O presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo/Arquivo

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região (Sindimoc) está no epicentro de uma investigação conduzida pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil, que há dois anos apura um esquema que viria beneficiando o presidente da entidade, Anderson Teixeira. As denúncias incluem desde a contratação de parentes de Teixeira até fraudes no sistema de saúde do sindicato, além do desvio de bens. Os depoimentos apontam ainda para o uso de recursos do Sindimoc para a campanha do vereador Rogério Campos (PSC), que é tesoureiro do sindicato.

CARREGANDO :)

O inquérito chegou a ser relatado pelo Nurce, mas um mês atrás – em 7 de junho – o Ministério Público do Paraná (MP-PR) devolveu o processo ao núcleo, pedindo mais diligências. Entre elas, a promotora Mônica Helena Derbli Baggio pede que a polícia formalize o indiciamento de Teixeira, por falsificação e omissão de documentos e por ameaça; e que diversas pessoas ligadas ao sindicato sejam ouvidas, entre elas, o vereador Rogério Campos.

OUTRO LADO: “Denúncias são infundadas e têm cunho político”, diz Teixeira

Publicidade

“As provas documental e testemunhal por ora carreadas aos autos demonstram, sim, a existência de indícios bastantes de materialidade e de autoria delitivas, o que, por certo, justifica incisiva e urgente investigação, sobretudo porque referente a malversação de utilização de valores pagos por filiados de entidade sindical, do que deriva inequívoco dano à coletividade”, observou a promotora.

As acusações

Segundo as investigações, o departamento jurídico do Sindimoc – responsável por demandas judiciais trabalhistas de motoristas e cobradores – é comandado pelo irmão de Teixeira, que receberia salário de R$ 130 mil por mês. Em depoimento, os denunciantes disseram que a contratação do advogado sequer foi aprovada pela diretoria do sindicato.

Além disso, o inquérito aponta o aparelhamento do sindicato por outros parentes de Teixeira: um primo, empregado no departamento de informática; outro primo, também no departamento jurídico; e uma cunhada, como responsável pelo Centro Integrado de Saúde do Sindimoc (CISS), uma espécie de clínica médica do sindicato. Alguns depoimentos apontam que parte do salário dos familiares voltava para o presidente da entidade.

O MP-PR apontou que há indícios de fraude na execução de serviços prestados pelo CISS. Os exames e consultas seriam realizados “mediante valores superfaturados, seja porque desviados os valores pagos em benefício do próprio presidente do Sindimoc”, destacou a promotora.

Publicidade

As denúncias descrevem ainda que bens – como veículos e imóveis do sindicato – teriam sido vendidos sem anuência da entidade e uma das testemunhas apontou que Teixeira teria falsificados as prestações de conta do Sindimoc. Outra testemunha – um recepcionista do sindicato – disse que Teixeira chegou a comprar R$ 30 mil em peixes em nome do sindicato, mas que mandou entrega-los em sua chácara particular, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

LEIA MAIS:  “Bilhete único” levaria passagem de ônibus para até R$ 4,85, diz Urbs

O recepcionista afirmou, ainda, que os familiares de Teixeira abastecem seus carros e as notas são emitidas em nome do Sindimoc. Ele relatou gastos de até R$ 7 mil em boates em estacionamentos, despesas também custeadas pelo sindicato.

Desvio de recursos para a campanha

Pelo menos duas testemunhas mencionam o vereador Roberto Campos, segundo tesoureiro do Sindimoc. Uma delas acusou a destinação irregular de repasses, via caixa 2, para a campanha do sindicalista. “[Campos] foi beneficiado em sua eleição para vereador, por foi gasto pelo Sindimoc valor muito maior do que aquele declarado, ou seja, mais de R$ 30 mil”, conta do inquérito enviado pelo MP-PR ao Nurce.

“Denúncias são infundadas e têm cunho político”, diz Teixeira

O presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, atribuiu as denúncias a questões políticas e garantiu que está comprovando à polícia a legalidade dos atos praticados pelo sindicato. Segundo ele, os denunciantes são ligados à antiga diretoria do Sindimoc, que perdeu a eleição para o grupo de Teixeira. O presidente do sindicato disse que as testemunhas não comprovaram documentalmente o que delataram e que vai processá-los.

Publicidade

“São denúncias infundadas e de cunho político, e que partiu daqueles que foram derrotados por nós nas eleições”, disse Teixeira. “Nós estamos mostrando ao Nurce todos os balancetes e falando que estão usando isso politicamente. A nossa preocupação é que se tente criar um fato em relação a uma investigação que ainda está em andamento. Nós não temos nada a esconder”, completou.

Teixeira confirmou que manteve o irmão no departamento jurídico do sindicato, mas argumentou que ele já prestava serviços à entidade e justificou o valor do contrato (R$ 130 mil, por mês) apontando o volume de ações. “Meu irmão já era funcionário do Sindimoc. E outra coisa: são quatro mil ações [judiciais] dentro do Sindimoc, todas de sócios e dependentes, que não pagam um real por esse serviço. Ele [o irmão] trabalha e trabalha muito. Então tenho total tranquilidade em relação a isso”, disse.

Da mesma forma, o presidente do Sindimoc alegou que todos os seus parentes empregados no sindicato efetivamente trabalham. Em relação ao CISS, ele apontou a produtividade do sistema de saúde vinculado ao sindicato. “São mais de cinco mil consultas e 20 mil exames por mês. Temos um trabalho constante de avaliação e a reclamação é mínima. Então, essa denúncia tem pegada política”, afirmou.

Teixeira também negou desvios de recursos do sindicato. “Nós nunca fizemos uma compra de peixes no valor de R$ 30 mil. E o peixe que foi comprado foi entregue na chácara do sindicato. Tem comprovação disso”, afirmou. “Tudo que eu compro como pessoa física, dizem que é com dinheiro do sindicato. A gente tem como comprovar tudo direitinho”, destacou.

A Gazeta do Povo tentou ouvir o vereador Rogério Campos, mas ele não retornou aos pedidos de entrevista ou de manifestação sobre as denúncias. Anderson Teixeira, por sua vez, nega que o Sindimoc tenha destinado recursos ao então candidato a reeleição. “Rogério Campos não teve nenhuma ajuda nossa”, resumiu Teixeira.

Publicidade