A delação da JBS botou fogo na política nacional e, no momento, os esforços da Procuradoria-Geral da República e do Judiciário estão direcionados a elucidar os elementos relacionados ao presidente Michel Temer (PMDB). Por isso, ainda há muitas questões sem resposta envolvendo políticos do Paraná e de outros estados.
Nominalmente, o executivo da JBS Ricardo Saud citou doações para a senadora Gleisi Hoffmann (PT), o governador Beto Richa (PSDB) e o ex-deputado federal Eduardo Sciarra (PSD). Em um dos apensos do termo de homologação da delação, consta ainda uma anotação feita a mão com o nome do senador Roberto Requião (PMDB), ao lado do valor de R$ 1,5 milhão.
INFOGRÁFICO: Veja os paranaenses que receberam doações oficiais da JBS em 2014.
O executivo colocou Gleisi na situação mais complicada: afirmou que ela recebeu R$ 5 milhões em propina na campanha ao governo do estado em 2014, dentro de um pacote de R$ 150 milhões pagos ao PT nas eleições daquele ano.
“Tudo isso eu quero falar para o senhor que foi doação dissimulada de oficial, que não teve nada de oficial. Isso tudo é dinheiro de propina, que foi feito notas fiscais e foi feito pagamento em dinheiro vivo”, disse Saud ao procurador que ouvia o depoimento.
Entretanto, na declaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consta que Gleisi recebeu em doações oficiais R$ 8,6 milhões da JBS, via Diretório Nacional. Esse valor de R$ 8,6 milhões bate com os dados de uma grande planilha apresentada pelo empresário Joesley Batista, que contou que a empresa pagava propina disfarçada de doação oficial há muitos anos, para vários partidos e políticos.
Sobre o caso, a senadora afirmou em nota que “todas as doações recebidas na campanha eleitoral da senadora Gleisi Hoffmann em 2014 foram devidamente registradas em sua prestação de contas eleitoral e observaram todas as normas pertinentes”.
“Boa vontade”
Richa e Sciarra, por outro lado, foram elencados em uma listagem de políticos e partidos que receberam doação sem contrapartida, ou “sem ato de ofício”, que foi chamada por Saud de “reservatório da boa vontade”. Eram pagamentos feitos com o intuito de o político não atrapalhar a empresa, contou Saud no depoimento aos procuradores. Ou seja: não era propina.
O valor atribuído a Richa praticamente confere com o declarado ao TSE: R$ 1.001.000,00. Na prestação de contas oficial, consta que R$ 1 milhão foi pago via transferência eletrônica, e R$ 1 mil, depositado em espécie. Entretanto, Saud relata que entregou dinheiro vivo diretamente nas mãos de Pepe Richa, irmão do governador, em frente a um supermercado em Curitiba. Esse mesmo valor consta do “listão” apresentado por Joesley Batista.
Pepe Richa contestou o delator: “Repudio as falsas afirmações a mim dirigidas pela pessoa do ‘delator’ da JBS Ricardo Saud, de quem não recebi dinheiro algum”. O governador também negou ilicitudes.
No caso de Sciarra, o executivo da JBS falou em repasse de R$ 200 mil via pagamento de uma nota fiscal da empresa CRE Participações e Empreendimentos, da qual o ex-deputado é sócio. Sciarra afirma que a empresa prestou serviços para a JBS e por isso o pagamento é lícito.
Requião
O nome do senador Roberto Requião consta do anexo que trata da campanha da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer à Presidência. Em uma anotação feita a mão por Ricardo Saud, há uma listagem “PT – regionais, autorizada pela nacional”. Há valores direcionados a todos os estados, em valores de R$ 70 mil a R$ 1 milhão. O único nome que consta na página é de Requião, com o valor de R$ 1,5 milhão, com a observação “planilha PMDB”.
Na declaração oficial ao TSE, consta de fato a doação de R$ 1,5 milhão feita diretamente pela JBS à campanha de Requião pelo governo do Paraná. Ele ainda recebeu R$ 500 mil da JBS via repasse feito pela Direção Nacional e outros R$ 400 mil da JBS via comitê de Michel Temer. O valor total de R$ 2,4 milhões confere com o “listão” de Joesley Batista.
Em relação às doações, Requião disse que foi tudo declarado. “Portanto, não existe propina! A doação foi devidamente declarada. Não tivemos contato na campanha com ninguém da JBS e esses recursos foram encaminhamos única e exclusivamente por meio do Diretório Nacional.”
“Listão”
Tanto Ricardo Saud como Joesley Batista afirmaram que a empresa fez doações políticas próximas a R$ 500 milhões e que quase a totalidade disso é propina. Joesley fez menção a crimes de “10, 15 anos para cá”. Teriam sido pagos R$ 400 milhões em doações oficiais e o restante via pagamento de notas fiscais frias.
Saud afirma que foi paga propina a 28 partidos, que a direcionaram a 1.829 candidatos. O número bate com os do anexo “Doações TSE” apresentadas por Joesley. Nesse caso, há incongruência relacionada ao governador Beto Richa, que está nessa relação, mas também foi citado por Saud como beneficiário de doação sem compromisso de contrapartida.
No listão, aparecem o nome de 26 paranaenses, na seguinte ordem: Aliel Machado Bark, José Baka Filho, Roberto Requião, Ademir Bier, Osmar Serraglio, Marco Antonio Andreotti, Ricardo Barros, Nelson Meurer, Dilceu Sperafico, José Carlos Schiavinato, Marcelo Belinati Martins, Luiz Nishimori, Fernando Giacobo, Claudio Palozi, Beto Richa, Tadeu Veneri, Zeca Dirceu, Gleisi Hoffmann, Marlei Fernandes de Carvalho, Alex Canziani, Francisco Gomes dos Santos e Reinaldo José Rocha.
Canziani aparece como destinatário de R$ 360 mil, na campanha eleitoral de 2010, o que confere com a prestação de contas do TSE. Todos os demais são relacionados à campanha de 2014, e todos os valores do anexo da JBS confere com a declaração oficial.
Os políticos todos citam que as declarações foram legais e estão devidamente registradas. A maioria ressalta ainda que recebeu o dinheiro via diretório nacional e não tem ligação direta com a JBS.
No seu depoimento, porém, Ricardo Saud faz uma observação, ao falar da listagem de pessoas que receberam dinheiro. “Aqui tá todas as pessoas que receberam propina da gente diretamente ou indiretamente. Digo direta ou indiretamente porque é muito difícil o cara não estar sabendo que o PT comprou o partido X ou deixou de comprar o partido Y; que o Aécio comprou o partido X ou deixou de comprar”, disse.
“Se ele recebeu esse dinheiro, ele sabe de um jeito ou de outro que foi propina. Essas pessoas estão cientes disso”, afirmou Saud.
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