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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O prefeito Rafael Greca (PMN) não esconde: ele quer aprovar com máxima urgência o pacote de projetos de ajustes enviados à Câmara. Nesta terça-feira (20), mais uma vez, a votação foi adiada, depois que servidores municipais conseguiram romper o isolamento feito por centenas de policiais militares, que estavam postados desde a madrugada no entorno da sede do Legislativo. Em entrevista concedida por telefone à Gazeta do Povo, Greca disse que vai manter o regime de urgência na tramitação dos projetos “a qualquer preço” e que já orientou os vereadores da base a adiarem o recesso parlamentar. “Eu estou para servir o povo de Curitiba, não a vaidade dos sindicalistas”, disse. O prefeito também falou do confronto ocorrido na Câmara e defendeu a necessidade das medidas. Veja a entrevista na íntegra.

Prefeito, que avaliação o senhor faz deste dia longo, em que os pacotes não foram votados pela Câmara?

Eu vejo com grande apreensão, porque a urgência não é minha. A urgência é de Curitiba. Eu e minha equipe fizemos o plano de recuperação de Curitiba pra enfrentar a crise de frente e de verdade. Eu não desisti de nenhuma promessa de campanha e é exatamente por isso que fiz o plano de recuperação: para devolver sustentabilidade ao serviço público municipal, criando uma prefeitura moderna. O plano assegura e respeita integralmente os direitos dos atuais servidores, que não terão alteração nem em sua licença prêmio, nem nas aposentadorias e que terão garantidas provisões para o IPMC [Instituto de Previdência Municipal de Curitiba]. O [ex-prefeito Gustavo] Fruet (PDT) não pôs provisão para pagar o IPMC e eles não fizeram greve contra ele. Eu não consigo entender porque fazem greve contra mim, que estou provisionando o futuro das aposentadorias municipais.

Aproveitando o “gancho” do IPMC, de um lado tem a criação da previdência complementar com aumento de alíquotas. De outro, a retirada de R$ 600 milhões do instituto. Não há uma contradição?

Nenhuma. Você já ouviu dizer de um empresário que, depois que seu empregado se aposenta, recolhe a contribuição patronal em vida a este empregado aposentado? Pois por muitos anos a prefeitura de Curitiba fez isso, por isso o IPMC tem um rombo. Eu estou pegando esse dinheiro, abrindo orçamento e colocando esse dinheiro de volta no IPMC para pagar o rombo Fruet em 2016 e 2015. (...) Estou fazendo uma reengenharia de responsabilidade fiscal, com contabilidade casada, receita e despesa, para o bem de Curitiba.

O senhor ficou sensibilizado com as imagens dos policiais agredindo os servidores que tentaram entrar na Câmara?

Eu pedi que retirassem a votação, que adiassem a votação. Mas eu fiquei mais preocupado com o guarda municipal que foi preso armado dentro da manifestação. O que uma pessoa vai fazer armada numa multidão? Ela não deve ter boa intenção. O senhor tem obrigação de cobrar isso. Ele foi preso e eu vou puni-lo administrativamente, porque nós não podemos ter um guarda municipal, que tem o dever de proteger o povo de Curitiba e os seus colegas servidores, armado numa manifestação.

O senhor pediu o adiamento da votação. Foi isso?

No momento em que o líder me comunicou que o plenário tinha sido invadido e que havia risco de morte de funcionários, de vereadores e de servidores e que havia um guarda municipal armado, preso pela polícia, eu pedi o adiamento. Agora, o guarda ensanguentado que frequentou a internet e a página da Gazeta, ele não foi espancado pela polícia. Ele caiu na escada do prédio. Não existe um cassetete de polícia que tenha tamanho pra bater na cabeça de uma pessoa. Não é um vara-pau de bambu que vá atingir a cabeça de quem está no topo de escada.

Por que o senhor optou pela presença da polícia, prefeito?

Não fui eu. Quem pediu a presença da polícia foi a Mesa Diretora da Câmara e foi o interdito proibitório, que impede os sindicatos de invadirem a Câmara, desde quando, há mais de três semanas, os sindicalistas sequestraram os vereadores durante uma reunião, presidida pelo vereador [Mauro] Bobato (PTN). O senhor, que é um bom repórter, deve se lembrar disso.

Mas o senhor como prefeito não poderia ter feito alguma coisa para intermediar ou minimizar a presença da polícia, já que no 29 de abril o senhor condenou tanto a ação do governador?

É por isso que a polícia não foi armada, só usou gás repressor, e fez um policiamento apenas de contenção, sem querer agredir ninguém. Mas aí quando os sindicatos permitiram a presença de pessoas armadas, eu pedi para adiar a votação.

Os sindicalistas têm reivindicado reiteradamente uma audiência presencial com o senhor. Por que isso não é possível?

Eles tiveram 44 reuniões na prefeitura, 25 reuniões na Câmara, duas em minha presença. Na quarta-feira, fizeram uma emenda (...). Eu estou para servir o povo de Curitiba, não a vaidade dos sindicalistas.

O senhor está dizendo que se reuniu duas vezes com os sindicalistas?

Sim. Eu recebi o Sismmac [sindicato do magistério] e recebi os sindicatos duas vezes na prefeitura. Não, uma vez, uma vez [corrigindo-se]. Eu convidei o Sismuc [Sindicato dos Servidores Municipais], que não quis vir. Eu fiz dois convites àquela senhora do sindicato, que disse que não podia me visitar.

Os sindicatos têm pedido a retirada do pedido de urgência na tramitação dos projetos...

[interrompendo] A urgência não é minha. A urgência é de Curitiba. Eu tenho uma folha de R$ 305 milhões por mês. Não tenho um caixa muito folgado. Devo ter R$ 600 milhões ou um pouco mais que isso. Duas folhas já acaba o nosso caixa. Nós vamos virar uma Porto Alegre, um Rio de Janeiro. Nós queríamos pagar adiantado 50% do 13º [salário] neste mês e já não vamos poder fazer isso. Pode ser que façamos em julho, se o plano for aprovado. A urgência é de Curitiba (...). Essa história de que vou aumentar cargos comissionados é mentira. Não existe no plano nenhuma menção a cargos comissionados. Eles são menores em 200 cargos aos que o Fruet nomeou. Mais que isso: as licenças prêmio não se extinguem para os atuais funcionários, mas para os futuros, sim. A sociedade não aceita mais que um funcionário púbico, a cada cinco anos, fique três meses sem trabalhar, ganhando por isso.

Alguns vereadores têm questionado sobre o real impacto financeiro que essas medidas, se forem aprovadas, trariam aos cofres municipais...

[interrompendo] Quando as medidas forem aprovadas, Curitiba terá responsabilidade fiscal. O impacto financeiro será o da provisão do IPMC, o da garantia e manutenção da folha, o da possibilidade de reajuste da data-base nova no mês de novembro e o da devolução de Curitiba e seu povo.

Mas existe essa projeção real? A prefeitura tem esse levantamento consolidado?

O impacto financeiro é o da sustentabilidade financeira de Curitiba. É o do saldo dessa dívida de R$ 1,1 bilhão. Mas posso pedir que o secretário da Fazenda que te informe, já que o senhor é um doutor em economia.

Questiono apenas se a prefeitura tem, de fato, essas informações.

Tem. Doutor Vitor [Puppi, secretário de Fazenda], certamente tem.

Temos um período curto até o recesso, o senhor espera que...

[interrompendo] Eu vou manter a urgência a qualquer preço e vou pedir à minha base que requeira a prorrogação além do recesso.

Na semana que vem, certamente haverá novas manifestações. Como o senhor vai lidar com isso?

Não sou eu quem tenho que lidar com isso. É a Mesa Diretora da Câmara, que tem que assegurar aquele poder, a liberdade que lhe garantiu a eleição.

Ao jogar a responsabilidade para os vereadores, o senhor não está se isentando demais nessa questão, que é tão polêmica?

Não estou me isentando, porque eu não posso interferir no poder. Se eu interferir no outro poder, o senhor vai me chamar de ditador e não tenho intenção de sê-lo. Você já ouviu dizer de algum governante que não fosse ditador que tivesse interferido em um Parlamento? O senhor não quer defender a liberdade do Parlamento? Eu vou defender isso até o fim dos meus dias.

Mas os servidores têm argumentado que não tem havido diálogo.

Eu estou dialogando exaustivamente. Foram 44 reuniões na prefeitura, 25 na Câmara e cinco sessões de sabatinas com o secretário da Fazenda, presidente do IMPC e secretário de Governo, com a presença da imprensa.

O que Curitiba pode esperar deste capítulo de sua história?

Se o plano de recuperação for aprovado, Curitiba volta a ser Curitiba. Passa a ter de novo uma prefeitura que não pertencerá a grupos políticos ou a sindicatos, mas que valorizará,antes de tudo, o eficiente serviço.

Se não aprovado?

Vamos começar a desligar a cidade aos poucos e vamos ver o que fazer.

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