Na primeira sessão após a revelação que os chefes de três órgãos do estado foram citados por delatores da Odebrecht, os deputados da Assembleia Legislativa do Paraná seguiram agindo como se nada estivesse acontecendo. Curiosamente, o único a mencionar o tema da tribuna foi o líder da oposição, Tadeu Veneri, que é filiado ao PT, um dos principais partidos – se não o principal – envolvidos no esquema do petrolão.
Ex-presidente de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Júnior relatou à Operação Lava Jato que o governador Beto Richa (PSDB) recebeu um total de R$ 3,05 milhões em dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral nos pleitos de 2008, 2010 e 2014. Da mesma forma, numa planilha com quase 200 nomes entregue por ele aos investigadores, o ex-executivo da empreiteira afirma ter repassado, em 2010, R$ 50 mil à atual vice-governadora Cida Borghetti (PP), que se elegeu deputada federal na ocasião.
Piloto, Caim, Coxa... os apelidos dos políticos do Paraná na delação da Odebrecht
No mesmo ano, ainda aparecem na planilha repasses de R$ 50 mil ao atual presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), e ao atual primeiro-secretário da Casa, Plauto Miró (DEM). Outro nome presente na tabela é o do atual presidente do Tribunal de Contas do Estado (TC), Durval Amaral, que teria recebido R$ 120 mil de caixa 2 em 2010, quando se reelegeu deputado estadual pelo DEM. Todos negam o recebimento de recursos ilícitos. Vale lembrar que nos casos de Borghetti, Traiano, Miró e Amaral, ainda não há pedido de investigação por parte do Procuradoria-Geral da República (PGR).
Odebrecht: o que foi delatado e por quais crimes os políticos do PR podem ser investigados
Celso Nascimento Beto Richa terceiriza culpa e repete mantra de Lula - eu não sabia
Leia a matéria completaApesar de todo esse turbilhão, apenas o petista Tadeu Veneri discursou sobre o assunto nesta segunda-feira (17). Adversário do PSDB, o parlamentar afirmou que o partido “agora não sabe o que dizer, depois de bater tanto no PT”. Em tom de ironia, mencionou uma entrevista de Richa logo após a aprovação da admissibilidade do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara, na qual ele dizia que o povo estava cansado da corrupção em Brasília e que, a partir daquela data, nascia um novo Brasil.
“Posaram de santos, puros, virgens, dizendo que o grande problema do país tinha nome e endereço. É claro que o PT também tem seus culpados e paga um preço altíssimo por isso. Mas o que vemos são um bando de hipócritas, que estão todos enterrados no mar de corrupção”, atacou o líder da oposição na Casa.
Eleições de 2010 e 2014 ao governo do Paraná foram contaminadas pela Odebrecht
“O mundo caindo na cabeça de todo mundo e eles assim, como se nada estivesse acontecendo. É surreal”, confidenciou um deputado à reportagem.
Nesta segunda, os parlamentares pareciam tão despreocupados que, para poder iniciar a votação da ordem do dia, Traiano precisou convocar os deputados pelo sistema de som da Casa para que fossem ao plenário e dessem quórum para a continuidade dos trabalhos. O tucano também teve de responder a questionamentos dos colegas se a sessão de quarta-feira (19) seria adiantada para o período da manhã, liberando os parlamentares mais cedo para o feriado de Tiradentes, na próxima sexta-feira (21). Segundo ele, os trabalhos em plenário ocorrerão normalmente na parte da tarde.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião