Imagens dos escombros da obra que foi paralisada pelo governo na localidade de Ribeirão Grande, município de Campina Grande do Sul| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo

Em sua proposta de delação premiada, apresentada à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-diretor da Secretaria da Educação (Seed) Maurício Fanini afirma que outras empresas, além da Valor Construtora, estariam envolvidas no pagamento de propina para financiar campanhas eleitorais do ex-governador Beto Richa (PSDB) e de seu grupo político.

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A proposta foi obtida com exclusividade pela RPC e divulgada na edição da última terça-feira (5) do P araná TV 1ª Edição. O acordo ainda não foi fechado com a PGR, tampouco homologado pela Justiça, e Richa nega as acusações (leia mais abaixo ).

A arrecadação de recursos com empresários, de acordo com Fanini, teria sido solicitada pessoalmente pelo tucano no final de 2011. A intenção seria financiar a campanha de reeleição de Luciano Ducci (PSB) para a prefeitura de Curitiba, no ano seguinte. Segundo o ex-diretor, esta teria sido a primeira vez que Richa falou abertamente a respeito de doações para campanha depois de ser eleito governador do Paraná.

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Fanini afirma que a orientação de Richa teria sido para uma “arrecadação mensal”, da qual o ex-diretor teria de prestar contas para o ex-governador. A partir disso, ele aponta que, em 2012, foram arrecadados R$ 300 mil de empresas que possuíam contratos de obras em andamento com a Seed.

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Mais empresas envolvidas

Além da Valor Construtora, a principal implicada nas investigações da Operação Quadro Negro, outras nove empresas são citadas pelo ex-diretor: Village; Aghora; Korchak e Korchak; Tallento; Traço; Êxito; Projeto Novo; M.I. Construtora; e VVS Construtora. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) confirmou que todas elas estão sendo investigadas.

Na proposta de delação, Fanini afirma que as nove empresas citadas não eram as únicas envolvidas no esquema, mas sim as que ele “mais se recorda”. Os valores eram deixados no banheiro da sala do ex-diretor na Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude), da Seed. Fanini tinha receio de que pudesse ser gravado ou filmado recebendo os valores. Depois, os recursos eram guardados na casa do próprio ex-diretor.

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Uma das empresas, a M.I. Construtora, já teve a ação ajuizada e firmou um acordo de leniência com a Justiça. A construtora venceu licitações para executar obras em dois colégios estaduais em Guarapuava. Segundo a delação do dono da MI, Iolmar Ravanelli, a empresa teve que “colaborar” com R$ 100 mil, via caixa 2, nas eleições de 2014, após um “pedido” feito pessoalmente por Fanini.

Detalhes

Um levantamento feito pela Gazeta do Povo nos documentos públicos do MP em dezembro de 2017 traz mais detalhes a respeito dos inquéritos contra quatro das nove empresas citadas por Fanini. Os documentos são portarias e despachos do Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público (Gepatria).

As empresas Tallento, Traço, Korchak e Korchak e VVS Construtor foram contratadas para obras em Marechal Cândido Rondon, Colorado, Apucarana, Fazenda Rio Grande, Almirante Tamandaré, Campo Largo, Cianorte e Douradina. Relembre os detalhes clicando aqui .

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Outro lado

Procurado, o deputado federal Luciano Ducci (PSB) afirmou que nunca teve relação com Maurício Fanini. “Ele diz ter recebido um pedido para colaborar na minha campanha em 2012. Cabe a quem participou deste suposto diálogo, citado por ele, explicar”, disse ele. “Eu não participei, nunca fiz nenhum pedido a este cidadão, nem tão pouco sabia disso até o dia de ontem. A Justiça certamente vai apurar isso tudo e punir quem deve à sociedade”, completou.

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O ex-governador Beto Richa (PSDB) disse, em entrevista à RPC, que suas campanhas tiveram as prestações de contas “mais detalhadas entre os candidatos”. “Montamos comitês especificamente para isso, com gente de confiança”, afirmou. O tucano rebateu outras acusações de Fanini. Leia mais aqui.

Já a Seed informou, por meio de nota, que “foi a primeira a investigar os indícios de disparidades em medições de obras de escolas”. Disse, ainda, que foi aberta uma auditoria interna para a apuração dos casos. De acordo com a secretaria, já foram nomeadas Comissões Processantes para Apuração de Responsabilidade no que diz respeito às obras das construtoras Village, Korchak & Korchak, Tallento, Traço e M.I. As demais empresas estão tendo seus contratos analisados para verificar possíveis irregularidades.

À Gazeta do Povo, o dono da VVS Construtora, Vanderli Antonio Silva, afirmou que a empresa participou regularmente das licitações do governo do estado para as obras realizadas. Segundo ele, a construtora apenas trabalha com a licitação e execução das obras, sem ter “qualquer envolvimento político”. Silva disse, ainda, que não houve qualquer favorecimento na concorrência ou repasse para integrantes do governo.

A defesa da construtora Projeto Novo disse que não teve acesso ao depoimento de Fanini e ressaltou que, por se tratar de uma proposta de delação que sequer foi aceita, as declarações não foram comprovadas e não têm validade. Por causa disso, a empresa não vai se manifestar neste momento.

A Construtora Êxito, por meio de sua assessoria jurídica, emitiu uma nota em que informa que não teve acesso à proposta de delação. Apesar disso, a empresa destaca que as menções a si “mostra-se leviana e vazia, desprovida de qualquer prova, refutando veementemente qualquer menção de seu nome na operação em questão. Destaca-se que a Construtora Êxito sequer é objeto de qualquer investigação criminal e coloca-se integralmente à disposição das autoridades competentes”, consta da nota, assinada pelo advogado Rodrigo Augusto Kalinowski. A defesa acrescenta ainda que a delação não foi homologada.

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A reportagem entrou em contato com as construtoras Village e Aghora, mas os respectivos responsáveis pelas empresas não se encontraram e, posteriormente, não retornaram a ligação.

A Gazeta do Povo não conseguiu localizar representantes da Korchak & Korchak. Em dezembro, uma das responsáveis pela construtora, Gislaine Korchak, disse que nenhuma irregularidade foi encontrada na obra tocada pela empresa – o Colégio Agrícola Manoel Ribas, em Apucarana – e que, apesar disso, os pagamentos foram suspensos. “Temos mais de R$ 2 milhões a receber por uma obra que já poderia estar acabada em 2015. Solicitei a medição rescisória, mesmo com dor no coração, por ver uma obra linda, praticamente concluída e que o governo não deu o devido valor, usando do dinheiro para atos ilícitos”, disse Gislayne, na ocasião.

Os responsáveis pela Tallento também não foram encontrados pela reportagem. Mas, em dezembro, o sócio-proprietário da construtora, Denilson Gonçalves, disse que a obra – a construção de uma escola em Marechal Cândido Rondon – foi concluída e está sendo usada normalmente. Apesar disso, ele disse que o equivalente a 15% do valor do contrato não havia sido pago pelo governo do Paraná.