Quase nove anos depois de ter se envolvido na colisão de trânsito que matou dois jovens, o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho está em vias de ser levado ao banco dos réus. Após longa tramitação que envolveu a análise de recursos por tribunais superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado vai ser julgado por duplo homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar).
Com isso, Carli Filho vai a júri popular, cujas sessões estão marcadas para os dias 27 e 28 de fevereiro, na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Curitiba. A Gazeta do Povo listou os principais pontos que devem ser explorados no julgamento:
Velocidade
A velocidade em que Carli Filho trafegava deve ser o principal elemento a ser explorado pela acusação. Segundo a perícia oficial elaborada pelo Instituto de Criminalística (IC), o Passat do ex-deputado estava a uma velocidade entre 161 Km/h e 173 Km/h, quanto atingiu a lateral do Honda Fit em que estavam as vítimas Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida.
O ex-deputado vinha pela Rua Ivo Zanlorenzi, uma via rápida cuja velocidade máxima permitida é de 60 Km/h. De acordo com uma das reconstituições, o carro dirigido por Carli Filho chegou a “decolar”, atingindo o automóvel na metade da lateral. Na avaliação da promotoria, a velocidade foi determinante para que a colisão tenha ocorrido – já que, se o ex-deputado estivesse trafegando dentro os limites de velocidade, o desastre poderia ter sido evitado.
Álcool
Carli Filho havia bebido antes de assumir o volante. Um exame de alcoolemia feito pela Polícia Científica apontou que o ex-deputado estava com 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue: quase quatro vezes do que tolerado por lei. Esta prova técnica, no entanto, foi suprimida dos autos. A Justiça acatou a argumentação da defesa, que apontou que a amostra de sangue do réu foi colhida quando ele estava desacordado.
A questão, no entanto, deve ser abordada no júri. Além de testemunhas terem declarado que viram o ex-deputado bebendo vinho em um restaurante antes do acidente, o próprio Carli Filho assumiu que consumiu álcool. Em um vídeo publicado por ele em 2016, o réu pediu desculpas e demonstrou arrependimento, mas confirmou que havia bebido e, em seguida, assumido o volante.
Preferencial
Em vários momentos ao longo do processo, a defesa de Carli Filho usou a estratégia de apontar que ele trafegava por uma via preferencial. Por isso, as vítimas – que transitavam pela Rua Paulo Gorski – teriam provocado a colisão ao passar pelo cruzamento. No instante do acidente, o semáforo estava fora de operação, apenas com a luz amarela piscando.
A Promotoria, por outro lado, afirma que o Honda Fit em que as vítimas estavam chegou a parar no cruzamento e, como não vinha ninguém, começou a fazer a travessia. Mas os jovens teriam sido surpreendidos justamente porque o carro de Carli Filho vinha em altíssima velocidade.
Imagens e radares
Outro ponto que sempre se mostrou obscuro no caso foi o fato de o carro de Carli Filho não ter sido captado por radares ou câmeras de segurança da Rua Ivo Zanlorenzi. A família Yared chegou a pedir à Urbs a realização de uma perícia nos radares – o que nunca foi feito.
Imagens de uma câmera do um posto de gasolina que ficava à esquina do cruzamento e que estava focada na Ivo Zanlorenzi foi adulterada, segundo uma perícia contratada pela família de uma das vítimas. Sistemas de segurança de condomínios e de outros pontos comerciais da rua também não gravaram a passagem do carro de Carli Filho.
A inexistência de imagens de câmeras de segurança e de radares, além da suposta adulteração da gravação do dispositivo instalado no posto de combustíveis, fomentou, ao longo desses anos, alguns boatos ou “lendas urbanas”, segundo os quais Carli Filho participava de um racha. Apesar de as informações não constarem dos autos, a expectativa é de que o assunto referente às câmeras volte à tona, em momentos de maior emoção.
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