O Ministério Público do Paraná (MP-PR) tomou o depoimento, ao longo dos últimos dois meses e meio, de um total de 44 pessoas no âmbito da Operação Quadro Negro – que apura um esquema de desvio de mais de R$ 20 milhões de obras de construção e reforma de escolas estaduais. Entre os ouvidos, estão testemunhas, investigados e réus, incluindo as duas “peças-chave” das investigações: o dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, que fechou um termo de colaboração premiada; e o ex-diretor da Secretária de Estado da Educação Maurício Fanini, que era próximo ao então governador Beto Richa (PSDB) e que negocia um acordo de delação.
Os depoimentos são desdobramentos de ações civis por improbidade administrativa, interpostas pelo Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público (Gepatria), do MP-PR, visando responsabilizar civilmente os envolvidos e reaver os recursos desviados. Ao todo, 17 pessoas são rés nestes processos. A maioria das oitivas ocorreu em Curitiba e em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.
Para não prejudicar as investigações, o MP-PR não divulga o teor dos depoimentos. O empresário Eduardo Lopes de Souza foi um dos primeiros a ser ouvido nesta nova bateria de oitivas. Em sua colaboração premiada, o dono da Valor envolveu o núcleo político do Paraná e detalhou que desvios abasteceram a campanha de reeleição de Richa. O empresário também citou o pagamento de propina aos deputados Ademar Traiano (PSDB) e Plauto Miró (DEM), e do ex-secretário de Richa, Valdir Rossoni (PSDB). Todos eles negam envolvimento no esquema e desqualificam a palavra de Lopes de Souza.
LEIA TAMBÉM: Richa nega envolvimento e chama delator de criminoso
Preso em decorrência da Quadro Negro, Maurício Fanini, também prestou depoimento ao Gepatria em Curitiba. Ele havia sido mencionado por Lopes de Souza como um dos principais operadores do esquema e que atuava em nome do governo do Paraná. Segundo a delação, Fanini teria recebido dinheiro em espécie, em caixas de vinho e em mochilas. Trechos vazados do acordo da delação de Fanini – ainda em negociação – apontam que ele teria recebido dinheiro para não delatar os políticos.
Entre os outros ouvidos, estão o atual secretário de Cerimonial, Ezequias Moreira – condenado do caso da “sogra fantasma”. Segundo a delação de Lopes de Souza, o secretário teria recebido recursos do esquema com a finalidade de abastecer, via caixa 2, a campanha de Richa. Na ocasião, Ezequias disse que sequer conheceu Lopes de Souza e disse que a delação “não encontra respaldo na realidade”.
Também prestou depoimento o empresário Jorge Theodócio Atherino, mencionado em trechos vazados da delação de Fanini. Atherino também é investigado em outro processo, acusado de ter sido favorecido por uma concessão ambiental emitida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), na gestão Richa.
Ponta Grossa
Em Ponta Grossa, os promotores tomaram o depoimento do ex-prefeito Pedro Wosgrau Filho (PSDB). Investigações da Quadro Negro apuram se houve desvios em obras de três escolas na cidade – duas municipais e uma estadual – que eram de responsabilidade da Valor. O caso mais emblemático é o da nova sede da Escola Estadual Francisco Pires Machado, no bairro Cará-Cará. Orçadas em R$ 4,7 milhões, as obras foram interrompidas em 2015, depois que a Valor abandonou o empreendimento. Em dezembro do ano passado, a Gazeta do Povo visitou a construção e constatou o abandono do prédio.
Criminal
Na área criminal, a investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) resultou no oferecimento de denúncia à Justiça, em dezembro de 2015. O processo tramita na 9ª Vara Criminal de Curitiba. As apurações que envolvem pessoas com prerrogativa de foro são conduzidas pela Procuradoria-Geral da República e tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).
A Quadro Negro
Deflagrada em 2015, a Operação Quadro Negro apura um esquema de desvio de dinheiro público de obras de reforma e construção de escolas estaduais do Paraná. As investigações do Ministério Público (MP-PR) estimam que o núcleo de corrupção tenha causado um prejuízo superior a R$ 20 milhões aos cofres públicos. O rombo seria ainda maior: segundo a delação de Eduardo Lopes de Souza, o objetivo seria arrecadar R$ 32 milhões à campanha de reeleição do governador Beto Richa. O delator também relata pagamento de propina a outros agentes políticos, como o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), o secretário Valdir Rossoni (PSDB) e o deputado estadual Plauto Miró (DEM). Todos negam as irregularidades.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares