O Gaeco, braço policial e de investigação do Ministério Público Estadual, aponta um importante secretário municipal como envolvido numa trama ardilosa que pode ter alterado o resultado final da eleição de 2016 – isto é, de provocar a derrota do candidato Ney Leprevost (PSD) e assegurar a vitória de Rafael Greca (PMN) no segundo turno, disputado em 30 de outubro. Outros envolvidos são uma ex-secretária e servidores de carreira da área de urbanismo da prefeitura.
Para melhor explicar o caso, vamos começar refrescando a memória do eleitor: uma semana antes da eleição, pesquisa Ibope retratava uma tendência visível dos eleitores curitibanos ao apontar que a chance de Leprevost ganhar a eleição era iminente. Sondagem divulgada no dia 21, registrada no TRE, indicava que Leprevost vinha crescendo em relação às pesquisas anteriores e já somava 53% das intenções de voto contra 47% de Greca.
Foi quando se acendeu nos comitês de campanha de Greca o pavor da derrota iminente. A situação periclitante exigia resposta tão rápida quanto bombástica para frear o crescimento do adversário. Nem que para isso fosse necessário arranjar meios escusos para atingir o fim desejado.
Foi o que fizeram os luas-pretas de Rafael Greca. O que se fez nos dias finais da campanha foi anunciar insistentemente que “verdades surpreendentes” contra Leprevost seriam reveladas no programa eleitoral gratuito do domingo anterior ao da eleição.
A “bomba” explodiu na data marcada. Consistiu em afirmar que, com a ajuda do deputado Ney Leprevost, seu irmão João Guilherme, empresário do setor de entretenimento, havia feito acordo espúrio com o Instituto Paranaense de Cegos (IPC) ao alugar um terreno de propriedade da instituição filantrópica para nele construir um centro de eventos – suposto desvio de finalidade e contrário às antigas disposições presentes nos atos de doação da área pelo município ao instituto.
A partir daí, de fato, os números começaram a virar contra Leprevost. No dia 29, véspera da eleição, o Ibope concluiu nova rodada de pesquisa indicando a “virada”, mas ainda em situação de empate técnico: 51% para Greca, 49% para Leprevost. No dia seguinte, contados os votos, Greca venceu com 53%.
Pano rápido: como o Gaeco descobriu, talvez sem querer, os bastidores da tramoia eleitoral?
Foi assim: o Gaeco recebeu denúncias de que, na gestão do prefeito Gustavo Fruet (PDT), alvarás (de construção ou funcionamento) eram expedidos pela secretaria municipal de Urbanismo mediante pagamento de propinas a funcionários e ao próprio então secretário, Reginaldo Cordeiro. Recolhidos indícios de que tais irregularidades, de fato, teriam sido cometidas, o Gaeco obteve autorização judicial para fazer escutas telefônicas tendo como alvos o próprio ex-secretário e alguns servidores. Estava deflagrada a Operação Al Barã.
As escutas produziram, além de frutos, motivo para que a prefeitura, já sob a gestão de Greca, festejasse a condução coercitiva de Cordeiro e prisões temporárias de servidores da secretaria de Urbanismo e de intermediários. Quando o Gaeco divulgou os fatos, aspones da prefeitura imaginaram que as revelações deveriam ser festejadas pelos atuais mandatários.
No entanto, os depoimentos colhidos em seguida pelo Gaeco inocentaram Cordeiro e comprovaram que não era só em recebimento de pequenas propinas que servidores do Urbanismo atuavam. Atuavam também para favorecer a campanha de Greca.
A coluna teve acesso, por meio de uma fonte oficial, a uma parte do inquérito da Al Barã. Nela estão transcritas várias conversas telefônicas durante as antevésperas do 2.º turno entre pelo menos uma ex-secretária do Urbanismo, funcionários da repartição e um dos coordenadores da campanha de Greca – nomeado logo após a vitória eleitoral para uma das mais importantes secretarias do município.
As conversas revelam que os servidores foram encarregados de escarafunchar arquivos da secretaria de Urbanismo que caracterizassem a suposta fraude na locação do terreno do Instituto Paranaense de Cegos para o irmão do candidato Ney Leprevost. Os documentos assim obtidos transitaram entre a sede da prefeitura e o porão da sede da Paranaprevidência, situada na rua Inácio Lustosa, e daí seguiram para um certo “Luiz”, encarregado de alimentar a campanha de Greca.
Foi a partir desses documentos surrupiados clandestinamente que nasceram as “verdades surpreendentes” que estouraram no programa eleitoral de Greca na noite de sábado, 25 de outubro. E repetidas nos programas seguintes a despeito dos desesperados – e já ineficazes – “esclarecimentos” de Leprevost e de medidas judiciais tentando barrar a repetição da peça de propaganda nos programas eleitorais seguintes e nos intervalos comerciais de televisão.
Além dos crimes previstos na legislação eleitoral, outros estão inscritos no Código Penal e nos estatutos do funcionalismo. Pelos quais podem responder os envolvidos.
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