Os indícios de que, mesmo investigados, os aliados do ex-governador Beto Richa (PSDB) não deixaram de cometer crimes levaram o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) a pedir autorização judicial para a realização de escutas telefônicas, realizadas entre 24 de julho e 1º de agosto. O conteúdo dessas conversas, envolvendo o ex-governador, motivaram o pedido de prisão de Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete de Beto Richa, segundo declarações dadas na coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (11).
Já a prisão do empresário Jorge Atherino estaria alavancada em movimentações de altos valores, em diversas empresas, que estariam acontecendo recentemente.
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Esses fatos novos são essenciais para entender o que levou a força-tarefa da Lava Jato a deflagrar uma operação policial menos de uma semana depois de oferecer uma denúncia criminal, aceita pelo juiz Sergio Moro, contra os dois réus, agora presos. De acordo com o MPF, Deonilson Roldo continuava atuando, veladamente, como coordenador da campanha de Beto Richa ao Senado e, como há indícios de que ele negociava doações suspeitas, era necessário, para cessar a prática de crimes, que fosse impedido de agir.
Numa das conversas, Deonilson recomenda que Beto Richa participe do Curitiba Social Mix, evento jovem ligado a redes sociais, para passar uma imagem de “antenado”. Em outra, o ex-chefe de gabinete dá orientações políticas a uma pessoa próxima a Beto, mas comenta que não pode aparecer na campanha. Tendo em vista a influência de Deonilson, Moro concordou com o pedido de prisão. Já Atherino teria movimentado R$ 560 milhões nos últimos quatro anos, sendo R$ 15 milhões em espécie.
Segundo o MPF, diversas empresas ligada à família do empresário continuavam operando transferências suspeitas.
Os mesmos núcleos
Outro ponto importante para entender as duas operações policiais deflagradas nesta terça-feira é a repetição de nomes, indicando que ambas as investigações consideram o mesmo núcleo como central nas suspeitas de irregularidades. Dos presos pelo Gaeco, oito pessoas também aparecem nos documentos da Lava Jato, ainda que vários ainda sejam apenas investigados (ou seja, não viraram réus nem foram denunciados).
Chama a atenção a presença de dois ex-secretários - Ezequias Moreira e José Richa Filho - além do ex-chefe de gabinete de Beto Richa e Luiz Abi Antoun, primo distante do ex-governador, como o grupo acusado de ser o responsável por operacionalizar esquemas de propina.
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Defesa chama ação de oportunismo
A defesa do ex-governador Beto Richa informa que não há razão para o procedimento desta terça (11), especialmente em período eleitoral, segundo a advogada Antônia Lélia Neves Sanches. Ela completa que Richa está sereno e sempre esteve à disposição para esclarecimentos. De acordo com a advogada, não há vedação de prisão por conta do período eleitoral, “mas há oportunismo”. A defesa ingressou com habeas corpus ainda nesta terça.
O DER, responsável pelas obras do Patrulha do Campo, comunicou que o programa foi criado em março de 2013 e encerrado em julho de 2015. A nota trouxe ainda que, “por determinação da governadora Cida Borghetti (PP)”, o DER está colaborando com as operações do Gaeco e Lava Jato.
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Vice-governadora na última gestão de Richa, Cida Borghetti se defendeu. Também por meio de nota, disse que “não participou de qualquer dos fatos que estão sendo alvos de operação policial nesta terça-feira”. No texto, ressaltou ainda a demissão de Deonilson Roldo logo após um áudio revelar a ligação dele com um esquema de fraude na licitação da PR-323 que beneficiou a Odebrecht, bem como a extinção da secretaria especial que era ocupada por Ezequeias Moreira. E termina: “Confio que a Justiça será feita”, afirma.
A defesa de Deonilson Roldo disse que ainda não teve acesso aos detalhes da investigação encabeçada pelo Gaeco no âmbito da Paraná Patrulha do Campo, mas que sabe que o segundo mandado – da Lava Jato, sobre as irregularidades da licitação para a PR-323 – pediu prisão preventiva do ex-secretário de Richa.
O advogado Roberto Brzezinski Neto falou que Roldo “está abalado” e que a prisão foi desnecessária, uma vez que Roldo já tinha se colocado à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos. “O que me chama a atenção é que logo depois que a imprensa divulgou um pretenso áudio entre ele e um empresário, nós fizemos uma petição ao juíz nos colocando a disposição para prestar esclarecimentos. Ele jamais foi intimado para qualquer manifestação. Me parece que a prisão dele, nesse momento, não se fazia necessária”, disse.
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