Se para sair da crise são necessários vários ganchos, um dos mais sólidos pode estar no chão de fábrica paranaense. De 2003 para cá, mesmo sofrendo com os anos recentes de crise, a indústria paranaense cresceu 35% acima na média nacional.
Hoje, o que se fabrica no estado ajuda a alimentar o quarto maior PIB industrial do país. “Isso mostra a nossa força”, afirma Roberto Zurcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). É só um traço de tinta nesta tela que já vem sendo pintada há muitos anos, como mostra um balanço da própria Fiep.
Na semana passada, a entidade que representa os industriais apresentou uma avaliação dos 30 anos de seu estudo complexo de indicadores industriais, chamado Indicadores Conjunturais. Basicamente, a Fiep mostra a produção real das fábricas do estado e condensa estas informações em boletins mensais. São dados como faturamento, geração de empregos, horas trabalhadas, utilização da capacidade.
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Com isso, a entidade espera traçar um perfil que ajude o dono da indústria a se planejar. Isso é feito desde 1987. “A Fiep não acreditava nos números oficiais daquela época. O IBGE fazia levantamentos e indicava que tudo estava indo muito bem, e os empresários falavam que isso não era verdade. Os boletins nasceram para confrontar os dados oficiais”, conta o superintendente da Fiep, Reinaldo Tockus.
“De lá para cá, tivemos apoio de instituições como o Sebrae, Ipardes, Fecomércio. Uma série de instituições e empresas que ajudaram a formatar esses indicadores”, diz Tockus.
Crescimento
E os números mostram uma ascensão da indústria do estado. No ano de estreia da pesquisa, o Paraná respondia por apenas 4,2% do PIB industrial nacional. Naquela época, eram 6.840 indústrias com mais de cinco trabalhadores e juntas elas geravam 195 mil empregos. A produção ainda era muito dependente da Petrobras e da indústria de adubos e fertilizantes – o setor de químicos e petroquímicos era o mais importante até então, com 24% do PIB industrial do estado. Também era representativa a indústria madeireira, a terceira em valores.
Trinta anos depois, a realidade é outra. E o estado tem bem mais peso. Quase duplicou a participação, aliás. Representamos, atualmente, 7,8% do PIB industrial do Brasil. E é uma produção diferente. O estado percebeu sua vocação para os alimentos – o setor representa 28% do PIB industrial estadual; é o que tem mais peso.
Além disso, a indústria madeireira perdeu espaço para indústria de material de transporte (da qual fazem parte as montadores, o que explica o crescimento), terceira mais importante, com 12% de participação – químicos e petroquímicos estão em segundo lugar. Agora, são 18.560 indústrias com mais de cinco trabalhadores. Juntas, elas empregam 651 mil pessoas.
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Retomada
Com tal representatividade não é de surpreender que se espera sair daqui um impulso extra contra a crise. O Paraná foi o estado com maior crescimento da indústria de transformação (que exclui a atividade extrativa) no acumulado deste ano, de acordo com outra análise, do IBGE.
O boletim mostra que de janeiro a agosto, produzimos 4,6% mais, se comparado ao mesmo período do ano passado. Foi o melhor desempenho desde 2011. O estado ficou bem à frente de outros polos, como Santa Catarina (3,7%) e Amazonas e Espírito Santo (ambos com 2,7%). Somente comparando agosto deste ano com o do ano passado, foi um crescimento de 8,8% -- no Brasil, a indústria da transformação cresceu 0,8% nesta base de comparação.
Outros setores também se destacaram nos últimos meses, como o de bebidas, que produziu 5,5% a mais; produtos minerais não metálicos, 4,3%, e produtos de metal, 1,3%.
“Foi um crescimento generalizado, no acumulado. Tivemos uma queda em alguns meses, mas o balanço é positivo. O destaque é o setor de máquinas e equipamentos, que produziu mais porque, no campo, tivemos safra recorde e o agricultor precisou de maquinário. Como ele tinha dinheiro por conta do alto nível das exportações, investiu”, destaca o economista e consultor de negócios Paulo Dias.
“O automotivo também cresceu bem já que o brasileiro voltou a ser mais confiante em trocar de carro. Aqui o mercado interno explica bem”, diz. O setor de máquinas e equipamentos cresceu 61,5% e o automotivo, 13,5%, respectivamente, no acumulado do ano.
Perspectiva
Há um certo clima de otimismo, ainda que velado, na indústria. Flávio Castelo Branco, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que há sinais de recuperação, como inflação em níveis baixos (nos padrões brasileiros), taxa de juros em queda e desemprego recuando.
Mais que isso, as pesquisas da CNI apontam industriais mais confiantes na melhora econômica e política do país, o que é fundamental para que lancem mão de investimentos. “Isso não vinha acontecendo nos últimos dois anos”, disse Castelo Branco durante o evento de celebração dos 30 anos dos Indicadores Conjunturais da Fiep.
Para que o otimismo se consolide, porém, há uma escolha a se fazer. “São dois cenários: um deles é o de continuidade e aceleração das reformas e a consequente retomada gradual do crescimento”, diz. “O outro cenário é sem o avanço das reformas [como a da Previdência], paralisação da recuperação da economia e a estagnação do país”, diz.
E tudo passa pela eleição de 2018, que, na sua avaliação, vai definir o cenário que vai se impor. “Precisamos promover a transição para um novo regime fiscal, melhorando o ambiente de negócios e avançando na agenda da competitividade”, destacou.
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