecipar a renovação do contrato, que terminaria em 2023, e garantiu sua permanência até 2048. Em troca, vai aplicar R$ 1,1 bilhão na modernização do terminal, dos quais R$ 540 milhões previstos a partir do fim de 2018 e R$ 548 milhões até o fim do arrendamento.
As previsões de crescimento, porém, só vão se concretizar se o terminal tiver preços atraentes para o frete, diz Mohr, da Fiep. “A principal preocupação é com o custo logístico, tanto em terra como no mar. Os armadores, proprietários de navios, estão em um processo de fusão, elevando o preço do frete. Um terminal grande pode lutar por reduzir os valores”, observa. Ele diz que a indústria espera encontrar uma parceira. “Caso contrário, podemos buscar outros modais e inclusive outros portos, porque temos que manter a competitividade dos nossos produtos”, acrescenta.
A aquisição do TCP pela China Merchants ainda vai ter que passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), já que o negócio incluiu também a aquisição da TCP Log, que presta serviços logísticos entre a indústria e o porto.
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